segunda-feira, 26 de setembro de 2016

DO BULLING FAMILIAR À COMÉDIA HUMANA

Marcus Krojer, 11 anos, é Sebastian, o garoto que tem medo de morrer.

O título original do filme (em exibição no Olympia, desde 22/09) está em alemão – “Wer Früher Stirbt Ist Länger Tot” – mas a tradução em português dá mais informações sobre o que o mesmo espera tratar: “Quem Morre Antes Está Morto Há Muito Tempo” (é isso mesmo, Ernani Chaves?). Se o público vai ver como comédia, há situações que levam a isso. Mas o centramento do tema é sobre a culpa e o medo da morte e a ida aos infernos e purgatório, criações religiosas da Idade Média para amedrontar os cristãos que cometem “pecados”, e o seu destino após a morte.
No caso do filme, o garoto Sebastian (Marcus Krojer), de 11 anos, que mora com o pai e o irmão mais velho, na expectativa de tirar sua bicicleta que está sob um caminhão, ao mexer na marcha do carro cria sérios problemas matando alguns animais domésticos que estão naquele lugar. A infringência não fica impune, pois ele sofre repreensões do pai, e quanto ao irmão, é mais violento, impõe pedido de desculpas do irmão para seus coelhos mortos e, como vingança acusa-o de ser o responsável pela morte da mãe, inclusive mostrando a coincidência das datas do nascimento dele à morte dela. Sebastian havia sido informado de que a mãe morrera num acidente.
Esta culpa se mantém na mente da criança, causando-lhe sérios problemas psíquicos em pesadelos noturnos e criando mecanismos para reaver a paz e não ir ao inferno pelo crime. Essa ideia do castigo eterno é repassada pelos atores de um teatro que ensaiam suas peças no bar do pai de Sebastian e ele ouve as frases dos personagens da peça. Entre noites mal dormidas e o vai-e-vem ao cemitério pedindo luzes à alma da mãe sobre o que fazer para sair desses impasses, o garoto vai seguindo seus dias. Algumas situações são hilárias outras nem tanto, mas aos poucos vão se restabelecendo os caminhos possíveis de sua “salvação” das penas aos mortos. Ele tem horror de morrer e ir para um desses lugares criados para os “culpados”. Uma resolução final leva-o a recriar-se na família e sentir-se amado pela alma da mãe.
O expectador deve avaliar que a dita “comédia” no filme alemão é marcada pelo bulling familiar, uma situação que hoje se vê com frequência como sendo “modos de cultura doméstica”, a imposição de certos castigos e/ou crenças em episódios míticos que embolam o entendimento das crianças tornando-as, muitas vezes, um adulto com várias neuroses. E ninguém leva em consideração que esse adulto trouxe da raiz o germe desses medos, dessa forma de viver uma situação que foi implantada em sua mente infantil. Se formos avaliar o filme como um todo há mais drama do que comédia no percurso de Sebastian em suas preocupações porque o que predomina é a ideia da morte, do medo, da culpa.
Este filme é o primeiro longa-metragem do diretor Marcus H. Rosenmüller (como Marcus Hausham Rosenmüller) com o roteiro do diretor e de Christian Lerch. A linha narrativa tende ao modelo norte-americano, sem que isso se torne um defeito porque o cinema alemão dá seu retoque ao que lê no abecedário cinematográfico de uma boa produção.
Os atores estão muito bem, principalmente o principal intérprete, Marcus Krojer, cuja filmografia marca sete filmes em que atuou, estando hoje com 22 anos. Nesse filme ele era estreante e demonstra domínio de desempenho. Hoje ele está mais dedicado às séries de tevê.

“Quem Morre Antes Está Morto Há Muito Tempo”(2006) exibe-se entre nósaté o próximo dia 05/10 e tem o apoio do Instituto Goethe/SP, tendo sido destaque do Festival de Cinema Alemão de 2007. Entre o trágico e a fantasia superpõe-se uma realidade do mundo infantil. Sessão às 18h30min (exceto domingos e feriados às 17h30min). Entrada franca. 

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