sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

CINEMA, SEMPRE CINEMA ... REVISÃO DE FILMES...MULHERES

 

Claire Bloom  e Anthony Hopkins em "Casa de Bonecas" (EUA, 1973

A arte cinematográfica tem manhas, tempo sem ordem na avaliação dos temas argumentados que ontem não prestamos tanta atenção e hoje evidenciam assuntos que lemos, estudamos, aprendemos no dia a dia, convivendo na prática com outros olhares. Assiste-se, anos depois, a um filme ao qual não se deu tanta importância, e daí reconhecem-se equívocos de avaliação/interpretação da primeira vez que assistimos.

Esta semana assisti a uma das versões de “Casa de Bonecas” (1973, EUA), baseado no romance norueguês de Henrik Ibsen (1828-1906). O filme tem a direção de Patrick Garland, estrelado por Claire Bloom (dia 17/02 completou 92 anos), Anthony Hopkins, Ralph Richardson, Denholm Elliott, Edith Evans, dentre os principais.  Por sinal, nesse ano, 1973, houve uma outra versão com Jane Fonda no papel da personagem Nora Helmer, dirigido por  Joseph Losey.

A confidência neste post é considerar o que no argumento inicial referi sobre os diferenciais do ontem e do hoje ao assistirmos certos filmes. Não vou tratar de Ibsen nem de sua obra, nem analisar a narrativa, mas apontar o que deixei de ver na primeira vez que assisti ao filme. O enredo trata de um casal da classe social média alta, branco e as estratégias de uma convivência entre marido e mulher e as formas de sobrevivência no acesso aos recursos para manter-se nesse nível social. E tudo o que se observa são as dificuldades de Nora em guardar segredo sobre os empréstimos financeiros que consegue para garantir o marido no emprego e à medida que as sequências do filme seguem para apresenta-la como afável com todos, atenciosa com a educação dos filhos, subserviente com o marido, percebe-se que essa é uma atitude que ela julga ser de amor entre os dois.

O terceiro ato (percebem-se 3 eixos da narração) demonstra o desvelar dos segredos de Nora à sobrevivência profissional do marido. Na primeira vez que assisti ao filme essa argumentação passou totalmente despercebida. As atitudes agressivas e violência doméstica que no final se evidenciam contra ela encontram-na em silêncio, ouvindo a sua desvalorização como mulher. Nesse instante ela sai de cena. Ao retornar, a sequência mostra-a preparada para deixar a casa, marido e filhos. E nesse ponto, toda a argumentação silenciada de anos de convivência na violência e na subserviência vêm à tona em suas palavras, em suas denúncias ao ser questionada que vai ser mal falada como esposa, mãe e dona de casa. Ironicamente ela devolve o tratamento de culpa e diz ao marido que realmente ela não sabe quem é, vai procurar saber. Percebe-se uma outra Nora, consciente e observadora das regras a si impostas as quais vai romper. Ao perdão agora solicitado pelo marido agressor e as promessas que este lhe faz não cruzam mais a incerteza de Nora informando-o, finalmente, que não o ama mais.

Amei a Nora do século XIX. Que em meio ao século XX deixei de ver.

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