Matthew McConaughey e Mackenzie Foy pai e filha em INTERESTELAR
Seria muito simples contar o
argumento de “Interestelar” (EUA, UK, 2014, 169 min) enfocando um fazendeiro e
também engenheiro espacial Cooper incomodado com a perda de colheitas devido a
pragas e tormentas naturais. Viúvo recente e pai de um casal de filhos, com o
mais novo, uma menina, Murph, com quem tem grande apego, aceita pilotar uma
nave espacial de um projeto secreto para penetrar num buraco de minhoca e com
isso achar um planeta distante onde a humanidade possa morar quando a Terra se
tornar inóspita. O fazendeiro-astronauta Cooper (Matthew McConaughey)
despede-se com lagrimas da filha (Mackenzie Foy). E esta acredita que tem um
fantasma na casa da fazenda onde o pai e o avô materno (John Lightgow) possuem
uma biblioteca. A viagem que adentra um buraco negro cabe na licença fantástica
que se enquadra num objetivo mais poético & filosófico do que astrofísico.
Mas antes de partir Copper promete à sua pequena Murph voltar um dia. E o faz
com 127 anos contra uns 90 que ela deva possuir (agora protagonizada por Ellen
Burtsyn depois de incorporada por Jessica Chastein, quando jovem).
O filme de Christopher Nolan, com
roteiro de seu irmão Jonathan e inspirado nas ideias do amigo cientista Kip
Thorne, não é nada simples. Amparado no contexto melodramático vai aos meandros
da Relatividade (de Einstein), passa pela Física Quântica, critica o
comportamento humano no isolamento, explora o processo de relações humanas, comenta
a redução de recursos da NASA, adentra na crença de muitos populares de que o
homem sequer foi à Lua, e ainda deixa espaço para o espiritualismo quando se
observa, entre os livros da biblioteca da fazenda, um título de Conan Doyle, o
criador de Sherlock Holmes e um dos adeptos do espiritismo de Kardec. Isto
reforçado pela confissão da filha sobre a presença de um fantasma na casa.
Há muito que ver no filme. E como sua
dimensão na tela é de mais de 160 minutos o esforço para absorver tudo o que é
mostrado ou citado é quase sobre-humano. Requer revisão. Nesse ponto
“Interestelar” lembra outro filme de Nolan, “A Origem” (2010), onde ele trata
de intercambio de ideias cérebro a cérebro.
Na ficção cientifica mostrada em
cinema, o projeto mais audacioso até hoje foi o de “2001 Uma Odisséia no
Espaço” (1968) de Stanley Kubrick. A lembrança não é aleatória. Admirador do
cineasta que realizou a melhor ficção cientifica da historia dessa arte, Nolan
cita o clássico até na sequencia em que os astronautas adentram pelo buraco
negro (e seria dessa forma, na licença de um acidente desses próximo do planeta
Jupiter que se vêem imagens indecifráveis) que David (Keir Dullea) vai chegar ao
estranho salão onde é transformado no embrião do superhomem para muitos, tratado
por Nietzsche.
Kip Thorne (o físico norte americano
especialista em ondas gravitacionais, cujas pesquisas tratam de buracos negros
e buracos de minhoca colaborador de Nolan na produção) só condenou a
representação do design do planeta com nuvens de gelo apresentada na exploração
sideral (“as estruturas não aguentariam material desse tipo”). Mas reconheceu
que Nolan e seu irmão fizeram uma fantasia onde a base cientifica não é um
dogma. Aos estudiosos desses aspectos siderais, realmente é difícil achar que
uma pessoa possa passar por um buraco negro sem se desintegrar. Mas a ficção se
apoia no aspecto humano que o roteiro enfatiza na família mostrada. Vale a pena
voltar ao assunto.
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