domingo, 28 de agosto de 2011

FILMANDO EM SUPER 8





A bitola Super 8 (mm) surgiu após a tecnologia 8 mm, simplesmente, e fez sucesso com os amadores nos anos 60/70/80. O tipo de filme captura o tema da produção de Steven Spielberg dirigida por JJ Abrams ora em cartaz: “Super 8”(EUA, 2011). No argumento e roteiro do próprio Abrams (de “Lost”) adolescentes filmam uma ficção em Super 8mm numa estação ferroviária. Na hora da filmagem um trem que passa por perto sofre um terrível desastre ao se chocar com um carro que parecia ter sido propositadamente colocado na frente da locomotiva. Os garotos (há uma menina entre eles, a “estrela” do filme em realização) escapam de morrer, correndo para longe do choque e deixando a câmera (ligada) no local. Depois eles sabem, pelo que foi gravado, que uma estranha criatura surgiu sobre os destroços do trem. E mais: o carro que se chocou foi dirigido por um professor da escola onde eles estudavam.

Abrams tem 45 anos. Spielberg 65. O segundo, mais do que o primeiro, viveu a moda do Super 8 e sempre se mostrou fã de ficção-cientifica (dele “ET” e “Contatos Imediatos do 3°Grau”). Mas o colega, vinte anos mais novo, também é aficionado do gênero (a série de TV famosa, “Lost” e longas como “Missão Impossível 3” e “Star Trek”) .Eles homenagearam o que viam e gostavam com uma história típica de sua juventude.

O enredo é absolutamente implausível. Quem for procurar lógica nos acontecimentos vai achar um tremendo abbsurdo. Mas nos 70 isso era o alimento preferido da imaginação dos “teens”. Uma nave caíra no deserto, a exemplo do fenômeno Roswell (um ovni que teria sido achado e seus tripulantes levados para estudos em base militar). No caso da pequena cidade do filme de Abrams, sabe-se que o exército está vasculhando espaços, avaliando os destroços do trem sem dar chance à policia municipal. Ele chega a incendiar os limites da cidade, provocando a evacuação dos habitantes, jogando a culpa num acidente. Mas os pequenos cinegrafistas amadores e suas estratégias particulares tendem a encontrar o ET caussador de toda a confusão. E realmente a narrativa do filme é multifacetada. Essa é a maior diferença de “Super 8” em relação aos exemplares de sci-fi antigos onde/quando o modo de tratamento narrativo do enredo era extremamente linear.

A novidade evidente me pareceu o comportamento do pequeno herói, Joe Lamb (Joel Courtney) que enfrenta o volumoso visitante do espaço cara a cara e consegue sensibilizá-lo. Nesse modo de pintar o personagem, os autores frisam a homenagem a eles próprios, aos pequenos fãs que se sentiam como astronautas ou descendentes dos tipos de quadrinhos como Flash Gordon .

Como cinema, o “retrô” voluntário abdica de condições mais coerentes com a época da ação e das produções por ele lembradas. O ritmo que deseja ser trepidante, com os meninos sempre correndo ora do perigo, ora como investigadores dos fatos, acaba cansando. Não há o preparo para o clímax. Nem se define perfeitamente certos detalhes como o papel do pai de Joe em relação ao pai de Alice (Ella Faningan, irmã de Dakota, uma revelação de atriz), como se precipita a conclusão amigável (o esperado “happy end”). Tampouco há embasamento na pintura do gigantesco ET. Como ele chegou à Terra, o que desejou fazer, como se portaria se fosse um invasor já que não lhe foi difícil decolar de volta a seu planeta, enfim, pequenas ligações que consubstanciam a trama. O que há é um esforço de direção de arte e elenco. E, como de hábito, os efeitos digitais, no caso, distantes do que se via há 40 anos.

Creio que os pais dos que hoje não perdem ficção do tipo vão lembrar seus anos verdes e gostar até muito mais do que os filhos. Se o objetivo era este, Abrams foi bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário