terça-feira, 14 de setembro de 2010

CLAUDE CHABROL




















No final dos anos sessenta, alguns críticos de cinema, especialmente os atuantes na revista “Cahiers du Cinéma”, passaram da teoria à pratica: começaram a dirigir filmes e com isso criar um movimento que se tornou um marco não só na cinematografia francesa mas na mundial: a “nouvelle vague” (ou a “nova onda”) com o objetivo de mudar o conceito de cinema criando uma renovação na linguagem, por suposto, bastante desgastada, e para fugir às regras do cinema comercial. Abominaram alguns veteranos cineastas da “casa” (Jean Delanoy, entre outros) e divinizaram outros como Jean Renoir, Robert Bresson, Jacques Tati e Jean Vigo. Históricamente, a expressão foi lançada pela jornalista, escritora, e ensaista Françoise Giroud, em 1958, ao referir-se aos novos cineastas franceses na revista “L’Express”.

Desse grupo, três se destacaram pelo pioneirismo: François Truffaut (1932-1984), Jean Luc Godard (1930) e Claude Chabrol (1930-2010).

Chabrol faleceu domingo último, aos 80 anos (completara em junho).

Seu inicio de carreira deu-se em atividades da área da publicidade, em seguida exerceu o jornalismo - atuando na redação da revista Cahiers du Cinéma e, também, na coluna de cinema, e, por fim, tornou-se diretor, além de produtor, roteirista e ator de filmes. Dirigiu 71 títulos, escreveu 54 roteiros e atuou em 53 películas. Há quem divida a sua carreira, a mais prolixa dentre os colegas, em três etapas: a inicial ou post-experimental, com filmes de baixo orçamento como “Nas Garras do Vicio” (Le Beau Serge/1958) e “Os Primos” (Les Cousins/1959); a menos rígida, que vai de “Landru, O Barba Azul”/1963) a “A Besta Deve Morer”(Que La Bête Meure/1969); e a etapa madura, iniciada com “A Mulher Infiel” (La Femme Infidéle/1969) e “O Açougueiro”(Le Boucher/1970).

Adepto do cinema e estilo de Alfred Hitchcock, tal como seu colega Truffaut, Chabrol foi além, filmando muitos enredos que o mestre inglês gostaria de ter filmado. “Um Assunto de Mulheres” (Une Affair de Femmes/1988) é bem hitchcoqueano. E foi adiante em ousadia, abordando originais literários de George Simenon como “Os Fantasmas do Chapeleiro”(Les Fantômes de Chapelier/1982). Filmou “Madame Bovary”(1991), o romance do escritor francês Gustave Flaubert que já teve muitas versões para o cinema, inclusive de Alexander Sokurov.

A versatilidade de Chabrol permitia-lhe inclusão de humor em alguns de seus filmes (embora não tenha abordado exclusivamente uma comédia). Esse modo de fazer cinema lhe abria as portas dos estúdios e distribuidoras daí a grande maioria de seus muitos filmes ter sido exportada, ganhando salas de lugares tão distantes como as nossas (distantes mais em termos de oportunidade de lançamento).

Depois da “partida” de Truffaut e Rohmer, restam poucos “nouvellevaguistas”. A rigor só Jean-Luc Godard, Jaques Rivette e Alain Resnais, este ultimo adotado pelo grupo pela posição histórica de sua obra (“Hiroshima Mon Amour” surgiu com a primeira “onda” em 1959) continuam ativos. Pode-se dizer que Louis Malle (1932-1995) também se engajou nessa tendência quando realizou “Ascensor Para o Cadafalso” (L’Ascenseur pour L’Echafaud/1958).

Em uma entrevista recente Chabrol comentou a falta de renovação de valores dizendo que “não se vê nova onda no mar”. Pode ser, não estamos aptos a confirmar alijados que ficamos de produções cinematográficas do mercado europeu e longe da grande fábrica norte-americana. O certo é que sentimos uma pobreza no cinema quando se sabe da despedida de artistas criativos. O bom dessa constatação é que as obras dos autores (e são desde que trabalham todas as facetas da realização do filme) ficam.
Podemos revê-las nas telas e na TV. De Chabrol, por exemplo, há uma grande parte de seu acervo em DVD. E também vale lembrar que ele descobriu atrizes como Isabelle Huppert e sua ex-mulher Stéphane Audran.

Uma curiosidade: Chabrol faleceu exatamente 30 anos depois de seu ídolo Alfred Hitchcock, falecido em abril de 1980.

Que mais filmes desse diretor, especialmente o que para nós permanece inédito, cheguem às locadoras de vídeo. E com certeza a nossa ACCPA vai homenageá-lo programando títulos de sua autoria para os espaços onde atua. Uma maneira de publicizar a obra dele ao público jovem que ainda não o conhece.



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