sexta-feira, 28 de junho de 2013

O GRANDE GATSBY


"O Grande Gatsby" a nova versão, com Leonardo DiCaprio.

Cultuado como uma das obras mais expressivas da literatura norte-americana moderna, “O Grande Gatsby”(The Great Gatsby), escrito em 1925, ganhou a sua primeira versão cinematográfica logo no ano seguinte, dirigida por Herbert Brenon com Warner Baxter protagonizando o milionário do título, apaixonado por uma namorada de juventude que não esperou o seu retorno da guerra (a 1ª Mundial) casando-se com Tom Buchanan, um homem rico local. Uma adaptação do romance de Fitzgerald foi produzida em 1949, com o ator Alan Ladd vivendo o milionário. O título do filme em português: “Até o Céu Tem Limites”, dirigido por Elliott Nugent.
Nova versão do livro voltaria às telas em 1972 roteirizada por Francis Ford Coppolla e dirigida pelo inglês Jack Clayton (de “Os Inocentes” e “Todas as Noites às 9”), com Robert Redford no papel-título, Mia Farrow como a namorada Daisy, e Sam Waterston como Nick Carraway, o amigo de Jay Gatsby que serve de corifeu à historia. O filme aplicou recursos muito grandes e não fez sucesso nem de critica nem de público.
Houve também uma adaptação do romance para a televisão, em 2000, com Toby Stevens, Mira Sorvino e Paul Rudd nos principais papéis.
Surge agora esta versão de 2013 dirigida pelo australiano Baz Luhrmann com Leonardo DiCaprio interpretando o personagem-título, mais Carie Mulligan como Daisy, Joel Edgerton é Tom Buchanan e Tobey Maguire vivendo o corifeu Nick.
O filme abriu este ano o Festival de Cannes sob críticas. O diretor deu muitas explicações. Usou Nick como o próprio Fitzgerald, escrevendo o livro sobre o amigo. As duas principais versões mantêm alguma analogia que não se podia desprezar com relação ao original literário. A diferença em Luhrman é que ele caracterizou a sua filmografia, ora usando uma edição acelerada com efeitos visuais que procuram apoio na tecnologia 3D (como as letras das cartas de Daisy a Jay, ganhando primeiros planos e como que saindo da tela), ora maior evidência nas metáforas, como a imagem do óculos do out-door que seria “o olho de Deus” vendo os trágicos acontecimentos, e um final alongado, detendo-se no escritor, com chance de inserir frases que devem ter saído da veia poética do autor da obra literária. Mas todo esse arcabouço artesanal do diretor de“Moulin Rouge”(2001) e do alucinado “Romeu e Julieta”(1996) tem a meu ver certo esvaziamento tomando-se alguns aspectos: a escolha de seu elenco, por exemplo, como Leonardo DiCaprio (o Romeu, de Luhrman) vivendo um Gatsby que a mim não convenceu. Da mesma forma não se via o milionário apaixonado em Robert Redford. O tipo, pela construção do enredo (não li o romance), exigia um ator que transparecesse a tensão do homem maduro, envolto no mundo do crime (a venda de bebida na fase da “lei seca”), magoado por sua Daisy tê-lo trocado por outro. Nos dois filmes o grande desempenho fica nos intérpretes de Nick: tanto Sam Waterston como Tobey Maguire conseguem uma máscara expresiva para revelar os fatos (em off). Este último, inclusive, recebe um diferencial que é o apoio médico que o leva a escrever a história de seu amigo.
Também não se dimensiona a base da obra original, ou seja, o retrato de um milionário que traduz a gênese do capitalismo e o seu objetivo. A época passa nas festas onde o Charleston é o ritmo e as melindrosas dançam ao som de músicos negros. Não se evidencia o efeito da guerra e só se avança nas imagens do mundo financeiro no final do filme de agora, quando Nick já trata da crise que se esboça em Wall Street (pouco antes do choque de 1929).
Gatysby é para Fitzgerald – que chegou a escrever roteiro para cinema – o arquétipo do norte-americano que viveu o decantado “sonho”do país, ganhando fortuna de qualquer maneira e esperando muito do sentimento por que lhe parecia ideal, mas difícil de alcançar. Este símbolo de uma riqueza de árduo acesso é justamente o propiciador da morte do personagem, por meio de uma verdadeira armadilha colocada pelo marido da sua amada. E o fato de ela sair incólume do drama é a chave da farsa em que o dinheiro cai de repente de um trono, tornando-se vilão para que outra igura fuja do cenário com tudo o que ele quis e perdeu.

Um tema árduo que o cinema tornou a minimizar como um faustoso melodrama.

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