quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NOITE DE ANO NOVO


Os votos de um bom ano novo chegam antecipados no filme “Noite de Ano Novo”(New Year’s Eve/EUA,2011) de Garry Marshall.
O diretor havia realizado, ano passado, “Idas e Vindas do Amor”(St Valentine’s Day/EUA,2010) onde reunia diversas personagens interpretadas por atores conhecidos, em vinhetas que se misturavam no Dia dos Namorados (Dia de São Valentim) norte-americano. Agora a fórmula persiste tendo como foco a noite de entrada de ano novo, no Times Square de Nova York. Ali é tradição uma gigantesca bola iluminada cair de uma torre exatamente quando o grande relógio marca meia-noite. A multidão que espera o ato vibra com o que considera uma cerimônia a assinalar o final de um período – e inicio de outro.

Episódios que recortam as horas que antecedem a entrada do ano evidenciam vários dramas humanos, por exemplo, a agonia de um moribundo (Robert De Niro) que descarta a idéia de ingerir anestesico desejoso de assistir a queda da bola antes de morrer. Conta com a ajuda da enfermeira (Halle Berry) e da filha (Hillary Swank), esta encarregada de checar o mecanismo da ascensão e queda da bola, no caso, muito preocupada, pois houve um problema técnico na montagem do objeto e um eletricista antigo chamado para intervir fora demitido poucos dias antes da função. Acompanha-se também a mulher de meia idade (Michelle Pfeiffer) que se demite do trabalho onde viveu sempre por causa da intransigência do patrão que não lhe deu o período de férias solicitado. Vê-se, igualmente, a inusitada situação da cantora Elise (Lea Michele) presa em um elevador com Randy (Ashton Kutcher), jovem que não aceita as manifestações populares do período. E ainda a expert de uma doceteria, Laura (Katherine Heigl) às voltas com os preparativos do bufet de um restaurante, mas ansiosa pela presença do ex-namorado, o cantor Jensen (Jon Bon Jovi) que pretende reatar o relacionamento. E mais tipos e mais situações que nem sempre deixam a tela quando chega o novo ano. São pequenos “cuts” que se juntam numa só noite esperando desfechos variados.
Naturalmente que uma abordagem rápida e superficial de tantos tipos não gera qualquer densidade desde que o objetivo maior seja o encontro desses tipos. Mas ainda assim o núcleo da história poderia gerar mais substância como fez Robert Altman em “Cerimônia de Casamento”, “Prêt- a-Porter” ou “Nashville”. Essa qualidade não é pensada pelo veterano (77 anos) Marshall, diretor que ficou conhecido com “Uma Linda Mulher”, filme que revelou a atriz Julia Roberts.

O que o cineasta e a Warner desejaram foi aproveitar o período e lucrar com a volta da fórmula bem vendida em “Idas e Vindas do Amor”. Pode-se dizer que tiveram sucesso apenas moderado, pois embora na abertura de carreira o filme tenha conseguido o primeiro lugar nas bilheterias, até hoje soma apenas 24.8 milhões (para um orçamento de mais de 100). De qualquer forma é um dos cartazes mais festejados do período nos EUA. E deve cobrir os custos ao redor do mundo onde ainda existe o fascínio do “star system” e há quem vá ao cinema pelos atores. Isto sem falar nos votos de feliz ano novo. Se em DVD era uma lembrança a chegar à casa de um/a amigo/a como um cartão de festas...
O que o público mais crítico deve observar numa leitura desse filme é o foco da produção roliudiana encarando o cinema como a mercadoria que vai captar espectadores e submetê-los à lavagem cerebral tradicional.

Quando esse tipo de produto é tratado neste espaço como outras obras mais densas, objetivo mostrar o que é o cinema e o que representam certos filmes no processo de formação das mentalidades, evidenciando o diferencial entre a narrativa “digestiva” e a investigativa ou contemplativa. É importante observar isso sem obrigar o público a considerar o “lixo” só pelos nossos olhos. Mesmo porque, ouve-se ou lê-se comumente que “filme de crítico é cerebral e o público passa ao largo”.
“Noite de Ano Novo” é o apelativo conceito do uso do “star system” e de “short-cuts” que não dão espaço a uma análise mais densa sobre tema e construção deste.

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