quarta-feira, 25 de maio de 2011

A VIDA DE BARNEY




Baseado num livro bastante aclamado do escritor e ensaista canadente de Montreal, Mordecai Richler, o filme “A Minha Versão do Amor” (Barney’s Version/Canadá 2010) dirigido por Richard J.Lewis de um roteiro de Michael Konyves deve tudo ao intérprete. É o filme de um personagem: Barney Panofsky, interpretado por Paul Giamatti. Um homem aparentemente sem atrativos: não é bonito, não é rico, é explosivo, trata mal os seus amigos (e os amigos dos amigos).

Paul Giamatti compõe esse tipo que deve ter sido descrito em minúcias, mesmo com diferenças que sempre cabem em mais detalhes na literatura. Mas o que se vê no cinema chega a entusiasmar. Barney é visto quase em todos os planos, com a câmera focalizando-o ora em close, ora em travelling seguindo-lhe os passos, ora em plano médio realçando seu físico trabalhado pela bebida e fumo.

A narrativa não se faz em um simples “flash-back”. Navega no tempo, começando com Barney já idoso recebendo num bar o livro de um policial que o incrimina pela morte de um de seus amigos. O caso nunca foi resolvido e o corpo da vitima passou 30 anos para ser encontrado. Mas não é sobre este possível crime que se detêm a história. O que interessa é a pessoa de Barney, um assistente de programa de televisão, casado 3 vezes (uma vez viúvo, outra divorciado, outra abandonado embora se discutam razões e atitudes). O que essas mulheres viram numa pessoa sem atrativos passa por um comportamento onde se exterioriza uma franqueza pouco comum.

Logo no primeiro casamento revela-se como Barney é capaz de se sacrificar por seus atos, desposando uma prostituta que diz ter no ventre um filho dele (quando na verdade é de um amigo). Em seguida surge o papel de uma esposa judia (como ele), e rica (Minnie Drive em excelente desempenho). No dia das bodas ele conhece Miriam (Rosamund Pike), uma mulher que faz companhia a um convidado na sua festa de casamento e que lhe desperta uma súbita paixão. É à conquistar Miriam que o personagem se dedica e com quem tem um casal de filhos. A vida em comum por muitos anos não leva, no entanto, a um “happy end”. Em certa semana que passa sozinho, visto que Miram visitava o filho já adulto e longe de casa, Barney aceita uma aventura amorosa com uma ex-atriz de TV e este fato, confessado à Miriam, leva à uma indesejada separação que só se redime quando ele apresenta os primeiros sinais do Mal de Alzheimer.

Dustin Hoffman protagoniza o pai de Barney, um ex-policial judeu, viúvo, que leva a vida com aparente desprendimento, brincando com o filho “ranzinza” e cuidando do futuro na forma de arranjar um espaço para ele no túmulo da esposa já falecida. Este exemplo será seguido pelo conturbado herdeiro. Ele pede para ser sepultado com Miriam.

É interessante como o roteiro dedica espaço total a um tipo polêmico, aborrecido, na maioria das vezes insatisfeito com a sua realidade, mas, ainda assim, consegue expor certo humor e deixar no público uma impressão favorável. É uma maneira de não se deixar contaminar por uma forma de realismo (como muitos exemplos de dramas cinematográficos). Não sei até que ponto segue o livro original, mas, segundo comentários, o tipo do romance recebeu um tratamento de redução do que era desagradável ao ser adaptado ao cinema. Entretanto, ninguém o vê como antipático, em certos momentos extraindo do público sentimentos de piedade. E esta visão é funcional, amparada na seqüência semifinal em que o policial que investigou o desaparecimento do amigo de Barney, apesar de ser contestado em sua versão pela descoberta do corpo desse amigo com provas indiscutpiveis de que ele teve morte acidental, duvida da noticia e confirma o assassinato. Um corte e se vê o personagem na fase final de sua doença, ajudado pelo filho a fumar um charuto, afinal um de seus prazeres.

“Minha Versão do Amor” surpreende quem não soube, por exemplo, dos prêmios que o filme recebeu (como o Globo de Ouro a Paul Giamatti). É uma exceção chegar à Belém onde os cinemas se mostram exclusivos a filmes potencialmente comerciais. Recomendo.

Um comentário:

  1. Eu gostei muito. Uma história bem interessante. A atuação do talentoso Dustin Hoffman estava excelente assim como em Luck, seu mais novo trabalho. Ele é meu ator favorito!!

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