Marion Cottilard em "Ferrugem e Osso"
Adaptando o conto do canadense Craig
Davidson, o cineasta francês Jacques Audiard aborda, no seu filme “Ferrugem e
Osso”(De Rouile et Os, França, 2012) a história de Ali (Matthias Schoenaerts) um
boxeador desempregado que precisa brigar em lutas clandestinas para sobreviver
após uma lesão. Ele vai da Bélgica para a França hospedando-se na casa de
sua irmã e procurando dias melhores para o filho de pouca idade. Quando conhece,
em uma briga de bar, a jovem Stephanie (Marion Cottilard), funcionária de um
aquário público, a situação ganha um novo caminho. Nasce um romance, mas a
jovem que treina orcas sofre um acidente dentro do aquário, tendo as duas pernas
devoradas pelo animal. Daí em diante, o pugilista belga ao invés de diminuir
seus encargos acha outro: há de cuidar de si, do filho e da namorada.
“Ferrugem e Osso”(De Rouile et Os, França,2012)
é um filme do diretor de “O Profeta” (2009), Jacques Audiard, vencedor de 21 prêmios e recebendo 33 indicações em
mostras internacionais de cinema. Marion Cottilard, ganhadora do Oscar por
“Piaf” (2007) chegou a ser indicada ao Globo de Ouro pela personagem.
É de supor que o resultado do trabalho
tenha sido demasiadamente aplaudido. Além dos bons desempenhos da dupla
principal há pouco a se ressaltar na odisseia dos personagens. Impressiona,
sim, o efeito especial utilizado para mostrar as consequencias do acidente da
jovem atacada pela orca que ficou sem as duas pernas. Mas não se trata de um
filme sobre um acidente. O que o roteiro do diretor e de Thomas Bigani com base
numa historia do estreante Craig Davison quer ver é o que sentem as figuras
expostas, como se dá um recomeço na vida de alguém que perde alguns dos
objetivos de vida no campo pessoal e profissional. E para isso se vale da
fotografia de Stéphane Fontain, da música de Alexandre Desplat e das locações
apresentadas sem a preocupação turística, além do desempenho magistral de
Marion Cottilard. Tudo , no entanto, sem deixar os traços de um melodrama que
não se furta até de um “happy end”. Para tanto, a narrativa é acadêmica, nunca
muito fria ou propositadamente distante do que tende a contar.
“Ferrugem e Osso” repousa na
reconstrução de suas principais personagens. Uma é reconstituição moral, outra
física. As duas pessoas se unem por traumas nessas configurações. Compreende-se
isso, ganhando maior dimensão quando Ali supreende o filho mergulhado no mar
gelado ao passear de trenó com ele, e no modo como se desespera com o acidente
desfazendo a imagem que o mostrou indignado com o menino dizendo que “o
odeia”(momento de raiva momentânea, produto de sua dificuldade em se manter sem
precisar do auxilio da irmã que, alem dos problemas de família é despedida do
emprego de caixa de um mercado). Mesmo tratando de um quadro dramático intenso,
Audiard não busca de linguagem introspectiva que afinal se faria sentir dentro
dos casos traumatizantes. A vantagem, se é que assim se pode chamar, é que o talento
dos interpretes obstrue um melodrama em potencial. Mesmo que o epílogo ceda
espaço a um momento afetivo que, a meu ver não pode faltar naquela amalgama
dolorosa de duas vidas que sucumbiram e renascem.
Ao assistir “Ferrugem e Osso” e avaliar
o drama de quem sofreu sérias adversidades contribuindo para a dependencia
física e afetiva desses tipos, comparei a outro caso que tive acesso esta
semana, da morte em vida de uma familia – mãe e irmãs – que perdeu seu filho e
irmãos de forma trágica. Lastimei sinceramente essa situação e lembrei que as
familias de Santa Maria (RS) poderiam estar nessa mesma situação, alguns com a
morte de todos os filhos. Este parágrafo reflete minha associação entre o filme
e o caso real.
Marion Cottilard e Mathias Schoenaerts
provam seus talentos em personagens difíceis de serem interpretadas no tipo de
linguagem que foi explorado pelo diretor. Estiveram entre os premiados
merecidamente. O filme está em últimas exibições no Cine Libero Luxardo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário