Fabricio Boliveira e Isis Valverde em "Faroeste Caboclo" ( mais para Corbucci)
Não conheço a
música de Renato Russo que deu origem ao roteiro escrito por Victor Aterino e
Roger Bernstein para o filme “Faroeste Caboclo”(Brasil, 2013) dirigido por René
Sampaio. Mas acredito que isso não faça falta diante do que vi em linguagem
cinematográfica. Com uma narrativa linear trabalhada no tom profissional, ou
seja, de acordo com o que se faz mundo afora em termos de cinema comercial, o
filme trata de João de Santo Cristo (Fabricio Boliveira) um nordestino que
deixa seu povoado localizado na Bahia depois de matar o assassino de seu pai
(que presenciou quando ele ainda era criança), e tenta viver em Brasília, na
época em que a capital federal saía do governo militar e já se confundia com as
metrópoles onde o tráfico e os crimes de morte faziam parte da rotina. Depois
de muito batalhar para sobreviver ao lado de um primo, conhece e se apaixona
por Maria Lucia, uma jovem da classe média filha de um senador (Marcos Paulo).
João passa a seguir os passos desse primo que negocia drogas. Gradativamente, o
personagem vai se infiltrando no mundo do crime e os desníveis amorosos chegam
a um final que lembra os duelos dos westerns seja norte-americano seja europeu.
Com a dose de violência cara ao
produto de boa venda na indústria de filmes atual, “Faroeste Caboclo” usa dos
estereótipos para seguir um modelo que me pareceu mais próximo aos trabalhos de
cineastas italianos afora Sergio Leone (mais para Sergio Corbucci). Vale dizer
com isso que o privilegio é o aspecto formal, a plasticidade de um agreste que
abriga certa morbidez.
Colocar Brasília como uma Dodge City é
uma ousadia que só teria procedência no aspecto critico, ou seja, numa visão
tragicômica de mudanças de regime, como se as torturas do tempo dos ditadores
tivesse gerado filhos e situações onde o sangue faz parte do cenário. Houve, é
certo, quem visse um libelo da direita contra a emergência de lideres de
esquerda. Não vi nada disso. No máximo é uma denúncia de que a capital de JK se
tornou, por sua qualidade cosmopolita, um antro onde se encontram bandidos e
mocinhos importados de todas as regiões do país. Da coleção de mesmices só
falta dizer que João fugiu da seca em sua região de origem. Mas como a ideia é
de construir um faroeste, este seria uma espécie de Django e, seus algozes
traiçoeiros, funcionariam como os diversos vilões que o personagem encontraria
dentro e fora dos“saloons”.
Um close do pai de João abre o filme.
O primeiro tiro vem em seguida. Mas a ordem nem sempre é cronológica. Isso não
quer dizer que algum delírio seja incluído para dimensionar certos tipos. Para
o de João bastam algumas sequências de sua infância. Por aí vai sendo
dimensionada a ira contida do interiorano pobre e órfão que perde sua familia
pela violência contra os menos favorecidos muito visto e ouvido acontecer no
nordeste. Uma narrativa em off
é um recurso usado para a narrativa. Mas é o modo de a história caminhar de
forma dinâmica. É de supor que a origem da trama foi mesmo para justificar uma
desumanização na cidade recém-construida. Mas o processo como esta
desumanização é colocada não pertence a um esquema em que se pintam bons e maus
pela cara. Ninguém se ilude do mal-encarado Jeremias (Felipe Abide) e menos
ainda de Marco Aurélio (Antonio Calloni). Como ninguém duvida de um final em
que os maus serão destruídos pelas mãos de quem aprendeu a tentar sobreviver. E
pode ser que uma figura híbrida colocada de forma a inspirar piedade, também
desapareça.
O faroeste foi um gênero criado para
mostrar de algum modo o processo de urbanização (chamado de civilização)
adentrando no cenário agreste de uma região dos EUA. Como Brasília veio de uma
geografia humana parecida vai a idéia de um filme sobre a afinidade territorial.
E coube a esse feitio o decalque sobre a história nordestina de João.
Poesia pura, excelente adaptação , soube mostra exatamente a essencia do Titulo da música, o cenário da história tendo o cliima seco de Brasília, favorece essa poesia.
ResponderExcluirÉ isso, Alex, cada um de nós constrói a própria interpretação do filme com base em seus acúmulos culturais e sobre a teoria do filme. Mande sempre. Luzia
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