domingo, 25 de março de 2012

“PINA”, DE WENDERS


         Imagens de "Pina", de Win Wenders, em exibição no Moviecon. Belisssimo filme.
Quinta feira última, numa das salas do complexo Moviecom, foi exibido para os membros da critica de cinema e jornalistas, o documentário “Pina” (Alemanha, 2011), de Win Wenders. O filme foi candidato ao Oscar da categoria este ano sendo detentor de 2 prêmios e mais 6 candidaturas.
Sem criar o clima de uma exposição biográfica de Pina Baush - bailarina que marcou a história da dança moderna na Alemanha – Wenders definiu o seu trabalho pelo significado de suas próprias palavras, proferidas na entrevista coletiva que deu durante o Festival de Berlim do ano passado: “Pina e eu tínhamos esta vontade há mais de 20 anos. Em meados dos anos 80, sugeri a ela que fizéssemos algo juntos e isso nos uniu desde então. Mas o balé de Pina tinha toda esta alegria e liberdade, era tudo tão vivo, que eu não sabia como transportar isso adequadamente para o cinema. Foi quando eu assisti pela primeira vez um filme em 3D. Ainda de dentro do cinema, liguei para ela e disse: 'Agora eu sei, Pina, como isso será!”
Evidenciando como criaria seu filme na parceria entre a arte do cinema e a forma imagética de ver o mundo da dança de Pina, diz, ainda, Wenders: “Ela seria o centro do filme. Estaria perto de mim em todos os momentos. Seria um road movie, nós iríamos percorrer a Ásia e a América do Sul. Seria um filme completamente diferente”. E acrescenta: “Pina era mais que o personagem principal. Ela era a própria razão para se fazer este filme. Nós estávamos nas preparações para as filmagens quando, imediatamente antes do primeiro teste em 3D ser feito, recebemos a notícia da morte repentina de Pina. Naturalmente, tudo parou. Parecia sem sentido querer fazer o filme”.
A primeira impressão que tive do filme está ligada à técnica de edição inventada pela expressão criativa de Wenders. O processo evoca a profundidade de campo com uma qualidade impossível de achar na edição 2D. A tela pode parecer um grande palco, e o filme abre, justamente, focalizando um palco. Abre-se o pano, os bailarinos surgem, uns mais perto da câmera, outros mais longe, e passam a interagir por sobre imagens que podem ser cenários teatrais como “vistas” de diversas cidades ou campo ou praias. Esta abrangência é que pode dimensionar a arte da bailarina que em verdade pouco se vê com destaque na tela. O que importava para ela e o que Wenders achou de bem mostrar, foi o trabalho do conjunto. Pina adorava a sua equipe internacional. Os bailarinos fazem o máximo que lhes exige expressão corporal. Em pequenos intervalos um e outro se dirigem para a câmera e falam de seu trabalho e de sua coreografa. Expressam-se em diversos idiomas, inclusive, o português (há duas brasileiras na equipe). São elogios que tecem a figura da diretora de cena, o que ela exige, o que ela pensa, o que faz para ajudar quem muitas vezes sentia receio de falhar na sua arte.
O filme não esconde a sua articulação de teatro filmado. Há silhuetas de espectadores no rodapé do quadro e a 3D dá-lhe a impressão de que fazem parte da plateia do próprio cinema. Eles (e quem está assistindo ao filme) são convidados a ingressar no mundo da dança com a noção de relevo dos dançarinos. Há números que consagraram o talento de Pina como o “Rito da Primavera” e o “Café Muller”. Usando o palco da Opera de Wuppertal, Wenders consegue, com o relevo das imagens, uma ilusão de que se está (quem vê o filme) num palco e este palco se metamorfoseia, ganhando contornos de paisagens diversas. Fiquei imaginando como o filme-musical renderia nessa técnica. Gene Kelly criaria novos números cantando na chuva, dançando nas ruas ou pulando muros altos. Enfim, é o começo. “Pina” marca a história de um gênero cinematográfico.
Bem a propósito: vê-se que agora os cineastas-autores estão descobrindo a 3D. Houve o excelente “A Invenção de Hugo Cabret”(Hugo/EUA,2011), de Martin Scorsese, e agora este trabalho excelente do diretor de “Asas do Desejo” (Der Himmel über Berlin/Alemanha, 1987). Almejo que essa dimensão criativa dada por esses dois diretores resvale para o mundo do espetáculo cinematográfico que só usa o 3D como garantia de diversão comercial.

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