segunda-feira, 19 de abril de 2010

INDIOS E LOUCOS







O Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem) exibe desde o dia 20/04, a partir das 16h30 uma série de documentários sobre os índios brasileiros, compondo a Mostra Nós Indígenas, promoção da Fundação Curro Velho/Casa da Linguagem e ABDeC.
Por outro lado, o cinema Olympia, dando prosseguimento ao seu festival de aniversário, exibe “Um Estranho no Ninho” de Milos Forman, um filme sobre um hospital para doentes mentais e seus problemas. Os dois programas ensejam o tema da coluna de hoje, realçando filmes que trataram dessa temática ao longo dos anos e que merecem ser lembrados para uma aferição do que será visto ou revisto.

Os índios brasileiros estiveram nas telas “in natura” e também ficcionados. Mais fantasiados, algumas vezes lembrando as representações de escola de samba. A memória alcança alguns documentários onde os índios foram mostrados sem um “glamour” hollywoodiano presente até mesmo em trabalhos pretensiosamente dedicados a vê-los como vivem ou viviam. Quando o cineasta Sylvio Back quis realizar “Yndio do Brasil”(1969) esteve em Belém em busca de informações. De nossa parte lembramos-lhe as marchas de carnaval dedicadas à tribo Boca Negra, e a lembrança dessa tribo advinda de um fato hoje esquecido: no final de 1948, na construção de uma estrada, o tenente Fernando, do exército brasileiro, perdeu-se na mata. Houve várias versões de seu desaparecimento como o de seu encantamento pelo canto do Uirapuru motivo de ter se perdido na mata, sendo dominado pela tribo Boca Negra. Seus familiares em vão o procuraram. E os jornais locais acompanharam a odisséia. A mídia encarregava-se de noticiar de vez em quando esse fato e até samba foi criado, as marchichas “Boca Negra”, “Tem Branco na Maloca”e outras que não lembro. Sylvio foi alertado que uma dessas composições fez parte da chanchada “Estou Aí ?” de Moacyr Fenelon. Por isso, o cineasta incluiu um trecho no filme “Yndio do Brasil”, elaborado de recortes de seqüências de diversos outros documentários, alguns do antigo Serviço de Proteção ao Índio(SPI).

Distribuidores norte-americanos chegaram a lançar outros filmes. Em “Jacaré”(1942) o norte-americano Frank Buck (1888-1950) produziu e estrelou, sob a direção de Charles E. Ford. Havia tomadas em Belém, com a participação de um sertanista residente (Miguel Rojinski). Muito falso, mesmo assim o filme fez sucesso de público entre nós. “Amazônia Indomável”(1952) de Julian Lesser, foi produzido pela empresa RKO. O filme foi exibido em Belém nos cinemas Moderno e Independência. Tratava das tribos Jivaros, Jargas, Utiliangas e Yagas e a atração, pode-se dizer, era mostrar as cabeças mumificadas e reduzidas que uma tribo exibia como troféu.. E dentre dezenas de filmes dramáticos em que pessoas da cidade eram convocadas para fazer papeis de índios (a exemplo de “Floresta de Esmeraldas” e “Brincando nos Campos do Senhor”) surgiram curiosidades como “Kalapalo”(1955). Esse documentário focalizava o casamento do sertanista Ayres da Cunha com a índia Diacuí, da tribo Kalapalo. O próprio sertanista veio à Belém lançar seu filme no cinema Moderno. Diacuí morreria quando de seu primeiro parto e o assunto ficou no imaginário popular associado a romances de Hollywood como “Ave do Paraíso”(Bird of Paradise).

Quanto a questão da loucura, pode-se avaliar no mesmo nível da abordagem dos indígenas. Na maioria das vezes surgiram estereotipados em filmes que se limitavam às personagens sem adentrar pelo ambiente onde eram jogados. “Um Estranho no Ninho” (One Flew over the Cukoo’s Nest/EUA,1975), do tcheco Milos Forman, ganhou Oscar (para ator, roteiro . atriz coadjuvante diretor e filme) e está entre os melhores exemplares da categoria. Jack Nicholson protagoniza um homem de temperamento “diferente” que por isso se viu jogado no manicômio (a época era dos “politicamente incorretos”, nos EUA, ou seja, os jovens que desafiavam o sistema, sobretudo a convocação para a guerra no Vietnã).

Entretanto, o Brasil deixou um titulo meritório na categoria: “Bicho de Sete Cabeças”(2001), de Laís Bodanzky. Este filme revelou o ator Rodrigo Santoro e mostrou de forma dura os desmandos de uma casa especializada em doenças mentais. Aliás, Lais tem um filme em exibição entre nós: “As Melhores Coisas do Mundo”.

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