terça-feira, 1 de outubro de 2013

ELYSIUM



Wagner Moura e Matt Dammon em "Elysium"

Muitos fatores levam os autores de ficção cientifica a pensar num futuro pessimista para o nosso mundo. Especialmente os criadores de roteiros para o cinema. “Blade Runner”(1982) foi um deles mostrando replicantes androides e humanos numa Terra gósmica, mas, nos últimos anos tivemos, por exemplo, “Wall E” (2008), “Oblivion” (2013), e, agora, “Elysium”. Nos 3 filmes, a Terra de um futuro não muito distante (ainda neste milênio) está arrasada, consequência de guerras e poluição, com os seres humanos habitando estações espaciais onde vivem confortavelmente desde que tenham posses para isso. Só em “Wall E”, excelente animação da PIXAR dirigida por Andrew Stanton, não há seres vivos no planeta. Um robô faz a faxina do que restou das catástrofes provocadas por fatores que não são esmiuçados. Mas chega o dia em que surge uma pequena planta. E o robô incita quem vive na estação espacial a voltar a seu mundo de origem. Os outros filmes não deixam a Terra vazia, mas quem fica no chão é miserável e refugo de guerras nucleares.
“Elysium”(EUA, 2013) é de autoria de Neill Blomkamp, cineasta sul-africano que chamou a atenção de Hollywood com o seu modesto “Distrito 9”(District 9, 2009) onde extraterrestres aterrissam em uma favela na Africa e são alijados pelos próprios moradores do lugar. O filme inspirado não so no “appartheid” como na eterna luta de classes foi candidato a 4 Oscar, recebeu 15 prêmios internacionais e 52 outras candidaturas. O bastante para dar ao cineasta um orçamento muito maior para esta sua historia também do gênero que o consagrou (“Distrito 9” foi o seu primeiro longa-metragem).
Matt Dammon protagoniza Max, um operário que vive na Terra arrasada de 2159. Ao ser vitimado por radiação no trabalho, sabendo que só pode se curar na estação espacial Elysium onde vivem os ricos (o mundo é dividido entre duas classes), procura de todas as maneiras uma passagem clandestina. Pede auxilio ao traficante Spider (Wagner Moura) que fomenta uma revolução capaz de derrubar a proeminência dos milionários da cidade espacial.
Mas além do caso de Max há o de Frey (Alice Braga), colega dele de infância, que está com uma filha menor portadora de leucemia e tem conhecimento de que a doença pode ser tratada em Elysium. Um pacto entre Max e Spider antecede a acidentada viagem do primeiro e a luta para derrubar o governo da cidade-modelo então comandada pela secretária de governo Rhodes (Jodie Foster) tem inicio. E na própria estação espacial há intrigas palacianas, com novos pretendentes ao posto máximo embora esses conflitos internos sejam para uma mudança na estrutura do processo de decisão política sem que isso favoreça abrir mão para os necessitados do planeta.
O conteúdo evoca um novo Cristo no comportamento de Max, pois este intenta uma ousadia: o retorno à igualdade entre as pessoas. Mas a narrativa sucumbe ao modelo padrão de blockbuster e o que se vê é primordialmente a batalha para derrubar a supremacia de Elysium. Muitos efeitos especiais com todos os senões de hábito (como ruídos no espaço, quando se sabe que por lá não se propaga o som) entram em cena para agradar plateias e com isso dar o lucro esperado pelos produtores.
Uma reportagem editada em uma revista sobre cinema informa que a escolha dos dois atores brasileiros deveu-se ao fato de no Brasil existir muitas favelas e Wagner Moura ter sido interprete de filmes onde se trata de favelados (“Tropa de Elite”). Preconceito à parte, o diretor ganhou muito com o empenho, especialmente, de Wagner. Ele não está em muitas sequencias, mas convence no que lhe dão para fazer. Se formos avaliar os protagonismos, Moura é a terceira eminência do filme.
Ainda vitimado pela megalomania dos estúdios, privilegiando a ação, “Elysium”sofre de um liame melodramático na amostragem do relacionamento entre Max e Frey, intercalando-se mais de uma vez cenas dos personagens em criança para mostrar o peso de uma amizade. Não chega (e ainda bem) a um romance, mas justifica na fórmula o sacrifício do personagem num epilogo esperado.
Um filme apenas interessante. Poderia ser muito bom se privilegiasse o tema. Contudo, deve ter promovido o diretor Blomkamp nos padrões da indústria.


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