Heloisa Périssé e seus parceiros em "Odeio O Dia dos Namorados"
Com
direção de Roberto Santucci (“Bellini e a Esfinge”, 2002;”De Pernas pro Ar 1 e
2”, 2010, 2012; “Até que a Sorte nos Separe”, 2013) “Odeio o Dia dos Namorados”(Brasil,
2013) segue a tendência atual da produção cinematográfica brasileira em fazer
comédia para se comunicar com o público (e dar algum lucro). O roteiro foi
escrito por Paulo Cursino, e trata da publicitária Débora (Heloisa Périssé),
mulher autoritária a partir de relacionamentos mal sucedidos. Quando sofre um
desastre de carro, antes de cair no chão, vê o espirito do amigo Gilberto
(Marcelo Saback), ex-colega de trabalho que morreu há algum tempo e que passa a
lhe mostrar como a sua vida deve ser encarada, levando-a ao passado, a
bastidores do presente e a um futuro que será a consequência de sua ação nesses
outros tempos. Como se pode observar é uma adpatação da clássica historia de
Charles Dickens “Um Conto de Natal”(A Christmas Carol, 1843) trocando-se a
usura do velho Ebenezer Scrooge – a quem a confraternização natalina é apenas
um prejuízo financeiro – pelo Dia dos Namorados onde se contabilizam romances.
Na
primeira sequencia, Débora está “despachando” o noivo Heitor (Daniel
Boaventura), privilegiando o seu trabalho. E em prosseguimento se vê o empenho
dela numa campanha publicitária do conhecido bombom “Sonho de Valsa”,
detalhando-se o seu relacionamento com funcionárias da firma onde funciona, em
especial Carolina (Daniela Valente) a única que lhe é fiel e que Débora despede
do quadro funcional num momento de raiva. Em seguida há o acidente. E as
viagens no tempo ciceroneadas por Gilberto. O final dá direito a uma apoteose
do tipo que foi visto em "Quem quer ser um Milionário"(2008), modo de
dizer que tudo é fantasia, é a vida maquilada pelo cinema.
Um
fator merece destaque: “Odeio o Dia dos Namorados” desloca-se da fórmula da pornochanchada
e chega a ser imaginoso no modo como se inspira em Dickens. Aliás, o autor
inglês é duas vezes citado explicitamente: na capa de um caderno durante uma
refeição em uma lanchonete e num telefone celular. Se o publico que consome as
comédias descerebradas que pululam nas telas como forma de manter um processo
industrial (e em muitos países) desconhece quem escreveu “Um Conto de Natal” é
um espasmo cultural que se passa despercebido pela maioria não deixa de marcar
como uma espécie de assinatura a inspiração básica do enredo.
Impressiona,
sobremodo, o uso de efeitos especiais como a imagem virtual de uma pessoa na
sequencia final, a conjunção de imagens em determinados planos, o efeito de CGI
no desastre rodoviário a lembrar os filmes de ação de Hollywood, e a própria
dinâmica da edição, conseguindo narrar a história sem forçar certos detalhes.
Roberto
Santucci desta vez acertou. Claro que não há sinal de cinema denso, do que
intensifique certas situações e personagens dando mais substancias ao conjunto.
Mas o objetivo foi comunicar, foi fazer rir. E louve-se o fato de se estimar um
tipo de comédia que é realizado sem apelar para clichês como a
pseudolicenciosidade que foi vista, por exemplo, em “E Ai, Comeu?" .
"Odeio..." diverte. E muito se deve a atores como Heloisa Perissé e
Marcelo Saback. Quando eles estão juntos percorrendo as fases da vida da
primeira há o melhor do filme. Mesmo considerando que a pintura maniqueísta
(bem e mal) não passa dos limites de convençao. Vale a pena assistir.
REGISTRO
Este
espaço não poderia deixar de registrar, no dia 18, o aniversário do
crítico de cinema e amigo Acyr Paiva de Castro. Para nós, de um tempo anterior
em que o movimento da crítica tinha muitos espaços na imprensa para publicar as
opiniões dos membros da APCC, Acyr era o mestre, sempre atento à teoria dos filmes
e fazendo de seus textos um estilo de linguagem que marcava o espectador. Teve
(e tem) cadeira cativa neste espaço onde ficou responsável, por muito tempo,
pelo “cantinho do Acyr”. Ao amigo, um abraço forte pela data, com votos de
muita saúde e paz em mais esta caminhada. Feliz aniversário, querido Acyr.
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