segunda-feira, 12 de julho de 2010

SHREK PARA SEMPRE




Seria natural a exaustão da série animada sobre um ogro irreverente e sua amada que de princesa comum a conto de fadas assumia a forma da espécie dele e tornava-se esposa e mãe. Afinal, foram 3 filmes de Shrek. Mas este quarto, “Shrek Para Sempre”(Sherek Forever After/EUA, 2010) surpreende. E o faz não só porque foi editado em 3D, a nova atração dos estúdios norte-americanos, especialmente quando se trata de desenho animado. Surpreende porque o roteiro de Tim Sullivan e Josh Klausner traz novidades para o gênero. Desta vez, o ogro sente-se humilhado na sua concepção machista de “bicho papão” (o correspondente na nossa cultura do que propaga o mito nórdico). No enredo, a situação se processa desta forma: na festa de aniversário de seus 3 filhos Sherek avalia negativamente sua condição de marido e sua baixa-estima traduz-se como se ele se tornasse “uma caricatura” como diz. Afinal quem manda na casa é Fiona, a esposa, e ele só é chamado para emprestar um tom humorístico e exótico à sua figura grotesca.

Shrek salvara Fiona de uma torre guardada por um dragão. Mas para superar isso, o “vigarista” Rumpelstiltskin ludibria os pais da jovem conseguindo dar sumiço ao rei e a rainha da Terra do Muito, Muito Distante. O próximo passo ele pensa ser eliminar Shrek que, por casualidade, procura-o para tratar de seu problema de então. Com o ogro, ele inventa um contrato em que este cede um dia de sua vida em troca da autonomia pretendida. Só que o dia escolhido, sem Shrek saber, é o do nascimento do personagem. Resultado: o ogro não nasceu. E como não nasceu tudo mudou: Fiona agora é uma revolucionária independente, os filhos não existem, o amigo burro não o reconhece e até o Gato de Botas surge balofo e sem inventiva.

O tema do filme exalta a idéia de que as pessoas muitas vezes não avaliam corretamente o que fazem ou o que acontece ao seu redor. Não avaliam a felicidade que construíram com as rotinas do cotidiano. E a negação de tudo é a criação de um mundo fantasmagórico, a lembrar o de George Bailey (James Stewart) não-nascido, no clássico “A Felicidade Não se Compra” de Frank Capra. A diferença é que a motivação que faz Shrek negar sua vida é justamente a riqueza que ele possui com a sua família. E sem ele a esposa tomaria uma posição de revolta para fugir ao drama da prisão no castelo e os outros ogros da região se tornariam simples escravos, enfim, o cenário pitoresco virava um pesadelo.

A aventura do novo filme repousa na luta do tipo para retornar de sua decisão e literalmente renascer. Para dar ação capaz de atrair o público infantil há uma luta com o dragão carcereiro de Fiona na história anterior. O encanto registrado no documento assinado cessaria se Shrek recebesse um beijo de amor. Tudo de acordo com a fórmula dos contos de fadas. Mas, como beijar Fiona se ela não o reconhece e não se mostra romântica, preferindo comandar os ogros contra o tirano Rumpelstiltskin (que eles abreviam chamando de Rumple) ?

Claro que há final feliz, mas neste caso não é bem uma quebra de encanto. É um despertar. Acontece o beijo salvador e as situações críticas desaparecem do espaço físico, voltando a ação para a cena do aniversário dos filhos do ogro.
Divertido pela inventividade, o filme serve de fecho às histórias do herói grotesco. Mas no caso de Belém, ele ganha mais evidencia por registrar o lançamento da 3D. Fui à primeira sessão desse evento técnico atendendo ao convite que me foi enviado (e ao PV) pela Moviecom & Jovem PAM & Shopping Pátio. Não lembrava o quanto é fascinante o processo que torna as imagens próximas do espectador como se fosse um teatro. Desde o tempo de “Museu de Cera” e algumas experiências em fita VHS não assistia nada parecido. Uma qualidade de espetáculo que impressiona. Mas notem bem: de espetáculo.

O bom filme prescinde desse artefato que trabalha a forma. Já se disse isso muitas vezes, embora não se endosse aquela tese de Peter Bogdanovich (“os melhores filmes já foram feitos”). Não é isso: cinema é inteligência de quem realiza para quem assiste. E por esta qualidade gostei de “Shrek Para Sempre”.

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