quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ALÉM DA VIDA





























Há muitas abordagens cinematográficas sobre a vida após a morte. Filmes como “Depois da Vida”(Wandafuru Raifu/Japão, 1998) de Hirokazu Koreeda, “Neste Mundo e no Outro”(A Matter of Life and Death/Ingl, 1946), “Que Espere o Céu” (Heaven Can Wait/EUA,1941) e a refilmagem do mesmo titulo original aqui traduzido como “O Céu Pode Esperar”(1978), “Um Visto Para o Céu” (Defending Your Life/EUA,1991) e “Amor Além da Vida”(When Drams May Come/EUA, 1998) mostraram concepções do pós-morte moldadas em diversos tipos de cenografia – das nuvens – que traduziam as antigas pinturas da representação do céu de algumas religiões; - a cidades construídas – como palácios góticos onde as almas transitavam como inquilinos até que fossem recrutadas para a reencarnação.

O filme mais interessante e, a meu ver, o mais criativo desse grupo de idéias expostas em imagens quase sempre elaboradas com algum esmero, foi o que o cineasta japonês Hirokazu Koreeda imaginou como uma espécie de sala de espera onde as almas a chegar são cadastradas e cada uma convidada a rememorar o melhor momento de sua passagem terrena para ser filmado. “Depois da Vida” ganhou prêmios e elogios da critica internacional. Da mesma forma em, “Neste Mundo e no Outro”, em tom de sátira, um céu burocrático evidenciava quem estava ou não sendo esperado no além e providenciava a reação a alguma falha (o caso do tipo protagonizado por David Niven) que escapara da hora de morrer.

Em “Nosso Lar”(Brasil, 2010) o cenário, por suposto, já estava delineado para o diretor Wagner Assis. Com base em um dos mais conhecidos livros psicografados por Chico Xavier, o tema refletia a experiência do espírito do médico André Luiz que, após a morte, se vê em uma trilha de dificuldades até alcançar o espaço onde se processaria a sua regeneração, ele que foi dado como suicida. Na fase de hospitalização para recuperação do impacto sofrido com o desencarne, mergulha no trabalho de ajuda aos que chegam ao “lar”. Ganha bonus e revê valores aprendidos na Terra.

O livro seduziu espíritas e, mesmo, não-espiritas. Todos queriam ver o texto em imagens. Mas o que se viu foi decepcionante. Porque como cinema não trouxe criatividade que superasse o “deja vu”. O espaço que é chamdo de umbral assemelha-se à representação do purgatório de vários credos, com sofrimento carnal (o espírito não está num outro plano?) que lembra a concepção plástica do diretor Vincent Ward em “Amor Além da Vida”. A diferença é que a pouca luminosidade do quadro ajuda na formação de silhuetas que subtraem as más interpretações do elenco secundário.

Depois, há o “design” de ficção-cientifica com torres que evocam cidades extra-terrestres ou futuristas como no caso do filme “Daqui a Cem Anos”(Things to Come/Ingl, 1936) de William Cameron Menzies. Cada alma em serviço usa laptop e o meio de transporte interno é um ônibus aéreo em tudo semelhante ao que Albert Brooks usou em “Um Visto Para o Céu”(1991).

Mas as influências de outros produtos cinematográficos poderiam surtir efeito na transcrição do original literário se boas interpretações transmitissem o drama de André Luiz ou como ele descreveu a nova realidade espiritual vivenciada. À exceção da máscara do ator Renato Prieto ninguém, nem mesmo atores consagrados como Othon Bastos, conseguem transmitir a emoção proposta transitando no artificialismo. O roteiro e a direção de Wagner Assis são muito fracos. Em que pese a produção requintada para os padrões nacionais esta foi utilizada de forma mecânica, sem inspiração, numa linha que exalta a falta de criatividade contida em outro filme de cunho espírita: “Bezerra de Menezes”(2008).

Creio que a seqüência da visita do espírito de André Luiz aos familiares, como bonus por sua eficiência no “lar” expressa o desencontro do filme com o conteúdo estético. Mulher e filhos do médico surgem como se estivessem esperando aquela aparição. Há um plano médio de todos juntos como que posando para uma fotografia. Risos e lágrimas pedem correspondência no potencial melodramático da narrativa.

Quem assistiu a “Chico Xavier” (2010), de Daniel Filho, esperava muito mais de “Nosso Lar”. Mas o tirocínio de Daniel não se transferiu para o colega. Lamantavelmente.

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