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terça-feira, 6 de julho de 2010
KHAMSA
Nesta produção da França e Argélia, de 2008, dirigida pelo franco-tunisiano Karim Dridi, o enfoque é sobre a marginalidade infanto-juvenil. O menor Marco ou Khamsa (Marco Cortes), de 13 anos, vive num acampamento cigano com até que o pai deixe o lar com outra mulher e a madrasta, Rita (Magalie Contreras) o abandone. Depois de um tempo fora de casa, o garoto volta e, da família,só encontra a avó, única pessoa que lhe dedicava atenção. Mas a mulher, idosa, está muito doente e não demora a morrer. Consequntemente Marco retorna ao relacionamento com a garotada do lugar, especialmente seus antigos companheiros, Coyote (Raymond Adam) e Rachitique (Mehdi Laribi), o primeiro já adentrado na marginalidade e o segundo desafiando a sorte mesmo tendo uma família que se interessa por seu destino.
Pequenos furtos levam Marco/Khamsa a um declive social. Seu amigo menos agressivo é Tony, um anão que se diz seu tio. Ele vive de apostas em brigas de galo e oferece ao garoto a chance de se associar a ele e quando ganhassem uma partida com boas apostas migrariam para a Espanha onde passariam a criar galos de briga. Mas Tony fica doente, Coyotte e Rachitike são presos, o jovem cigano tenta de alguma forma ganhar respeito de moradores da região atirando-se do alto de uma grua, no porto (cena que abre o filme na demonstração de coragem de outro personagem). Ainda assim o crédito que se dá a Khamsa é pouco. E não demora ele se envolver em um assassinato.
O filme de Karin Dridi é mais uma demonstração da permanência do neo-realismo em cinematografias como a africana. Neste exemplar mostra-se certo preconceito (com demonstração viva de animosidade) que existe entre descendentes árabes e ciganos. Mesmo que os últimos venham dos mesmos países. É um ponto cultural que faz isolar ainda mais o menino cujo nome evoca o número 5. O pai deixa a França com a nova amante e à saída faz um convite para Khasam ir com eles. Como o garoto recuse, ganha a chave do trailer onde pai e amante moravam. Mas o que fazer na “casa móvel” se não tem nem como se alimentar? Sem qualquer recurso ou apoio, Khamsa é seduzido pela marginalidade, pelos furtos cada vez mais audaciosos, pela violência que segue esses atos.
A semelhança com o brasileiro Pixote só não é mais explicita porque a favela paulista do herói do filme de Babenco parece mais miserável. Mesmo assim, a caminhada pelo crime é a mesma, com as amizades pontuando uma adolescência cruel. “Pixote, A Lei do Mais fraco (circulando em DVD) de Hector Babenco explora um tipo de evolução da marginalidade onde a única causa é a da classe social. O filme argelino tem uma forte conotação de discriminação racial quando duas etnias , mesmo no âmbito intermarginal, se enfrentam, inclusive, levando a assassinatos. O destaque entre os dois filmes também se dá pela falta de afetividade que é denunciada entre os familiares dos garotos e estes. A escalada ao espaço da rua não se dá pela vontade deles mas pela real ausência de quem os acolha.
Outro ponto marcante em “Khasma” é a ausência do Estado. Na circulação da câmera no meio daquele povo, não se vê nenhum acesso a uma atividade prevista pelas políticas de um governo que contemple as famílias. A polícia só chega quando os casos são extremos e para prendê-los.
Este é o sexto filme do Karin Dridi.. Todos, ao que se sabe, denunciam de alguma forma os a questão social em que são atores a pessoas vindas de outras regiões, especialmente de países africanos, para a capital francesa.
Impressiona como o diretor conseguiu desempenhos tão espontâneos como os de Marco Cortes(Khamsa), Raymond Adam (Pixote), Simon Abkarian(o pai), e Tony Fourman (Tony).
A desenvoltura lembra um documentário, arranhando a realidade com câmeras manuais que focalizam de enquadramentos objetivos ao cenário árduo por onde circulam tipos construídos no desamor.
Esses filmes franceses que tratam de imigrantes árabes são numerosos e muitos veiculados pela Cinemateca do país (ligada à Embaixada da França). Vê-los por aqui é uma forma de mostrar um tipo de cinema que normalmente não alcançaria o nosso circuito exibidor nem mesmo em DVD. Palmas, portanto, a produção que chega ao veterano Olympia e já se vai mostrar outro exemplar a partir de hoje. Trata-se de O Último Reduto”(Dernier Maquis/França, Argélia, 2008), direção de Rabah Ameur-Zaimèche. As 18h30.
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