Sandra Bullock em "Gravidade"
O espaço sideral já foi elemento objetivado no cinema além
da máquina de Hollywood, em filmes como “Solaris” (1972) de Andrei Tarkoviski e
“2001 Uma Odisseia no Espaço” (1968) de Stanley Kubrick. Presentemente, o diretor
mexicano Alfonso Cuarón, 51, visita o cenário no seu especialmente audacioso
“Gravidade” (Gravity, EUA, 2013) onde ele e o filho Jonás resolvem tratar de situações
envolvendo dois astronautas virtualmente perdidos na imensidão sideral quando
são arremessados para longe da estação espacial que consertam e ficam à deriva
até que possam, com jatos de suas vestes, alcançar outra estação e, enfim,
achar viável o retorno ao planeta-mãe.
Segundo uma entrevista, o diretor de “E Sua Mãe Também”
(2001) disse que desejou usar a ficção cientifica como metáfora de um drama que
pensa o ser humano fora de seu “habitat” e, por isso, sentindo, de forma
explicita, o deslocamento emocional causado por algum trauma de onde veio. No
caso que ele e o filho focalizam, envolve uma jovem engenheira biomédica, Ryan
Stone (Sandra Bullock) que perdera uma filha criança em um acidente escolar e
tenta dissipar a dor no trabalho, estreando na qualidade de astronauta. Ela e o
colega Matt Kowalski (George Clooney), este veterano e já em final de carreira,
estão fora da nave, soldando uma antena, quando recebem mensagem para voltarem
a seus postos, pois, fragmentos de um míssil russo podem atingi-los. Infelizmente o aviso não chega a tempo e
eles são desgarrados da nave e ficam à deriva no espaço. Os 90 minutos de
projeção cobrem, em sua maioria, a jornada de Ryan (principalmente ela) no meio
do nada, rodopiando no espaço onde não existe ar, nem (obviamente) som, sem
proteção de raios cósmicos além de seu traje, e com o oxigênio do capacete em
rápida diminuição.
O filme não é uma proposta realista de uma aventura
espacial. Há desníveis que os especialistas podem achar sem grande dificuldade.
Mas a angústia pretendida passa ao público. E Cuaron ousa até a inserir momentos
poéticos: quando Matt parece adentrar na estação onde já se encontra Ryan, o
espectador, em principio, se impressiona com a falha do roteiro em se ver o
astronauta entrar no recinto sem prejudicar a colega que já está acomodada
dentro dele. Mas a sequência é onírica e os dois conversam, falam de seus
problemas, e o dialogo parece dar força à médica que fatalmente se encaminha
para um estado depressivo. Também há um momento sensível em que ela pede, se
morrer, que vá ao encontro de sua garotinha. Sandra Bullock convence no tipo
que investe.
É lugar comum dizer que os efeitos especiais de filmes de
Hollywood são esmerados. Mas “Gravidade” não teve um orçamento de blockbuster e
usou os efeitos como base de seu argumento. Interessa dimensionar o que se diz,
no inicio, a guisa de prólogo, que o ser humano não pode viver no espaço e,
mais adiante, fazendo um contraste, como a Terra mostra-se belissima vista de
cima (os planos do planeta são reais, de fotos captadas do espaço). Este
contraste entre o belo e o horror consegue ser transmitido e justifica o filme
de um final que desloca a narrativa do rigor científico e prefere grifar a
metáfora pretendida pelo diretor sem o apoteótico contumaz. Mesmo assim as
imagens, a seguir uma realidade mostrada muito bem por Ron Howard em “Apollo
13” (1995), podem ser defendidas.
O drama do terráqueo entre múltiplos conhecimentos
aprendidos para realizar uma situação estável dentro ou fora de uma nave
espacial é divisado na narrativa como algo novo para a biomédica e com mais
proficiência para o veterano seu parceiro. Na tensão em escolher os meios de
fugir às maquinações do destino ao seu redor com marcadores específicos para
qualquer situação Stone se perde havendo o chamamento da experiência para o que
poderá usar como estratégia de retorno à Terra. O momento da descoberta de seu
empoderamento diante da máquina que tende a levá-la para o caos é decisivo para
o enfrentamento de nova exposição aos destroços do missil russo e aproximação entre
a Soyuz
com a estação espacial chinesa Tiangong que está próxima visando recuperar
outro módulo que pode levá-los à Terra.
“Gravidade” é recorde histórico de bilheteria nos EUA com
lucro nas bilheterias, na primeira semana, em US$ 50 milhões e US& 40 na
segunda. O custo não passou de US$ 60. Isto prova que a inventividade, o
talento e a capacidade técnica de uma equipe são permeáveis a todos. Parabéns
aos Cuarón.
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