Hank e Dory - dois objetivos diferentes na mesma jornada
Tenho dedicado pouco
tempo para a opinião sobre filmes. Mas tenho assistido a tantos e de tantas
nacionalidades que certamente daria ao menos uma página a cada um. A elaboração
de outros textos e outras atividades tem tomado a maioria dos meus horários. Justificativa?
Não preciso. Evidencio as demandas de algumas pessoas, sem me desculpar. Também
não preciso. Aos setenta e seis não careço desse pretexto. Mas ainda não
aprendi o método de reduzir um texto para cinco ou dez linhas sobre determinado
assunto daí os custos da escrita sistemática. Posso até exercitar. Mas fujo de
meu modo de ser.
O prazer em assistir
a uma animação, neste estágio da vida, permanece vivo. “Procurando Dory”
(Finding Dory, EUA, 2016) entrou no páreo. Fazendo o lazer dos que ficaram na
cidade neste mês de férias, o filme já levou até meu bisneto Lucas para uma
sessão. No meu caso, uma tarde circulando no Shopping Bosque Grão Pará não
poderia me afastar das salas de cinema. Liberdade e opção. Lojas ou Dory. Esta
ganhou.
A Pixar, que o
público de cinema já inscreveu como grande produtora da animação digital
norte-americana (desde “Toy Story”, 1995) mesmo se transferindo (capital versus
capital) para a Disney, deu continuidade às aventuras aquáticas inter e
intrapeixes iniciada com “Procurando Nemo (2003) capturando agora uma das
figuras que circularam à procura do filho de Marlin em todos os espaços
aquáticos que pudessem esconder o peixinho perdido. Assim, em meio àquele
momento em que os diversos tipos de peixes-criança vão para a escola (sob
ensinamentos do professor – uma arraia) estando Dory no meio, esta aprende com
os pais a memorizar mais atentamente as coisas que lhe são ensinadas, pelo
esquecimento súbito que a aflige, e ao seguir nadando esquece o caminho de
volta ao sair da proximidade deles. Na busca pelo lar perdido, “corre o mundo”
das águas, percorre múltiplas situações em que as diversas espécies de
habitantes do mar circulam. Através da memória-relâmpago capta alguns momento
de sua vida anterior (flashback) e vai encadeando e narrando aos amigos
parceiros na descoberta dos pais. E nessa odisseia agrega as espécies mais
diversas, acompanha os malabarismos às vezes impossíveis de reconhecer nas
estripulias de um polvo, de uma baleia, de uma beluga, de uma tartaruga e por ai
vai a trupe que arrasta ao redor de si a bela peixinha azul procurando seu
lugar de moradia.
Em “... Dory”, o
diretor Andrew Stanton (que há treze anos realizou “...”Nemo”) cria analogia
com o primeiro, mas neste caso, é uma filha a procura dos pais. E nessa procura
a peixinha se torna um ícone de muitas travessias que terá que fazer para
entender, muitas vezes, o que está fazendo e/ ou para questionar que não sabe
falar baleiês. Lida com o passado expressando o que sente, às vezes
interpelando-se nas dúvidas sobre se segue seu instinto ou se prossegue em meio
às informações na busca pelo lar aonde deixou os pais. Que nessa jornada da
filha não se juntam aos personagens da narrativa, somente aparecendo nos
flashbacks, daí estes efeitos de linguagem se constituírem em recortes importantíssimos
do filme. Deles surgem as imagens criadas por Dory que se posiciona em tomar
suas decisões de chegar até suas origens. Nesses takes evidencia-se a sua necessidade
em criar a identidade de filha, reconhecendo-se perdida mas considerando-se amada.
Procura superar qualquer situação angustiante no momento do esquecimento
atendendo o que os pais lhe haviam dito: “continue a nadar, continue a nadar”.
A aventura de Dory se
confronta com momentos interessantes: a multiplicidade de personagens que entram
e saem de cena, mas deixam a sua marca na odisseia da jornada (ex. as duas
focas sobre a pedra, um lado cômico da animação); a parceria da peixinha com o
polvo, Hank, um transformista memorável, que se camufla diante da adversidade,
e que se torna o grande interessado em que Dory lhe repasse o cartão de
identificação recebido ao ser levada para o parque aquático para um processo
temporário de melhorias até “receber alta”; o diferencial nos objetivos dos
dois - Hank pretende viver em cativeiro ou seja, permanência no parque; Dory
espera ser lançada no mar livre, para chegar aos pais.
Família, amizade,
confronto com mundos obscuros e enfrentamento ao desconhecido, ao esquecimento,
às descobertas para além das estratégias em fugir dos obstáculos, portanto,
construir objetivos nem que seja o manter-se na filosofia parental (nadar,
nadar, nadar) que edita a fortaleza do ser qualquer que este seja. É a Disney
que está dizendo isso? Importa o modo como construir essas ideias. Quebrando
vínculos com o medo, a covardia, a mesquinhez.
A beleza da estrutura
fílmica (roteiro e direção), nas imagens, no décor, na trama divertida que
orbita na argumentação, confere aos roteiristas (Stanton e Victotia Strouse) a
credibilidade de um bom trabalho.
Muito boa análise. Adorei.
ResponderExcluirO filme propicia as formas analíticas do processo de "correr mundo", de vivências, de encontros no esquecimento e nos desencontros nas lembranças. É realmente muito bom.
ResponderExcluirvale a pena mestra Luzia ver Procurando Dory, é uma animação que ensina sem ser didatica,e com uma facilidade que as todos entenden inclusive as crianças.
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