terça-feira, 20 de abril de 2010

KUROSAWA




O cinema japonês tinha pouca visibilidade no ocidente até o filme “Rashomon” ganhar o Leão de Ouro, primeiro prêmio do Festival de Veneza de 1951. Howard Hughes, então o titular da RKO Radio Pictures, ficou interessado e comprou os direitos para a exibição internacional e, graças a isso, o filme chegou até em Belém. Com o sucesso, o nome do diretor tornou-se conhecido: Akira Kurosawa. Daí em diante seus trabalhos posteriores e anteriores passaram a nos alcançar. “Os Sete Samurais”, por exemplo, foi sucesso de critica e de público em 1954. Quando o Cine Clube APCC atuou em memoráveis sessões no Cine Guajará, Grêmio Português, AABB e auditório do Curso de Odontologia (na Praça Batista Campos), mostras do cinema japonês chegaram a ser programadas e uma semana de filmes de Kurosawa fez a alegria dos cinéfilos.

“Viver”(Ikiru/1952) seguiu “O Idiota” e “Rashomon”. Chegou ao nosso público bem mais tarde se considerado o ano de sua estréia no Japão. Foi um dos melhores filmes do ano em que foi exibido, no entendimento dos nossos críticos. E sobram razões para essa eleição. O roteiro de Shimbobo Hashimoto, Hideo Oguni e do próprio Kurosawa trata de Kanji Watanabe(Takashi Shimura), um burocrata que passou anos cuidando de um arquivo da prefeitura de sua cidade, que descobre estar com um câncer no estômago. Sentindo o vazio de sua existência, sentindo a solidão de seus dias e avaliando que sua vida de funcionário público em nada contribuíra para a solução dos problemas da população de sua cidade, resolve desengavetar um projeto que prevê a construção de um parque infantil, petitório de um grupo de mulheres. Com pressa, já que seus dias estão contados, o servidor quer deixar algo mais do que uma lembrança fugaz.

A narrativa se dá em dois tempos: o presente, e “flash-backs” da vida de Kanji desde a juventude. A justificativa para o titulo “Viver” encerra com uma longa seqüência do funeral do personagem, um tipo peculiar de cerimônia onde as pessoas se reúnem para falar do morto e beber em sua honra.

Em seu livro de memórias Kurosawa cita este filme entre os que mais admirava. E, de fato, é um trabalho consistente e belo, abordando um episódio japonês de repercussão universal. Tornando-se útil sem ser herói se irmana no drama daqueles que lutam pelas melhorias do cotidiano de uma cidade e não têm respostas para suas demandas.
Este ano comemora-se o centenário do mestre que entre outros títulos marcantes deixou “O Homem Mau Dorme Bem”, “Kagemusha”, “Sonhos”, “Ran” , “Dodeskaden”, “Dersu Uzala” e “Madadayo”. Por isso, a ACCPA programou para os espaços onde atua, 3 filmes desse cineasta: ”Dersu Uzala”(no CC_AGM/IAP) que inclusive inaugurou o Cinema 2, em 1978, “Viver”(sábado na Sessão Cult do Libero Luxardo) e mais “Madadayo”(Sessão Cinemateca de 02/05 no Olympia).

Há uma história muito importante para se avaliar o valor de “Dersu...”. Kurosawa entrara em depressão no tempo em que dirigiu “Dodeskaden”, um amargo relato de um menino que imaginava um trem que lhe fazia percorre a favela onde morava. O drama desse personagem levou o diretor a tentar o suicídio. Salvo, ficou sem filmar no Japão até que foi convidado a desenvolver para o cinema, por produtores soviéticos, a história de um lenhador, um homem rude da Sibéria, onde se dá ação do filme, contando com o desempenho de um ator excepcional: Maxin Munzuk(1910-1999). Entre muitos prêmios e aplausos da critica internacional ganhou o Oscar de filme estrangeiro.

“Madadayo” quer dizer “ainda não” e foi o último trabalho do cineasta. Focaliza um professor através de lembranças de seus alunos, e de como ele consegue passar pelos horrores da guerra sem deixar de lecionar. Para um “canto de cisne” a escolha do tema exala poesia e quando foi lançado entre nós, com Kurosawa ainda vivo, a aposta corrente se baseava na resposta à pergunta dos meninos (“Ainda não?” - “Ainda não”). De fato ainda não era a hora de aposentadoria do autor. Kurosawa faleceu em 6 de setembro de 1998. Deixou incompleto “Gendai no No” que está sendo finalizado para lançamento este ano, além de outros projetos que chegou a escrever, inclusive uma série de TV sobre “Os 7 Samurais”.

Dois filmes de Kurosawa geraram versões “westerns” norte-americanas: “Quatro Confissões”(Outrage), vindo de “Rashomon” com direção de Martin Ritt, e “7 Homens e 1 Destino”(The Magnificent Seven) a partir de “Os 7 Samurais”.

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