segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ALIANÇA DO CRIME




James ‘Whitey’ Bulger (Johnny Depp) em "Aliança do Crime"

Baseado no sucesso do livro de Dick Leher e Gerard O’Neill, “Aliança do Crime (Black Mass, EUA, UK, 2015) explora a história do criminoso irlandês James ‘Whitey’ Bulger (Johnny Depp) e de sua Winter Hill Gang, atuantes em Boston por duas décadas – 1970-1980). Independente de ser irmão do Senador William ‘Billy’ Bulger (Benedict Cumberbatch) “Bug” se torna informante do FBI, devido à amizade desde a infância com o agente John Connolly (Joel Edgerton), posto que o objetivo de ambos é lutar contra a máfia italiana que controla o norte da cidade. A parceria é realizada, mas o que emerge é a criação de um poder pessoal de ambos cada qual em sua unidade de ação – o policial (Connolly) e o criminoso (Bug/Deep), sem que haja uma real responsabilidade de ambos em exterminar os criminosos. A sustentação da afinidade política é dada pelo não importismo do Senador Billy Bulger (Cumbbernatch) aos desmandos do irmão.
Construído em três tempos narrativos – o passado em flashback , o presente no enfoque do tempo da investigação através dos interrogatórios e punição aos culpados cria as fronteiras com o futuro evidenciando, nos créditos finais, os recursos reveladores sobre o processo da máfia irlandesa e italiana -  oferecendo, com isso, cenários de múltiplo alcance – das sala ascéticas dos escritórios do FBI, a de interrogatório, às ruelas escuras onde a guerra se dá.
O filme reflete duas maneiras de comercialização: pela atuação de Depp, o único tipo desenvolvido exemplarmente, e pela violência exacerbada com efeito simbólico, mas também explícito. Teria apresentado um maior exercício dessa violência, segundo informações, se tratasse o livro de Leher & O’Neill de uma forma menos estereotipada, desligando-se de um compromisso industrial ou dando forma a uma maneira mais expressiva quando apresenta os demais tipos que se tornam apagados, salvo Edgerton e Cumberbatch (os demais atores são subutilizados como Kevim Bacon, Peter Sarsgaard e Adam Scoth). Mesmo assim, “Aliança do Crime” mostra assassinatos como poucas vezes se vê em cinema, especialmente de Hollywood. Mas o simbólico de uma carga de intersubjetividade que evidencio se dá com certa sutileza ao menos em três atitudes cotidianas de James Bulger/Deep: a instrução que dá ao filho (nas poucas horas que o visita) para se defender do bulling na escola; a reação contra o parceiro a quem solicita uma receita culinária que é segredo de família e este revela; e a atitude questionadora sobre a ausência da esposa do amigo na hora do jantar. Estas menções se tornam nuances do caráter do gangster que não se vale só do efeito físico da violência praticada mas das entrelinhas que apontam para um caráter perverso que definem seu tipo. Interessante essa abordagem.
A empresa detentora dos créditos da distribuição, a Warner, certamente pensou que seu novo produto tem a ver com o ciclo que lançou nos anos 30/40 do século XX e que se conhece como “filmes de gangster”. Reinou nessa fase atores como James Cagney, Humphrey Bogart, John Grafield e diretores como Michael Curtiz, Raoul Walsh e Joseph Pevney. Procede a expectativa e mesmo porque seria mais “realista” o modo de tratar agora crimes e criminosos sem a preocupação de censura como o Código Hays que norteava a produção de Hollywood de antes da 2ª Guerra Mundial. Afinal hoje é possível filmar sangue jorrando de ferimentos. Antes isso era proibido. Os alvos caiam por terra sem derramar uma gota de liquido vermelho de seus hipotéticos ferimentos.
Também é nuançada uma critica politica. O senador ligado a mafiosos e mafiosos com raio de alcance nas esferas governamentais pode não ser novidade, mas é mais evidente no roteiro.
Enfim o filme é de Johnny Depp e é ele quem arranha candidatura ao próximo Oscar. Maquilado de forma a se tornar muito diferente da imagem que deixou em muitos filmes, o ator esforça-se para ser visto como o tipo cruel que nunca antes experimentara viver. Por ele o trabalho do diretor Scott Cooper merece crédito. Embora o roteiro deixe em aberto muitos flashbacks que interrompem a narrativa e com isso uma linha emocional, o resultado está acima da média. Copper, aliás, só é conhecido por “Coração Louco” (Crazy Heart, 2009) pelo qual ganhou dois Oscar. No seu currículo há mais títulos como ator (14) e desse grupo nada que o enalteça.

Embora “Aliança do Crime” não seja um filme extraordinário vale a pena assisti-lo. 

Um comentário: