Imagens de "Pina", de Win Wenders, em exibição no Moviecon. Belisssimo filme.
Quinta feira última, numa das salas do complexo Moviecom, foi exibido para os membros da critica de cinema e jornalistas, o documentário “Pina” (Alemanha, 2011), de Win Wenders. O filme foi candidato ao Oscar da categoria este ano sendo detentor de 2 prêmios e mais 6 candidaturas.
Sem criar o clima de uma exposição biográfica de Pina Baush - bailarina que marcou a história da dança moderna na Alemanha – Wenders definiu o seu trabalho pelo significado de suas próprias palavras, proferidas na entrevista coletiva que deu durante o Festival de Berlim do ano passado: “Pina e eu tínhamos esta vontade há mais de 20 anos. Em meados dos anos 80, sugeri a ela que fizéssemos algo juntos e isso nos uniu desde então. Mas o balé de Pina tinha toda esta alegria e liberdade, era tudo tão vivo, que eu não sabia como transportar isso adequadamente para o cinema. Foi quando eu assisti pela primeira vez um filme em 3D. Ainda de dentro do cinema, liguei para ela e disse: 'Agora eu sei, Pina, como isso será!”
Evidenciando como criaria seu filme na parceria entre a arte do cinema e a forma imagética de ver o mundo da dança de Pina, diz, ainda, Wenders: “Ela seria o centro do filme. Estaria perto de mim em todos os momentos. Seria um road movie, nós iríamos percorrer a Ásia e a América do Sul. Seria um filme completamente diferente”. E acrescenta: “Pina era mais que o personagem principal. Ela era a própria razão para se fazer este filme. Nós estávamos nas preparações para as filmagens quando, imediatamente antes do primeiro teste em 3D ser feito, recebemos a notícia da morte repentina de Pina. Naturalmente, tudo parou. Parecia sem sentido querer fazer o filme”.
A primeira impressão que tive do filme está ligada à técnica de edição inventada pela expressão criativa de Wenders. O processo evoca a profundidade de campo com uma qualidade impossível de achar na edição 2D. A tela pode parecer um grande palco, e o filme abre, justamente, focalizando um palco. Abre-se o pano, os bailarinos surgem, uns mais perto da câmera, outros mais longe, e passam a interagir por sobre imagens que podem ser cenários teatrais como “vistas” de diversas cidades ou campo ou praias. Esta abrangência é que pode dimensionar a arte da bailarina que em verdade pouco se vê com destaque na tela. O que importava para ela e o que Wenders achou de bem mostrar, foi o trabalho do conjunto. Pina adorava a sua equipe internacional. Os bailarinos fazem o máximo que lhes exige expressão corporal. Em pequenos intervalos um e outro se dirigem para a câmera e falam de seu trabalho e de sua coreografa. Expressam-se em diversos idiomas, inclusive, o português (há duas brasileiras na equipe). São elogios que tecem a figura da diretora de cena, o que ela exige, o que ela pensa, o que faz para ajudar quem muitas vezes sentia receio de falhar na sua arte.
O filme não esconde a sua articulação de teatro filmado. Há silhuetas de espectadores no rodapé do quadro e a 3D dá-lhe a impressão de que fazem parte da plateia do próprio cinema. Eles (e quem está assistindo ao filme) são convidados a ingressar no mundo da dança com a noção de relevo dos dançarinos. Há números que consagraram o talento de Pina como o “Rito da Primavera” e o “Café Muller”. Usando o palco da Opera de Wuppertal, Wenders consegue, com o relevo das imagens, uma ilusão de que se está (quem vê o filme) num palco e este palco se metamorfoseia, ganhando contornos de paisagens diversas. Fiquei imaginando como o filme-musical renderia nessa técnica. Gene Kelly criaria novos números cantando na chuva, dançando nas ruas ou pulando muros altos. Enfim, é o começo. “Pina” marca a história de um gênero cinematográfico.
Bem a propósito: vê-se que agora os cineastas-autores estão descobrindo a 3D. Houve o excelente “A Invenção de Hugo Cabret”(Hugo/EUA,2011), de Martin Scorsese, e agora este trabalho excelente do diretor de “Asas do Desejo” (Der Himmel über Berlin/Alemanha, 1987). Almejo que essa dimensão criativa dada por esses dois diretores resvale para o mundo do espetáculo cinematográfico que só usa o 3D como garantia de diversão comercial.
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