segunda-feira, 12 de setembro de 2011

BIUTIFUL



Esta semana consegui assistir a um filme que não havia visto no circuito extra onde foi exibido: “Biutiful” (Espanha/México,2010),o novo trabalho de Alejandro González Iñarritu (“Babel”, “Amores Brutos”). Neste exemplar de um cinema fora dos padrões que estamos acostumados a ver num cotidiano de blockbuster & pobreza roliudiana, o cineasta traça o calvário de Uxbal(Javier Bardem), vitima de câncer terminal, médium capaz de conversar com os mortos, obrigado a patrocinar a imigração ilegal de chineses para poder sustentar um casal de filhos, pois a esposa (Maricel Álvarez) de quem está se divorciando não o ajuda, vivendo como prostituta e fazendo do álcool seu parceiro. Pelas condições marginais desse cotidiano, Uxbal está sempre fugindo da policia, mantendo pagamento de propina a um policial para conseguir satisfazer o mercado de trabalho do submundo onde circula.

O sofrimento do personagem não deixa brecha para qualquer traço de ironia. O roteiro de Iñarritu e também de Nicolás Giacobone e Armando Bó (estreante, nada a ver com o antigo ator domesmo nome) explora a servidão humana mostrando aspectos de uma crueldade sem limite. A seqüência inicial capta o personagem num bosque coberto de neve conversando com um rapaz que lhe chama a atenção para o barulho do vento na região. Não se sabe de quem se trata. É a única cena em que o sofrido herói consegue rir. Mais tarde o enigma é desvendado: o personagem é o pai que Uxbal não conheceu, morto ao fugir da ditadura Franco na Espanha. Em seguida passa-se a acompanhar a rotina das diversas figuras que circulam no seu cotidiano, em um cenário miserável onde permeia o banditismo seja com o trafico humano ou o tóxico,seja com o modo de iludir o serviço de imigração.

Não há brechas, em mais de duas horas de filme, para certas amabilidades entre essa turba que sobrevive. A pontuação narrativa estabelece o fulcro da questão: que pessoas são essas que insistem em sobreviver? Por amor, por compaixão, por respeito ao outro (cf. o carinho deUxbal para os imigrantes chineses, pelos filhos, pelas pessoas que pedem sua ajuda), por necessidade de se manter para garantir a sobrevivência de outras de quem é responsável? O tipo é um homem bom em meio aquele caos de podridão.

O cineasta dedica seu trabalho ao pai. Isto quer dizer que a realização teve as melhores intenções. O desempenho de Bardem pelo modo como ilustra tudo é magistral. Através dele se observa a ironia do nome que a filha de Uxbal escreve de acordo com a pronúncia em espanhol do que significa beleza em inglês (beatiful).

O filme é bem realizado explorando a crueldade sem trégua da vida. Sente-se na pele aquele mundo de misérias onde não há lugar para cidadãos que teimam em viver. Um dos filmes que deve estar entre os melhores do ano.

Outro lançamento na Foxvídeo é “A Filha de Minha Mulher” (Beau Pére/França,1981), de Bertrand Blier (“CoraçõesLoucos”). Com a morte da esposa, o musico sem sucesso Remy (Patrick Deware) assume o cuidado da enteada (Ariel Besse) posto que o pai dela (Maurice Ronet) é um boêmio ausente. Logo o padrasto e a jovem se sentem atraídos. O romance chega a um limite quando Remy conscientiza que não é para durar muito a afeição da adolescente.

O filme é muito bem dirigido, realçando os enquadramentos na projeção anamórfica que sabe utilizar o espaço como se em algumas situações tudo se passasse num palco onde os figurantes estariam vivendo a comédia de suas vidas.

Blier, aos 72 anos, ainda está ativo e este filme que ora se vê em DVD é dos seus melhores. Pena que a cópia não tenha sido remasterizada e as cores mostram-se desbotadas sem que isso tenha a ver com a história.

DVDS MAIS LOCADOS (FOXVIDEO)

  1. Água para Elefantes
  2. Sexo sem Compromisso
  3. Pânico 4
  4. Em um Mundo Melhor
  5. Caminho da Liberdade
  6. Padre
  7. Biutiful
  8. Não me Abandone Jamais
  9. Sucker Punch - Mundo Surreal
  10. Se Enlouquecer, Não Se Apaixone

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