Orlando Bloom em "Paixão Obsessiva".
Nestes tempos de “vacas-magras” do tipo blockbuster no cinema
comercial, os filmes em cópias em DVD ( e outras mais sofisticadas) se tornam a
salvação do cinéfilo, digo, aquele que não só assiste tudo, como tem suas
exigências estéticas e, também, mantém uma média de um filme/dia assistido (há,
sim, esse tipo. Conheço ao menos dois nesse modelo). Dessa forma, meus textos
das segundas feiras apela para essas indicações. Dai as referências de hoje.
Em “A Revolta do Amor” (L’Amour Braqué/ 1986) o cineasta polonês
Andrzej Zulawski lembra o seu filme mais conhecido, “Possessão”(Possession, 1981)
aplicando uma linguagem que um critico chamou de histérica para o comportamento
de personagens que se conhece na primeira sequencia assaltando um banco e logo
passa a ver um deles buscando sua amada que se insere no grupo de “loucos”. O
filme não chegou a ser exibido nos cinemas ou cineclubes locais. Chega agora em
DVD e merece ser conhecido.
Também só em DVD “De Coração Aberto” (À Coeur Ouverte, França, 2012)
drama ambientado no meio médico onde Juliette Binoche protagoniza uma cirurgiã cardíaca
trabalhando com o marido alcoólatra e quando este é demitido por não assumir
seus compromissos ela engravida e se torna difícil manter o ritmo de atividades
no hospital onde trabalha. O filme caminha para um final em aberto sem que isso
represente um tempo achado. Mesmo assim a argumentação explora as relações
entre um casal que supostamente se ama enfocando momentos de violência
doméstica. É, também, um dos bons momentos da atriz, uma das mais solicitadas e
inteligentes do cinema europeu atual. Direção de Marion Lane de uma novela de
Mathia Énard.
Inédito também por aqui é “O Mistério da Passagem da Morte” (The
Dyatlov Pass Incident, EUA, 2012) de Renny Harlin. Evidenciando o enredo, a
técnica narrativa do falso documentário inaugurada com “A Bruxa de Blair” vê o
que acontece a um grupo de estudiosos que procura a causa do acidente que
vitimou uma exploração cientifica russa nos anos 50, nos Urais. A câmera
registra a rotina das personagens e quando elas desaparecem o que se vê é o que
gravaram e foi encontrado (tal como no caso de “A Bruxa...”).
A recorrência a esse tipo de narrativa vem fazendo-a reconhecida
como sem imaginação. Não é isso o que demonstra este filme. O caso dos rapazes
e moças que sobem a montanha gelada atrás de pistas de quem os precedeu não
deixa de ser interessante. Mesmo porque eles não definem as causas dos fatos,
mas alimentam o mistério.
E ainda no grupo de inéditos está “Paixão Obsessiva”(The Good
Doctor, EUA, 2010) de Lance Daly. Candidato a 6 prêmios no Festival de Milão
apresenta Orlando Bloom como um jovem médico que ao se sentir sem tanta
experiência em comparação aos colegas veteranos aproveita o caso de uma jovem
com problemas renais para não só administrá-lo como colocá-lo em exclusividade
no tratamento iniciado, sem contar com complicações que chegariam e que
estariam além de suas forças. A
narrativa não procura elevar o padrão para um estudo do personagem,
contentando-se em explorar o fato em linguagem linear. É o terceiro trabalho do
diretor.
Inédito também é “Hoje” (Brasil, 2012) de Tata Amaral, filme que
focaliza o período da ditadura (1964-85) com material de arquivo e participação
de figuras conhecidas como Denise Fraga e César
Trancoso. No roteiro exemplar está Jean-Claude Bernadet. O tema evidencia a historia
de uma mulher que o espectador vê chegar
em uma casa vazia e aos poucos observa-se que ela está de mudança para esse
espaço. Ela se acha viúva, pois, o marido teria desaparecido no período
ditatorial. Quando consegue ser reconhecida dessa forma e adquirir sua casa uma
visita inesperada acontece. O filme tem legendas em português como, aliás, deveria
ser rotina nessa produção nacional considerando-se o péssimo som de alguns
cinemas e vídeos. Denise Fraga está muito bem, com a narrativa tendente mais ao
monólogo, embora a segunda personagem incite a nossa convicção de que
representa o momento da catarse de um tempo infeliz que viveu. E o importante:
nessa catarse há o momento da verdade. Um filme imprescindível para os
estudiosos do golpe de 1964 no Brasil. Veja sem falta.
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