segunda-feira, 25 de julho de 2016

PROCURANDO DORY



Hank e Dory - dois objetivos diferentes na mesma jornada

Tenho dedicado pouco tempo para a opinião sobre filmes. Mas tenho assistido a tantos e de tantas nacionalidades que certamente daria ao menos uma página a cada um. A elaboração de outros textos e outras atividades tem tomado a maioria dos meus horários. Justificativa? Não preciso. Evidencio as demandas de algumas pessoas, sem me desculpar. Também não preciso. Aos setenta e seis não careço desse pretexto. Mas ainda não aprendi o método de reduzir um texto para cinco ou dez linhas sobre determinado assunto daí os custos da escrita sistemática. Posso até exercitar. Mas fujo de meu modo de ser.
O prazer em assistir a uma animação, neste estágio da vida, permanece vivo. “Procurando Dory” (Finding Dory, EUA, 2016) entrou no páreo. Fazendo o lazer dos que ficaram na cidade neste mês de férias, o filme já levou até meu bisneto Lucas para uma sessão. No meu caso, uma tarde circulando no Shopping Bosque Grão Pará não poderia me afastar das salas de cinema. Liberdade e opção. Lojas ou Dory. Esta ganhou.
A Pixar, que o público de cinema já inscreveu como grande produtora da animação digital norte-americana (desde “Toy Story”, 1995) mesmo se transferindo (capital versus capital) para a Disney, deu continuidade às aventuras aquáticas inter e intrapeixes iniciada com “Procurando Nemo (2003) capturando agora uma das figuras que circularam à procura do filho de Marlin em todos os espaços aquáticos que pudessem esconder o peixinho perdido. Assim, em meio àquele momento em que os diversos tipos de peixes-criança vão para a escola (sob ensinamentos do professor – uma arraia) estando Dory no meio, esta aprende com os pais a memorizar mais atentamente as coisas que lhe são ensinadas, pelo esquecimento súbito que a aflige, e ao seguir nadando esquece o caminho de volta ao sair da proximidade deles. Na busca pelo lar perdido, “corre o mundo” das águas, percorre múltiplas situações em que as diversas espécies de habitantes do mar circulam. Através da memória-relâmpago capta alguns momento de sua vida anterior (flashback) e vai encadeando e narrando aos amigos parceiros na descoberta dos pais. E nessa odisseia agrega as espécies mais diversas, acompanha os malabarismos às vezes impossíveis de reconhecer nas estripulias de um polvo, de uma baleia, de uma beluga, de uma tartaruga e por ai vai a trupe que arrasta ao redor de si a bela peixinha azul procurando seu lugar de moradia.
Em “... Dory”, o diretor Andrew Stanton (que há treze anos realizou “...”Nemo”) cria analogia com o primeiro, mas neste caso, é uma filha a procura dos pais. E nessa procura a peixinha se torna um ícone de muitas travessias que terá que fazer para entender, muitas vezes, o que está fazendo e/ ou para questionar que não sabe falar baleiês. Lida com o passado expressando o que sente, às vezes interpelando-se nas dúvidas sobre se segue seu instinto ou se prossegue em meio às informações na busca pelo lar aonde deixou os pais. Que nessa jornada da filha não se juntam aos personagens da narrativa, somente aparecendo nos flashbacks, daí estes efeitos de linguagem se constituírem em recortes importantíssimos do filme. Deles surgem as imagens criadas por Dory que se posiciona em tomar suas decisões de chegar até suas origens. Nesses takes evidencia-se a sua necessidade em criar a identidade de filha, reconhecendo-se perdida mas considerando-se amada. Procura superar qualquer situação angustiante no momento do esquecimento atendendo o que os pais lhe haviam dito: “continue a nadar, continue a nadar”.
A aventura de Dory se confronta com momentos interessantes: a multiplicidade de personagens que entram e saem de cena, mas deixam a sua marca na odisseia da jornada (ex. as duas focas sobre a pedra, um lado cômico da animação); a parceria da peixinha com o polvo, Hank, um transformista memorável, que se camufla diante da adversidade, e que se torna o grande interessado em que Dory lhe repasse o cartão de identificação recebido ao ser levada para o parque aquático para um processo temporário de melhorias até “receber alta”; o diferencial nos objetivos dos dois - Hank pretende viver em cativeiro ou seja, permanência no parque; Dory espera ser lançada no mar livre, para chegar aos pais.
Família, amizade, confronto com mundos obscuros e enfrentamento ao desconhecido, ao esquecimento, às descobertas para além das estratégias em fugir dos obstáculos, portanto, construir objetivos nem que seja o manter-se na filosofia parental (nadar, nadar, nadar) que edita a fortaleza do ser qualquer que este seja. É a Disney que está dizendo isso? Importa o modo como construir essas ideias. Quebrando vínculos com o medo, a covardia, a mesquinhez.

A beleza da estrutura fílmica (roteiro e direção), nas imagens, no décor, na trama divertida que orbita na argumentação, confere aos roteiristas (Stanton e Victotia Strouse) a credibilidade de um bom trabalho.

3 comentários:

  1. O filme propicia as formas analíticas do processo de "correr mundo", de vivências, de encontros no esquecimento e nos desencontros nas lembranças. É realmente muito bom.

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  2. Alex barata da Silva25 de julho de 2016 às 06:39

    vale a pena mestra Luzia ver Procurando Dory, é uma animação que ensina sem ser didatica,e com uma facilidade que as todos entenden inclusive as crianças.

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