quarta-feira, 28 de abril de 2010

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

























Na sessão em que assisti “Alice no País das Maravilhas”(Alice in Wonderland/EUA,2010) perguntei a umas jovens que estavam na fila atrás da minha se elas conheciam o livro original. Para minha surpresa uma delas mostrou a edição de bolso da obra de Lewis Carrol que levava consigo. Talvez não seja o bastante para se absorver perfeitamente tudo o que o escritor inglês quis dizer com a sua aparente história infantil. Mas já é alguma coisa para a iniciar no “reino de maravilhas” proposto. Carrol, cujo nome era Charles Lutwidge Dodgsan (1832-1898), foi matemático, professor e fotografo. Impressionado com a novidade técnica que era a fotografia, fez muitas fotos do que mais gostava: crianças. E especificamente meninas. Há quem afirme que ele era pedófilo (cf. http://canetapontafina.blogspot.com) . Até porque deixou muitas fotos de meninas e em especial, de Alice Liddell. Muitas foram queimadas pela mãe da garota, junto às cartas que escreveu, mas algumas foram salvas e até publicadas no século seguinte.
O escritor imaginou a aventura de Alice em lugares mágicos ao fazer uma viagem com as filhas do reitor Christ Church, uma delas chamada Alice. A garota gostou tanto da narrativa que pediu a ele que escrevesse sobre o assunto. Surgiram os dois primeiros livros: “Alice no País das Maravilhas” e “Alice no País do Espelho” No primeiro, a menina de 7 anos caia na toca de um coelho e encontrava um reino dominado despoticamente por uma rainha que usava a marca de um naipe de baralho: copas. No segundo, a rainha era uma jovem simpática conhecida como Branca (Rainha Branca). Diversas personagens surgiam no caminho, destacando-se o coelho que vestia roupa de cavalheiro, o gato “louco”, a lagarta fumante (dizia-se de ópio) e o chapeleiro, ou o Chapeleiro Louco. Todos esses tipos foram mencionados na versão cinematográfica atual dirigida por Tim Burton (“Sweeney Todd, o Barbeiro Sanguinário de Elmer Street”, “Edward Mãos de Tesoura”) através de um roteiro escrito por Linda Woovertom.
É natural que a criança ou o adolescente pergunte o que querem dizer aquelas coisas todas que passam diante de seus olhos (em texto ou imagens). Carrol teria sido um critico do regime vitoriano (governo da Rainha Vitória da Inglaterra) onde a obediência a preceitos morais dava cadeia a quem não se portasse “condignamente”. Nesse tom estavam os de outra orientação sexual e qualquer outra divergência no comportamento social. Talvez o autor sentisse essa proibição embora a tivesse ocultado sob a forma de uma fantasia mais próxima dos “contos de fadas”. Depois, a preferência pelas meninas gerou uma heroína que sobrepuja a todos os problemas da época e consegue “sair da toca”. Tim Burton foi além: ao colocar Alice para lutar contra um monstro (Jabberwocky) e, adolescente (aos 17 anos), tivesse a coragem de desprezar um pretendente apoiado pelos pais e membros da corte para um casamento de oportunidade( a época era impositiva ao “destino” das jovens mulheres).
Muitos detalhes da história (livro e filme) escapam aos leitores & espectadores que não dominam o idioma inglês. E há situações pretensamente hilárias próprias do tempo e espaço. O que fica, com as limitações, são tipos e casos que se enquadram no universo da mudança de idade, do gato que ri, do chapeleiro “louco” (e o filme dá proeminência ao personagem até por ser interpretado por Johnny Depp, amigo do diretor), do coelho apressado (a questão da rápida passagem do tempo sentida pela menina-moça) até chegar à imagem da repressão, da incompreensão, no caso uma rainha (seria Vitória ?Seria a mãe de Alice ?) .
Mas interpretações analíticas são vastas e sempre pedem especulações. O que importa no filme de Burton é o visual. Realizado para 3D, mesmo assim a plasticidade salta na projeção comum. E o que desmerece é o acréscimo de seqüências como a luta com o monstro, mais para os filmes de ação do que para a fantasia ou metáforas de Lewis Carrol. Há até quem pense que a construção da luta seria uma imposição dos estúdios Disney. Tudo é possível, embora o desenho saído desse mesmo estúdio, nos anos 70, fosse mais apegado ao texto original. Mas estamos em outro tempo...
O filme está atraindo muito jovem ao cinema. É bom que assim seja. Ele incita a que se queira saber mais sobre o tema.
Cotação: ***(BOM)

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