quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A LOJA DA ESQUINA




Da extensa filmografia de Ernst Lubitsch (1892-1947) evidenciam-se comédias de costumes que encantaram pelo menos duas gerações. “A Loja da Esquina”(Shop Around the Corner/1940) é uma delas.
Lubitsch era ator e diretor do cinema alemão, nascido em Berlim e, após realizar 41 filmes mudos em sua terra natal, emigrou para os EUA. A partir de um contrato com a Paramount, depois, integrando-se aos estudios da Metro Goldwin Mayrer e da Fox, realizou mais 34 títulos.

“A Loja da Esquina”(Shop Around the Corner/1940) é um desse filmes . Com roteiro de Samson Raphaelson baseado em uma peça teatral de Miklós Laszló, apegou-se à uma pequena intriga que se resume na convivência de personagens que aparentemente não se dão bem mas, na verdade,são apaixonados por literatura, amantes por escrever cartas que trocam usando outros nomes.

O filme ficou um período longo na fase de pré-produção, pois o diretor imaginou James Stewart no principal papel. Mas esse veterano ator era muito requisitado pelos estúdios, entretanto, Lubitsch preferiu esperá-lo por achar que só ele podia compor o tipo ao mesmo tempo cordato e nervoso, afável e temperamental, um complexo que o roteirista concebeu como o único capaz de viver o romance “epistolar” com uma garota empregada na loja onde o personagem de Stewart exercia as suas atividades de chefe de vendas.

A história tem lugar em Budapeste, antes da 2ª. Guerra Mundial. As ruas da cidade húngara foram construídas no estúdio. Bem verdade o espaço teatral foi quase que totalmente obedecido. Mas esses detalhes eram parte do chamado “Lubitsch touch” ou o jeito do diretor trabalhar suas comédias (cf. “Ninotchka”, de 1939, e, até mesmo, operetas como “Alvorada do Amor”, 1929, e “A Viúva Alegre”, 1934). Hugo Matuschek ( Frank Morgan) era proprietario de uma loja de artigos para presente e em certo dia, primeiro a contragosto, é seduzido por uma jovem, Klara Novak (Margaret Sullavan) que está em busca de uma vaga de atendente.

Todos os empregados sentem certa reação a mais uma pessoa competindo pelo lugar, principalmente o tipo de Stewart que desconhece ser a jovem a destinatária de suas cartas de amor. Ela também nada sabe, cultivando, pelo então colega certo desprezo pelo desempenho dele de funções de chefia. A rotina de trabalho na loja não revela apaixonados e sim contendores pelo melhor modo de atender aos clientes. Mas, certo dia, as cartas são reveladas, ou cabe a ironia de dizer que postas na mesa. O ambiente ideal para isso é o Natal e não é só o casal que sai da loja feliz da vida. Também o Sr. Matuschek, dono da loja, recém-saído do hospital e também amargando um problema afetivo, encontra um acompanhante na tradicional ceia natalina.

As comédias de Lubitsch eram muito engenhosas e sofisticadas, detinham certa dose de malicia em detalhes que marcaram o "Toque Lubitsch".Diziam os historiadores, que Grega Garbo, tida como atriz circunspecta e séria sempre se encantava com o humor desse diretor, como é possivel ver em “Ninotchka”.

Aluno desse cineasta, Billy Wylder aprendeu essa técnica. Mas ele mesmo dizia que “o mundo ficou mais triste sem Lubitsch” ao comparecer ao funeral do seu mestre.
Particularmente, “A Loja da Esquina” está entre os meus filmes preferidos. A questão social (tensão nas relações de trabalho), afetiva (os conflitos entre duas pessoas que se amam) e política (relação entre patrão e empregados) se acham bem delineados num modo de tratar essas situações. Tudo funciona numa história simples e alegre. E os detalhes cenográficos, como a preocupação com a cinegrafia, são capitais para que os atores mostrem, sem afetação, seus talentos.

O filme foi restaurado em 1999 e ganhou um prêmio por isso. A nova geração passou a conhecer o “toque” de um diretor que dominava o seu oficio e que pode ser chamado de “autor no cinema”. Depois deste filme, só guardo na lembrança o antepenúltimo que ele assinou: ”O Diabo Disse Não” (Heaven Can Waiy/1943). Da mesma forma que “A Loja da Esquina” o final tinha o jeito de apoteose teatral (e no caso, o titulo em português foi um lamentável ato cômico).

“A Loja...” vai fazer a Sessão Cult deste sábado no Cine Libero Luxardo às 16 h.

Nenhum comentário:

Postar um comentário