A atriz Jennifer Lawrence em "Jogos Vorazes". Bom desempenho.
Não lembro
de filmes que mostrassem o futuro da humanidade de modo lisonjeiro. Há visões
de guerras nucleares (“O Planeta dos Macacos”, ”Os Últimos Cinco”, ”Eu Sou a
Lenda”), há ditaduras dramáticas (“1984”,”THX”), há conflitos interplanetários (“A
Guerra dos Mundos”,”Independence Day”) , há desastres siderais (“Impacto
Profundo”, “O Fim do Mundo”) enfim, há uma aposta firme no apocalipse, não
necessariamente o descrito por São João mas, de alguma forma, evidencia-se o
destino triste da humanidade. “Jogos Vorazes”(The Hunger Games/EUA,2012) se
insere neste quadro. O cenário é pós-conflito nuclear (ou o que possa ter
destruído civilizações). No que resta dos EUA, um país chamado Panem (de “panem
et circus”), o povo é brindado com um tipo de diversão que visa minorar o
sentimento de revolta contra o passado belicoso que fez um abismo maior entre
ricos e pobres. Este “circo”, à maneira do romano antigo, chama-se “jogos
vorazes” (hunger games). Cada distrito elege dois representantes (um homem e
uma mulher) para a competição. E a competição nada mais é do que uma caça
acompanhada pelas câmeras de TV para um tipo de “reality show”(uma espécie de
Big Brother ou do que se viu em “O Show de Truman”). Um componente tem que
matar o outro para ganhar ponto. E os representantes dos distritos vão
afunilando o processo, com o grande final disputado entre os dois
sobreviventes. O jogo é renovado anualmente com muitos patrocinadores e uma
grande plateia, mesmo distante das telas de TV.
A ideia partiu da escritora
Suzanne Collins, que ajudou no roteiro do filme dirigido por Gary Ross (de “A
Vida em Preto e Branco”). Ela é a nova campeã de venda de livros no mercado
norte-americano, ganhando o terreno da conterrânea Stepheny Meyer autora da
franquia “Crepusculo” (Twilight). Este seu “Jogos...” mereceu 3 volumes e o
filme ora em cartaz internacional é baseado no primeiro. Focaliza a jovem
Katniss (Jennifer Lawrence, atriz candidata ao Oscar pelo desempenho em
“Inverno da Alma”-Winter’s Bone/EUA, 2010), voluntária na participação para
substituir a irmã mais nova que foi sorteada e não tem recursos físicos para a
luta. Competindo com ela no distrito de numero 12 está Peeta (Josh Huttcherson),
colega de escola, que exibe um temperamento tímido e logo mantém uma relação
amistosa com a colega amargando a ideia de que pode ser seu algoz ou sua
vitima.
O espectador não tem dificuldade
em imaginar que o casal evidenciado é quem vai ficar para a prova final do
jogo. Mas apesar de se vislumbrar um romance entre eles, embora Katniss tenha
deixado um namorado na sua terra, há sempre a expectativa de que possa ser
diferente esse novo horizonte.
O enredo, apesar de enquadrado no
pessimismo que alertei antes, não deixa de ser mais imaginoso do que os
vampiros e lobisomens de Meyer. E o filme ganhou um bom elenco (Jennifer é
ótima atriz), uma direção de arte esmerada, e uma narrativa dinâmica que faz o
espectador não sentir a metragem além de duas horas de projeção. Isso em se
tratando de um enfoque que privilegia a aventura e um idílio previsível é muito
louvável. Ate os tipos extremamente delineados como o do presidente de Panem,
(Donald Sutherland) e o apresentador do teleprograma (Stanley Tucci) colaboram
para um resultado acima da média. O que salta no rol das falhas passa primeiro
pela falta de explicação em muitos momentos. Mas está claro que muita coisa faz
parte do jogo, como a ajuda dos patrocinadores aos seus favoritos e que pode
mudar o rumo da aventura de seus beneficiados. Há feras virtuais jogadas no
cenário que, apesar de fantasias, parecem atacar personagens como animais
verdadeiros. E na parte pitoresca, correndo bem com a presença de tipos
cariatos como o interpretado por Elizabeth Banks, falta a publicidade que o
diretor do programa tanto persegue. Mas a analogia com o circo romano é muito
boa, apresentando a sintonia com os
nomes de personagens como Caesar, Claudius, Sêneca, Cinna, Flavius e Octavia. O
que não se sabe é se a filmagem dos outros livros vai manter o patamar da
qualidade deste primeiro. Afinal, ”Jogos Vorazes” surpreendeu.
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