segunda-feira, 1 de agosto de 2011

INCERTEZAS




Scott McGehee e David Siegel são diretores novos que não se filiam aos estúdios majoritários norte-americanos. Desconheço seu filme “Dead End” mas este “Incertezas”(Uncertainty/EUA,2010) salta aos olhos. É um exercício de estilo como não se vê, habitualmente, em nenhuma cinematografia. O titulo reflete um tema: a primeira sequencia é a de um casal que de forma monossilábica refere algo que está num processo decisório entre eles. Em seguida, a câmera capta-os na Ponte de Brooklyn decidindo para onde ir. Resolvem apostar numa moeda (cara ou coroa). Não se sabe o que dá nem o que vale cada efígie escolhida. Eles correm cada um para um lado da ponte. Em seguida o filme ganha matizes: verde e amarelo. Pensa-se de imediato que tem a ver com os semáforos. Mas falta o vermelho. E logo se passa a seguir duas tramas, tratadas simultaneamente e só discernidas porque em cada uma os personagens usam roupa de uma cor (a cor preconizada na espécie de prólogo). Com camisa amarela sabe-se que Bobby(Joseph Gordon-Levitt) achou um celular cobiçado por mais de uma pessoa. A cobiça é tanta que chega a ser avaliada em 500 mil dólares. Mas ao encalço do aparelho surgem estereótipos de terroristas. Ele e a namorada Kate(Lynn Collins), que está grávida e indecisa (também) com relação a levar ou não avante a gravidez, passam a fugir dos vilões mal-encarados. Entre seqüências de suspense surgem planos do casal na casa dos pais de Kate. Os problemas familiares são mostrados superficialmente. E a jovem, que é bailarina com ingresso em uma peça na Broadway, só conta o fato da gravidez primeiramente, à sua irmã. Nesse período os namorados acham uma cadela na rua e a levam consigo.
O filme termina com os casais nos dois tempos e na mesma ponte do inicio. As situações que vivem essas figuras em tempos distintos que não se sabe qual o primeiro a ser vivido (ou em vivência) não são solucionadas. Permanece a incerteza para onde seguirão. Planos alternados os mostram andando. A ponte é a metáfora. O caminho que a câmera observa de longe é a planta de um destino incerto. O titulo do filme.
Alguns críticos norte-americanos reclamaram as reticências que seguem a trama (ou as tramas). Poucos alertaram para a novidade formal. Não me lembro de ter visto uma narrativa tão criadora em muitos anos. E não me parece gratuita. Dois destinos para duas pessoas são observados simultaneamente como ilustração de uma incerteza que cerca essas pessoas desde o primeiro plano gravado. Em um deles a trama policial ganha corpo e prende a atenção do espectador. Mas o contraste com o outro destino, mais um romance que não se sabe como vai fechar, serve também de contraste. Os enamorados estão nas duas histórias bem unidos. Se esta união é suficientemente forte para um relacionamento mais forte, o perigo que enfrentam por conta do celular achado é um argumento a convencer. E não é só isso. A incerteza está, também, no resultado da união: o filho gerado há 11 semanas deve nascer? A família, pelo menos de um lado, é importante na decisão? Ou cabe uma volta ao espaço, não necessariamente no tempo, para jogar outra moeda na ponte? Ou simplesmente andar pela ponte até chegar a um “outro lugar”?
Um filme muito curioso. Não chegou aos nossos cinemas, mas está disponível em DVD nas locadoras (FOXVIDEO). É um exemplo muito sugestivo da cinematografia independente, a que se lança em festivais e circuitos exibidores menores e mais ligados ao que ainda se chama de “filme de arte”. Vale a pena conhecer.

DVDS MAIS LOCADOS(FOXVIDEO)
1. O Ritual
2. Eu Sou o Número Quatro
3. Rio
4. Sem Limites
5. O Concerto
6. Rango
7. As Mães de Chico Xavier
8. Jogo de Poder
9. Passe Livre
10. Esposa de Mentirinha

3 comentários:

  1. É, realmente o filme tem uma veia artística muito forte. Também achei surpreendente a metáfora da ponte, que por sinal já foi alegorizada na nossa literatura como em morte e vida severina. Assim como a utilização de planos me lembrou muito o Nelson rODRIGUES.
    Grato

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  2. Muito ruim, Muito muito muito ruim.

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  3. É isso, Marcelo, o filme instiga. Obrigada.

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