segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

INTERESTELAR




Matthew McConaughey e Mackenzie Foy pai e filha em INTERESTELAR


Seria muito simples contar o argumento de “Interestelar” (EUA, UK, 2014, 169 min) enfocando um fazendeiro e também engenheiro espacial Cooper incomodado com a perda de colheitas devido a pragas e tormentas naturais. Viúvo recente e pai de um casal de filhos, com o mais novo, uma menina, Murph, com quem tem grande apego, aceita pilotar uma nave espacial de um projeto secreto para penetrar num buraco de minhoca e com isso achar um planeta distante onde a humanidade possa morar quando a Terra se tornar inóspita. O fazendeiro-astronauta Cooper (Matthew McConaughey) despede-se com lagrimas da filha (Mackenzie Foy). E esta acredita que tem um fantasma na casa da fazenda onde o pai e o avô materno (John Lightgow) possuem uma biblioteca. A viagem que adentra um buraco negro cabe na licença fantástica que se enquadra num objetivo mais poético & filosófico do que astrofísico. Mas antes de partir Copper promete à sua pequena Murph voltar um dia. E o faz com 127 anos contra uns 90 que ela deva possuir (agora protagonizada por Ellen Burtsyn depois de incorporada por Jessica Chastein, quando jovem).
O filme de Christopher Nolan, com roteiro de seu irmão Jonathan e inspirado nas ideias do amigo cientista Kip Thorne, não é nada simples. Amparado no contexto melodramático vai aos meandros da Relatividade (de Einstein), passa pela Física Quântica, critica o comportamento humano no isolamento, explora o processo de relações humanas, comenta a redução de recursos da NASA, adentra na crença de muitos populares de que o homem sequer foi à Lua, e ainda deixa espaço para o espiritualismo quando se observa, entre os livros da biblioteca da fazenda, um título de Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes e um dos adeptos do espiritismo de Kardec. Isto reforçado pela confissão da filha sobre a presença de um fantasma na casa.
Há muito que ver no filme. E como sua dimensão na tela é de mais de 160 minutos o esforço para absorver tudo o que é mostrado ou citado é quase sobre-humano. Requer revisão. Nesse ponto “Interestelar” lembra outro filme de Nolan, “A Origem” (2010), onde ele trata de intercambio de ideias cérebro a cérebro.
Na ficção cientifica mostrada em cinema, o projeto mais audacioso até hoje foi o de “2001 Uma Odisséia no Espaço” (1968) de Stanley Kubrick. A lembrança não é aleatória. Admirador do cineasta que realizou a melhor ficção cientifica da historia dessa arte, Nolan cita o clássico até na sequencia em que os astronautas adentram pelo buraco negro (e seria dessa forma, na licença de um acidente desses próximo do planeta Jupiter que se vêem imagens indecifráveis) que David (Keir Dullea) vai chegar ao estranho salão onde é transformado no embrião do superhomem para muitos, tratado por Nietzsche.

Kip Thorne (o físico norte americano especialista em ondas gravitacionais, cujas pesquisas tratam de buracos negros e buracos de minhoca colaborador de Nolan na produção) só condenou a representação do design do planeta com nuvens de gelo apresentada na exploração sideral (“as estruturas não aguentariam material desse tipo”). Mas reconheceu que Nolan e seu irmão fizeram uma fantasia onde a base cientifica não é um dogma. Aos estudiosos desses aspectos siderais, realmente é difícil achar que uma pessoa possa passar por um buraco negro sem se desintegrar. Mas a ficção se apoia no aspecto humano que o roteiro enfatiza na família mostrada. Vale a pena voltar ao assunto. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário