sexta-feira, 9 de março de 2012

OS GAROTOS FAZEM A DIFERENÇA

Thomas Doret e Cecile De France em "O Garoto da Bicicleta"

As estréias nos cinemas comerciais não animam: “John Carter Entre 2 Mundos” e “O Pacto”, a primeira um blockbuster da Disney baseado numa história do criador de Tarzan, Edgar Rice Burroughs, endereçada às crianças (obviamente em 3D); e a segunda mais um filme de ação com Nicolas Cage, ele interpretando um marido que depois de assistir sua esposa ser assaltada arranja uma segurança que lhe pede em troca favores absurdos. O lançamento mais promissor é “L’Apollonide, Os Amores da Casa de Tolerância”, filme francês que foi projetado no Festival de Cannes e trata de um bordel parisiense, nos primeiros anos do século passado. No Cine Libero Luxardo.

Para ver sem falta há dois filmes já em cartaz, interpretados por adolescentes: “O Garoto da Bicicleta” e “Poder sem Limites”.

“O Garoto da Bicicleta”(Le Gamin au Veio) marca a volta dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne a problemas infanto-juvenis (deles “Le Fils” e “A Criança”). O roteiro, assinado pelos diretores, procura uma linha introspectiva fugindo do melodrama, na visão profunda do comportamento de um menino órfão de mãe e abandonado pelo pai. Ao recusar este abandono, persegue a figura paterna encontrando, no caminho, uma cabeleireira que o cerca de atenções e se torna quase uma tutora, desmontando, aos poucos a intolerância e aversão do garoto  ao relacionamento com outras pessoas. Esta missão não é fácil e a luta maior prossegue quando o personagem se mete com traficantes e comete um roubo.

A narrativa usa pouca música incidental (apenas em um momento ouve-se a 5ª Sinfonia de Bettohoven), câmera insistentemente manual, e a evidência da bicicleta como a relíquia herdada pelo genitor e, afinal, a marca de um tempo menos sofrido. O pequeno intérprete, Thomas Doret, faz a festa. Mas as honras também cabem a Cecile De France, atriz que Clint Eastwood conduziu na cena de um tusiname em “Além da Vida”. Ela compõe a mulher decidida que prefere assumir a condição de desamada a deixar escapar a chance de fazer alguém feliz (ou menos infeliz).
Um excelente filme que ainda pode ser visto neste final de semana no Cine Estação.

“Poder sem Limites”(Chronicle/EUA, 2012) surpreende quando ousa unir a fórmula clássica dos filmes de ação com uma investigação psicológica. Três adolescentes acham um cristal que lhes dá superpoderes. De início eles usam timidamente essas qualidades. Mas quando sabem que podem voar começam as complicações. Um deles morre. O mais tímido do trio, alvo de bullyng no colégio, compreende que os poderes podem levar-lhe a chamar atenção. E isto se endereça especialmente ao pai despótico. Com a mãe doente, o garoto se preocupa muito com a medicação que ela deve tomar. Quando ela morre, e ele sabe que o pai, alcoólatra, não estava presente na hora dessa morte, rebela-se não só contra o genitor, mas contra a sociedade de um modo geral.

O roteiro de Max Landis podia gerar outro filme, menos afeito a CGI (Computer Generated Imagery) com programação visual de superespetáculo. Mas o diretor Josh Trank aceita as regras da indústria e transforma o trabalho num circo de horrores embora bem administrado. O espectador percebe a profundidade da idéia e se diverte com um visual mágico. No todo dá para se ver e perdoar as limitações.

Michael B. Jordan, um dos garotos de "Poder Sem Limites"

Um comentário:

  1. Alex Barata da Silva14 de março de 2012 às 06:46

    Luzia achei muito interessante a abordagem do filme O garoto da bicicleta, a atitude do pai que trata o filho como uma coisa "descartavel" reflete bem o momento atual de nossa sociedade onde na maoiria das vezes procuramos, nos livrar daquilo que atrapalha nossos projetos de vida.

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