sexta-feira, 8 de abril de 2016

A FALA DOS FORTES


Judy Hopps, a coelhinha que realizou o seu desejo. Em Zootopia.


A exemplo de alguns desenhos animados que evidenciam a figura feminina como se vê em “Frozen”, “Valente”, “Pocahontas”, “Mulan” “Malévola” entre outras, a Disney, que antes não se dispunha a ver nessas personagens um veio de tramas interessantes variando do status quo onde imperava o tipo clássico da boa menina e da mocinha obediente, hoje está mostrando um outro lado desse gênero e até evidenciando o verdadeiro amor entre as próprias mulheres. Que agora não estão curtindo mais o príncipe cujo destino feminino era tão esperado para serem felizes.
Em exibição, “Zootopia – Essa Cidade é o Bicho” (EUA, 2016) que trata de um mundo povoado por mamíferos antropomórficos, a coelhinha Judy Hopps, habitante com seus pais agricultores no meio rural, revela-se uma adolescente fora dos padrões esperados, sonhando em seguir a carreira de policial e não reproduzir o trabalho da família na plantação de cenouras. Os pais relutam mas seguem o gosto da filha e então assistem a sua formatura numa escola especializada e por ser a primeira da turma – vencendo os mais forte do que ela – é indicada para um posto da vizinha cidade de Zootopia. Nesse novo lugar, ao apresentar-se ao seu chefe este distribui as atividades para todos os seus colegas enquanto para ela só há mesmo o de guarda de trânsito, haja visto que o chefe não vê o potencial da nova funcionária.
Na convivência nessa função, como no tempo em que era aluna na academia de polícia, a coelhinha terá que se superar nos exercícios físicos impondo suas estratégias inteligentes para mostrar que está acima do que lhe pedem. Conhece Nick Wilde, um raposo ligado a falcatruas que consegue se tornar seu parceiro, criando com ele as estratégias que o subtraem do lugar de onde vinha (quebra-se o paradigma do congelamento de valores). Entre avançar na odisseia nas ruas e superar qualquer entrave Judy investe no que quer ser mas, ao analisar publicamente a relação entre o tempo de bonanças e a fase de crimes na cidade faz observações inconvenientes que tendem a separar os bichos entre os predadores maus e os outros dóceis há muito suprimido entre eles. Ou seja eles viviam em harmonia superando o comportamento animalesco ancestral de antes. Ela enfrenta esse obstáculo recolhendo-se em observações de sua própria consciência considerando que pode contribuir em alguma coisa para mudar o mundo mas nem tudo é possível. Rever comportamentos é o meio para a superação de erros discriminatórios.
A visão de mundo explorada pelo filme aponta para as analogias com a diversidade social onde se evidencia a ideologia de gênero, a pluralidade étnica, a orientação sexual começando pela defesa à utopia de uma realização pessoal. Se nesse caminho tudo foi um pouco problemático para Judy, no entanto, ao entrar no bairro-distrito de Zootopia a administração das diferenças ganhou mais peso. E do mar harmônico entre feras e presas uma só observação inconsequente criou o conflito. Assim, foi preciso que a lucidez dos paradigmas discriminatórios se tornasse consciente para a avaliação de que às vezes, as boas intenções nem sempre chegam à uma interpretação equilibrada.
Quando Judy informa que é devido a condição biológica que os predadores criminosos que ela havia capturado tinham se tornado violentos e hostis pelo instinto animal alguns se convenceram de que ainda eram ferozes e o conflito se restabeleceu. Constrói-se, então, uma alta tensão entre o determinante biológico – o DNA vai instigar a violência – e a dinâmica cultural – a ética civilizatória torna a convivência social mais harmônica nos comportamentos relacionais.
Dessa forma, a própria coelhinha é exemplo disso – sendo fêmea, tamanho reduzido, escolhendo uma profissão fora dos seus moldes físicos e de gênero – consegue operar a mudança nas regras sociais que a reduziam a um modelo convencional.
Na caricatura do mundo de pessoas e adultas há muita alusão. Pode-se exemplificar com um plano muito simples após o conflito criado por Judy: um animal pequeno com sua cria vai num ônibus ao lado de um tigre. Mas o (ou a) pequeno(a) segura o seu bebê com medo do “bichão” que na verdade está pensando em outra coisa. Nesse tom se critica a diferença de classe e raça, como se adianta em corrupção policial, em relativismo do que se tenha como “mutreta” (o caso do raposo com o pirulito) e até chegar na descontrolada ação na floresta, com a poluição sendo alvo de verduras toxicas capazes de desenfrear instintos maléficos (e no caso se ironiza o tamanho dos animais ou sua postura).
De uma feita Judy afirma que “o maior dos medos é ter medo”. Também há uma nova heroína no espaço Disney. Isto é muito bom. Há muito mais a ver do que bichinhos amáveis contra lobos maus.
Não se pode dizer que o filme revele com profundidade alguns assuntos, entretanto, ele levanta uma contraposição aos discursos discriminatórios do momento atual, enquanto animação infantil, como o preconceito, a homofobia (no caso, a animalfobia), o racismo, a diferença de classe e gênero deixando de lado as sínteses românticas que têm validado as representações no cinema.
O roteiro do diretor Byron Howard e mais 8 sócios, consegue o que no âmbito Disney era difícil de mostrar. Talvez a presença de John Lasseter na produção dê ao filme um toque da PIXAR onde se vê animação não só para crianças.

Filme imperdível.

Um comentário:

  1. Alex Barata da Silva8 de abril de 2016 às 07:13

    A Merida de Valente é a que mais me encanta, pois luta com todos os perfis da princesa para casar.

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