Ricardo Cucciola interpretando Gramsci.
Para quem
estuda Política e História dois filmes lançados agora em DVD são importantes:
“Gramsci, Os Dias de Cárcere”(Gramsci I Giorgi del Carcere, Itália,1977) de
Lino del Fra, e “Marighela” (Brasil, 2012) de Isa Grispum Ferraz. O primeiro
reporta o longo período que o deputado Antonio Gramsci, intelectual e ativista
comunista, passou na prisão de Turi, em
Bari, na Itália (de julho de 1928 até outubro de 1933), justamente na época em que seu
país assumia a ideologia fascista com o advento do antes socialista Benito
Mussolini. O ator Ricardo Cucciola chega a parecer fisicamente com o biografado
que se conhece de fotografias. O filme tem uma linguagem dura, sem concessões,
ganhando a feição de um documento dramático. Mostra a dificil relação entre
Gramsci, seus companheiros de cela, sua situação em conviver num cubículo onde
impera a tuberculose e o fumo. Aponta os constantes pedidos dele dos materiais
para escrever, sua distância da família e a única parenta que vem visitá-lo, a
cunhada, haja vista que sua esposa e filhos teriam ficado em Moscou. A tensão
entre ele e o partido tanto local quanto na Russia, também fazem parte do
enfoque do filme. E mostra a intransigência dos líderes de seu próprio partido
quando Gramsci não aceita a teoria social-fascismo adotada por Stalin. A partir
disso há um crescente isolamento político do pensador italiano entre seus
companheiros. Gostei muito do docu-drama. Merecia o olhar da turma que estuda
as suas teses. Recebeu o "Grande Prêmio do Festival
Internacional do Filme de Locarno", em 1977.
“Marighela”
é um documentário escrito e dirigido pela sobrinha de Carlos Marighela,
ideólogo e ativista comunista que foi perseguido e morto pela policia da
ditadura brasileira dos anos 1964-1985. Farto material de cine-jornais e
depoimentos de diversas pessoas consubstanciam uma visão histórica do
personagem que chegou a ser reconhecido pela força dominante na época como
“inimigo público número um”. Depoimentos de sua companheira Clara Charf, além
de “entradas” sobre o pai, de seu único filho da primeira esposa, são recortes
que mostram o ímpeto do lider em manter-se na luta até a morte.
Em termos
de raridade há DVDs cujos títulos ficaram no limbo, ou seja, foram arquivados e
pelo menos duas gerações não os assistiram. Dentre eles está a comédia “Este
Mundo Louco” (Idiot’s Delight, EUA, 1939) de Clarence Brown com Clark Gable e
Norma Shearer. É uma adaptação da peça teatral de Robert E. Sherwood, vencedora
do Prêmio Pulitzer, realizada pelo próprio autor, e criticada pelo exagero
interpretativo da atriz (Shearer) que parece querer todo tempo aproveitar a
oportunidade para demonstrar seus pendores dramáticos (ou cômicos) como no palco.
Protagoniza uma escritora que mantém rápido romance com um produtor de shows (Glabe),
mas com o prenúncio de uma guerra, o reencontro do casal sofre reveses. É
interessante observar que na época da produção, iniciava-se a guerra na Europa,
mas os EUA procuravam manter uma neutralidade daí não se esmiuçar a figura de
Hitler. Há uma cena histórica: Gable cantando e dançando “Puttin’on the Ritz”.
Raridade
ainda maior é “A Saga do Judô”(Sugata Sanshirô, Japão, 1943) primeiro filme
dirigido pelo mestre Akira Kurosawa (Rashomon, Os 7 Samurais etc.). Com um
veterano ator nipônico que esteve com Kurosawa no clássico “Viver”(Ikiru, 1952),
Takashi Shimura, conta como o tipo de arte marcial, confundido com o jiu-jits,
ganhando popularidade no Japão. Certo que é um filme menor do diretor, mas
pelas panorâmicas que mostram os quadros dos lutadores já se observa um cuidado
artesanal incomum. Ao que eu sei o filme nunca foi exibido em nossas salas
comerciais ou cineclubes fora dos espaços dirigidos pela colônia japonesa.
Também
chama a atenção “O Capanga de Hitler” (Hitler’s Madman, 1943) por ser o
primeiro filme norte-americano do diretor alemão Douglas Sirk mais tarde afeito
ao gênero melodrama onde deixou marca indelével (dele, por exemplo, “Sublime
Obsessão” de 1954, “Palavras ao Vento” de 1956 e “Imitação da Vida” de 1959).
Neste trabalho pioneiro Sirk trata do assassinato de Reinhardt Heydrich,
comandante da SS (policia especial de Hitler) por resistentes ao nazismo na
Tchecoslováquia. No elenco John Carradine, Patricia Morison e Alan Curtis.
Marighella, no documentário de sua sobrinha Isa Grinspum Ferraz
Luzia, também fiz uma postagem no meu blog sobre o filme da vida do Gramsci. Algumas das frases que me chamaram a atenção no filme é que só vanguardas não fazem revolução e que a verdadeira revolução socialista não seria conquistada através de ativismos explosivos imediatistas ... Dizia Gramsci que era preciso antes (e ele frisa bem esse 'antes') educar as massas para um auto-governo futuro, ou cairiam nas mãos de uma vanguarda voluntarista ou da volta da tirania. Outro filme bom que recomendo é o Tre Fratelli (Três Irmãos) do diretor Francesco Rosi, que militava no PCB italiano.
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