quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FANTASIAS & VIOLÊNCIA






Os exemplares da franquia “Resident Evil 4”(EUA.2010) cresceram em venda de ingressos ao invés de caírem. Esse é, portanto, o tipo do filme que se faz para ganhar dinheiro porque se sabe que não vai dar furo nas bilheterias. O “Resident Evil 3, por exemplo, deu mais renda do que o 1 e o 2.

Basicamente não há nada de novo a contar neste recente exemplar. Desde o primeiro filme da série o assunto é mostrar que o mundo foi contaminado por um vírus, produzido em laboratório e que teria escapado dos tubos de ensaio para as ruas, contaminando as pessoas, dizimando mais da metade da população do globo. O mais grave é que a morte, neste caso, não significava um repouso do corpo físico. Os cadáveres caminhavam e se alimentavem do sangue de quem ainda não fora contaminado. Idéia com base nas lendas de vampiros e nos zombies, em cinema tratados há longo tempo, ressaltando-se clássicos expressionistas e até experiências dos B-Picture como “A Morta Viva”(I Walked with a Zombie/EUA,1944) de Jacques Tourneur & Val Lewton.

A nova produção do casal Paul W. S. Anderson e Milla Javovich só apresenta uma atração especial: sua realização em 3D. Os mortos-vivos saltam para um primeiro plano com o objetivo de assustar aos incautos que ainda não aprenderam as manhas desse tipo de cinema. É possivel que o andamento dos lucros dê vasão a uma quinta etapa (e o final deste “Resident Evil 4” deixa margem para isso) com a mesma temática. Realmente há platéia que assume o “déja vu” como fórmula de diversão.

Outro filme descartável é “Salomon Kane, O Caçador de Demônios”(Salomon Kane/Inglaterra, 2009) que persiste em cartaz numa sala do circuito Moviecom. O roteiro é adaptado de uma história em quadrinhos de Robert E. Howard e trata de um guerreiro inglês que depois de muitas aventuras sangrentas quer redimir os seus pecados morando num mosteiro e tatuando uma cruz em sua costa. A ação se dá no século XVI e o personagem luta pela Inglaterra em terra asiática. Combatendo em um velho castelo depara-se com figuras demoníacas e se diz dominado por essas forças. Para salvar sua alma da condenação eterna passa a proteger uma família de camponeses, especialmente uma adolescente. Toda essa luta é apresentada de forma explicita, culminando com uma batalha em que o rival é uma concepção do diabo.

O aspecto plástico, muito bem cuidado, não salva o filme de seu argumento ingênuo onde a guarida na concepção de “blockbuster” é a única salvação (ou definitiva condenação). A rigor, o diretor Michael J. Basset, em seu terceiro trabalho, quer. Primeiramente, tomar o seu lugar entre os artesões benquistos na indústria. O filme pode impressionar pelas imagens bem trabalhadas, pela iluminação e efeitos digitais, mas não diz nada de novo na tradicional abordagem de uma dicotomia que serve ao cinema comercial desde que este se entende por isso. É o Bem em luta contra o Mal com as armas da fantasia. Resultado que só impressiona, atualmente, os aficionados de vídeo-game.

JOSEPH FARAH

Não poderia deixar de registrar o falecimento de Joseph Farah, um dos Farazinho que fizeram história (e até mesmo adentraram pelo caminho da lenda) em Belém e Mosqueiro nos anos 1950. Joseph e Alexandre, irmãos gêmeos, escreveram dois livros sobre as suas divertidas peripécias, mas não contaram tudo. Amigos que ficaram podem seguir o trabalho. Viveram um tempo de transgressões numa época em que fugir às regras sociais implicava em sofrer sanções. Em 1953 eles figuraram em um filme em 16 mm do Pedro Veriano intitulado “Um Professor em Apuros”. Ambos eram fãs de cinema e fizeram parte de um movimento que se organizou e exigiu reformas no tradicional Cinema Olímpia, numa época em que essa sala estava em precárias condições para receber o público paraense.
Joseph sucumbiu ante um infarto. Certamente deixou saudades e encerrou mais um capítulo das memórias dos que viveram os nossos “anos dourados”. Condolências à familia do amigo.

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