quinta-feira, 12 de maio de 2011

THOR






Os leitores dos quadrinhos da Marvel Comics estavam temerosos de o filme “Thor” ser dirigido por Kenneth Branagh, irlandês de 51 anos que desde jovem dedicou-se ao teatro shakespeariano levando ao cinema “Henrique V’, “Muito Barulho por Nada” e “Hamlet”. Como se portaria um intelectual que supostamente não apresentava nenhuma tendência a explorar a temática dessa arte?

Assistindo ao filme, uma superprodução que está sendo considerada como a abertura dos blockbusters do verão norte-americano, os ansiosos quadrinhistas ficaram mais tranquilos. Afinal Branagh não tem em sua filmografia de 14 títulos como diretor, apenas clássicos literários. Realizou, por exemplo, “Voltar a Morrer” (Dead Again/1961) de um roteiro original de Scott Frank, um suspense sobre temas espiritualistas, e, ainda, “Para o Resto de Nossas Vidas”(Peter’s Friend/UK 1992), também um roteiro original (este de Martin Bergman e Rita Rudner).
Mesmo com uma bagagem até certo ponto versátil, temia-se o interesse de Branagh pela chamada “cultura pop”. Mas se ele não se diz leitor de gibi, seu filme não frustra estes leitores.

Interessante, primeiramente, a linguagem. São inúmeros os planos oblíquos. Sabe-se que esses planos foram ligados, desde os primórdios da linguagem cinematográfica, à fantasia, ao irreal. No filme de Julie Duviver, “A Festa no Coração” (La Fête à Henriette/França,1953), a narrativa se faz em dois tempos: um real e outro que inventa a realidade (tomadas inclinadas). A comparação dá o tom de comédia desejado. Pois o que se percebe da idéia de Branagh é sua proposta de grifar o fantástico da história de Thor, o deus nórdico, filho de Odin, que se rebela contra a paz promulgada pelo pai com os “homens de gelo” e é exilado na Terra. Essa figura exibe-se como um mortal apenas estranho ou um “maluco” que briga por qualquer coisa e, forçosamente, quer informações sobre um objeto caído em um lugar ermo.


Na verdade, o martelo que lhe dá incomensurável força (o personagem é visto como o deus do trovão, e o martelo, Mjolnir, a sua arma invencível).
No roteiro de Ashley Miller e Zack Stentz, a partir dos quadrinhos de Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, o deus maior da mitologia nórdica, Odin (Anthony Hopkins), sofre um grande abalo após exilar o filho Thor (Chris Hemsworth) e presenciar a ambição do mais novo, Loki (Tom Hiddleston), que alimenta a guerra com os vizinhos seres do gelo. Aproveitando a ausência do pai, Loki se faz de mandatário de Asgard, a cidade dos deuses, chegando a congelar o guardião do reino, Heimdal. Mas não demora a vida de Thor numa pequena cidade do oeste dos EUA. Através da Ponte do Arco Iris (Bifrost) ele retorna a Asgard e enfrenta o irmão. Odin recupera as forças, elimina Loki, enquanto Thor se torna o seu futuro herdeiro. O único problema é que na passagem entre os mortais da Terra (Midgrad) o deus enamorou-se de uma cientista, Jane Foster (Natalie Portman). Fica a promessa de voltar a vê-la, talvez no próximo filme da Marvel que vai reunir todos os heróis da editora.

Compreendendo a ligação da mitologia nórdica com a grega e a ocidental cristã, adentrando pela cultura norte-americana, o filme aborda partes dessas manifestações. Seja no que se encontra no estudo desses deuses adorados pelos vikings, seja no western. Como na seqüencia em que Thor desafia um gigante de Asgard numa rua típica dos filmes de cow-boy, em ângulo semi-plongée onde, em grande plano, vê-se um personagem de cada lado, aproximando-se para o duelo.

Com uma direção que não segue as fórmulas pré-estabelecidas como se vê no gênero, “Thor”, o filme, salta do comum e chega a ser interessante. Há o que ver além da ação. E começa com uma prodigiosa direção de arte (a fantástica Asgard), uma fotografia competente (de Haris Zambarloukos) e uma edição(de Paul Rubell) que assume a origem de quadrinho sem se vulgararizar.

Não sou expert em quadrinhos, mas confesso que gostei do trabalho de Branagh.

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