segunda-feira, 15 de agosto de 2011

EM DEBATE: A ÁRVORE DA VIDA







UMA ÁRVORE DE GALHOS UNIVERSAIS

Luzia Miranda Álvares

Na antevisão da origem da matéria, desde a Grécia Antiga, com presença forte no Ocidente, a teoria dos quatro elementos – agua, terra, fogo e ar – atribuindo-se ora a um ora a outro os estados de mutação dessa matéria, dispõe sobre os processos da existência onde a vida e a morte são/estão energias que constróem o universo.

Dessa perspectiva, Terrence Malick elabora sua visão de mundo na conexão entre a natureza e a graça (a primeira idéia que ele traça quando mostra o nascimento de uma criança e seu processo de crescimento) ao explorar, em “A Árvore da Vida” (The Tree of Life, EUA, 2011), a amplitude do universo onde a força da primeira (natureza) é, ao mesmo tempo, bela e também feroz, é explosiva e também mansa, é multicolorida e ao mesmo sem cor, é fonte de amor, mas também fonte de ódio. Essas emblemáticas imagens vagueiam numa plasticidade exuberante e encontram, no que ele projeta como o dom da graça, a dádiva da vida concedida aos seres vivos com grande significado para a conexão com o amor que é o sentimento único que ele supõe para encontrar maneiras de chegar à felicidade.

São expressões aparentemente vagas para alguns, mas representam a grande ternura que o diretor demonstra para elaborar sua maneira de contemplar os que estão diante da descoberta existencial. Como as leis do universo repercutem no processo autoritário de um pai que mantém a familia sob violenta pressão e exige que seus filhos o amem? Onde a relação entre a criação do universo e a presença dos quatro elementos com aquela familia que se constrói, cria hábitos, afetos, dinâmicas próprias para enfrentar as crises e se vê, em certo momento, diante da morte de um deles? E as perdas materiais, profissionais, o crescimento dos filhos e de seus novos desejos, suas premissas extraidas do cotidiano familiar, como será no futuro? A assepsia da nova vida de um deles, na maturidade sem cor, com altissimo elan no individualismo vertical dos edifícios e das paredes lisas e vidros transparentes mostrando todos em caminhadas. Para onde?

Chega o momento do encontro e a praia ou o lugar da água, da terra, do ar, se transformam no fogo interno da energia que energiza quem se ama. A familia se reencontra. O mundo está mais próximo, eles estão felizes.

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CINEMA SENSORIAL

Pedro Veriano

Há um provérbio hindu que traduz a realização da vida de um homem pelo plantar de uma árvore, escrever um livro e gerar um filho. A família O’Brien de “A Árvore da Vida”, no enfoque do patriarca (Brad Pitt), estaria realizada se ele conseguisse ser um musico, como desejou na adolescência. Não conseguiu por questões financeiras e o emprego adquirido é por ele mencionado como o do naval que trabalha na construção de um navio mas não vê quando este navio chega ao mar. Instável, o emprego pode acabar. E a arrogância adquirida na educação da primeira metade do século XX gera certas animosidades, em especial em um dos 3 filhos.

Mas “A Árvore da Vida”(The Tree of Life), filme de Terrence Malick com fortes raízes biográficas, não conta a história de Mr. O’Brien nem de sua mulher(Jessica Chastain), nem dos rebentos(todos homens). No máximo retrata o que o autoritarismo causa no primogênito para onde tudo é exigido. O que o filme quer dizer é o que pode fazer sentir. O cineasta procura uma assertiva cientificamente correta: a sensibilidade independe da racionalização. Não se racionaliza qualquer sentimento. E o amor é o que constrói, guardado como o elemento mais próximo da perfeição que os seres vivos adquiriram na história da evolução das espécies.

A espécie de prólogo com imagens que se pode achar uma com concepção do “big bang” (a explosão inicial que gerou o universo), passando pelas primeiras células e animais aquáticos, ganha corpo com a percepção darwniana de que sobrevivem os mais fortes (um animal pré-histórico pisa na cabeça de outro) e ao chegar ao ser humano escora na constituição do núcleo familiar e tenta dimensionar o quanto este é abalado quando perde um membro.

Não interessa quem dos 3 filhos dos O’Brien morreu aos 19 anos. Percebe-se por flash-backs econômicos (pelo menos na montagem que ficou para os cinemas comuns) que não foi o mais velho, Jack (Sean Penn). Ele é visto adulto, cercado de prédios, de linhas retas que se tocam formando diversas estruturas que esmagam a sensibilidade, fugindo, quando pode, ou acha que pode (ao falar de amor a alguém), para bosques e rios, pedras e relvas,deixando-se focar muitas vezes em contre-plongée a seguir as árvores gigantescas que dão a idéia de como a evolução galgou espaço no planeta.

Malick fez um poema corajoso na tradução por imagem. Não há uma cronologia de seqüências, o tempo desimporta como desimportam as definições de sentimentos ligados às recordações. Tudo o que se vê é para ser sentido, não necessariamente entendido. Se alguém quiser achar alguma influencia, ou inspiração, pode notar o “2001” de Kubrick, também uma abordagem na escala evolutiva. Mas ali se racionalizava a origem das espécies até chegar ao super-homem de Nietzsche, citando-se (até na musica de Richard Strauss) o “Assim Falou Zaratustra”(Also sprach Zaratustra) . Com Malick não há uma citação filosófica especifica. As imagens que lembram os filmes de Norman McLaren querem apenas chegar ao cérebro do espectador como estimulo à sensibilidade, quem sabe à produção de endorfina. Nesse ponto o novo filme diverge completamente de experimentalistas de cinema como Godard. Ali se racionaliza o desmontar da linguagem fílmica; aqui se lança esse desmonte como um recurso emotivo. Malick poderia mostrar outras pessoas em outras situações se quisesse ficar no impacto da analogia entre a engenharia do ser e a constatação de abandono quando este ser está sendo produzido. Mas ele mostra a família, o amor filial. E aí consubstancia a importância do amor, falada por um personagem durante a abordagem.

Um filme diferente. Talvez o que chega mais próximo do cinema anímico, da tradução por imagem do que “só o coração vê”.

Difícil encontrar exemplo mais criativo. (Pedro Veriano)


2 comentários:

  1. Um blog simples e singelo... e, como dizia Aristóteles: "o que é simples, é eterno!"

    Retribuo com meu blog literário, o TROPICALEIDOSCÓPIO:
    http://clicluizlima.blogspot.com/

    E, um acerto, na ordem dos 3 últimos contos: 1-Um Rompimento; 2-Reencontro no Lennon Bar; 3- Kátia foi Passear no Bosque ...

    LUIZ LIMA / 16.08.2011

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  2. Um blog simpático e singelo ... e, Aristóteles já dizia: "o que é simples, é eterno!"

    Retribuo com meu blog literário: o TROPICALEIDOSCÓPIO
    http://clicluizlima.blogspot.com/

    E, um acerto, na ordem de leitura , dos 3 últimos contos: 1-Um Rompimento; 2-Reencontro no Lennon Bar; e 3- Kátia foi Passear no Bosque...

    LUIZ LIMA / 16.08.2011

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