quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A JOVEM RAINHA VITORIA





Provavelmente a historia da Inglaterra seja a campeã de versões cinematográficas depois da norte-americana. Com vários filmes sobre Henrique VIII e Ana Bolena está no páreo a figura da Rainha Vitória, que se tornou o mais longo reinado inglês, disputado palmo a palmo como o da atual soberana Elizabeth II.


No filme “A Jovem Rainha Vitoria” (The Young Vitoria/UK,2009) que viveu no período de 1819/1901 e cujo reinado se deu de 1837 a 1901 é interpretada pela atriz Emily Blunt. É focalizada pela câmera do diretor Jean-Marc Valée no momento em que está sendo alvo da escolha de um marido. Trata-se de um enfoque interessante sobre a cultura de gênero da época mostrando como as mulheres (século XVIII/XIX) eram “negociadas” pelos pais para desposar quem estes achassem um “bom futuro” defendendo a noção do “único destino” (o casamento) para este gênero. Isto não era só um “privilégio” real: acontecia com as jovens burguesas, inclusive na sociedade brasileira.

A jovem Vitória era a real sucessora do tio William IV, podendo conquistar um príncipe de país amigo da Inglaterra. E o mais cotado era Albert, filho do rei Leopoldo da Bélgica, que a impressionou até pela timidez com que se apresentou pela primeira vez a ela. Quando o rei morre e Vitoria é coroada rainha, o casamento com Albert é uma realização natural. Mas há o problema da autoridade. A nova monarca não abdica de seus direitos reais. O príncipe-consorte quer ter os seus. Algum atrito é mostrado no filme de modo dissimulado, com uma seqüência em que é vangloriada a teima do homem em sair da alcova ao ser expulso, a esposa impor como rainha e ele não atender. Mas o casal acaba se afinando maravilhosamente quando Vitoria, grávida do primeiro filho (ela teve nove), vê o marido protegê-la de um louco opositor sendo baleado em uma viagem de carruagem aberta. O reinado torna-se reconhecido como um dos mais profícuos da Grã Bretanha. A importância de Vitoria no cenário mundial é tão expressivo que uma planta aquática da Amazônia ganha o seu nome: Vitoria Régia.

Nas entrelinhas do enfoque entre o jogo sucessório com os líderes políticos da Monarquia Parlamentar, com predomínio dos partidos Conservador e Liberal, as formas de tratar o poder evidenciam a trama entre os dois partidos com as lideranças inclinadas em desfazer hegemonias e minar as relações entre a Coroa e o parlamento. Narrativa interessante que demonstra como a subjetividade nas relações afetivas nem sempre combinam com a objetividade do casamento da futura rainha.

O filme foi vencedor do Oscar de melhor figurino com grande merecimento. De um modo geral, a reconstituição de época mereceu os maiores cuidados. A fotografia de Hagen Bogdanski e a direção de arte de Alexandra Walker, Paul Inglis e Chris Lowe refletem a o brilho da corte e apesar da atriz Enmily Blunt ser muito diferente das gravuras (e fotos) que ficaram da monarca inglesa (de estatura baixa e meio gordinha). Também o Príncipe Albert de Rupert Friend é mais um ator de cinema. E não era de se pedir muito realismo do roteiro de Julian Fellowes, mais preocupado com o mito do que com o realismo.

Outra vantagem do filme é que a sua dinâmica narrativa consegue sintetizar o assunto focalizado sem cair no aspecto de um folhetim. Também não pinta as personagens de heróis e heroínas com vilões à espreita. Tanto que não deixa detalhes do tipo que dispara sua pistola contra a rainha, mas procure evidenciar a falta de confiança do povo em sua rainha. É um episódio político acontecido e deixado de lado visto que a sequencia determina uma nova relação entre o par e resultará no novo formato do casamento real.

Naturalmente a pretensão da equipe - de roteiristas a diretor- não foi de retratar para pesquisadores a historia da Inglaterra de 1837 a 1901. Tampouco chega a ser um conto de fadas. Veja-se mais como uma referência histórica à monarca que impulsionou o seu império numa época de grandes invenções, de reestruturação de governos. O filme também ganhou o BAFTA de cenografia e guarda-roupa e foi candidato a maioria dos prêmios internacionais de cinema.

Procurem assistir na quinta e sexta exibição no Cine Estação.

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