domingo, 9 de novembro de 2014

ANABELLE

Annabelle, a boneca endiabrada.

Os filmes de terror sempre ganharam espaço na indústria cinematográfica levando-se em conta que as plateias gostam desse gênero e sintonizam com os sustos. Pode-se comparar com aquelas visitas a brinquedos de parque de diversão tipo “Trem Fantasma” ou “Gruta Misteriosa”. O visitante sabe que tudo é fantasia, mas se assusta quando surge um esqueleto à sua frente.
Quem teve bom desempenho com o gênero foi o expressionismo alemão. O diretor Robert Wiene (1873-1938) ganhou fama com “O Gabinete do dr Caligari”, em 1919, embora o crédito seja historicamente devido a Carl Meyer (1894-1944), escritor judeu que trabalhou com F. W. Murnau em “A Última Gargalhada” (1924) e “Aurora” (1927). Ele escreveu “O Gabinete do dr,Caligari” para o teatro, por ser um perfeccionista trabalhava lentamente e por isso entrava em conflito com os financiadores de filmes.
No inicio do cinema sonoro os títulos da Companhia Universal ganharam a simpatia das plateias e seus filmes como Dracula, Lobisomem e outros monstros vindos da literatura chegaram aos ingleses nos anos sessenta com a produção da Hammer Films, os melhores títulos dirigidos por Terence Fisher (1904-1980). Hoje o terror está em muitas produções que lembram por seu baixo orçamento as criações do diretor William Castle (1914-1977) nos anos 1950.
O filme “Anabelle” (EUA, 2014) que está fazendo tanto sucesso de publico nas salas aonde se acha em exibição, podia ser assinado por Castle, mas é um filme de John R. Leonetti, diretor de fotografia do recente “Invocação do Mal” (de James Wan), com suficiente tirocínio para fazer valer todos os clichês do gênero. E desde os primeiros planos se encontram esses elementos: um casal jovem, ela bonita e grávida, chegam a uma bela casa onde moram, em meio a enlevos românticos. No quarto de trabalho onde costura, a jovem enfeitou de bonecas de todos os tamanhos, seu “hobby”. Certo dia seu marido chega em casa com uma grande caixa onde a esposa encontra a boneca de seus sonhos, que ele dá de presente antecipado a ela. Uma noite, o casal ouve brigas na casa de seus vizinhos e o marido vai verificar. Chega assustado, chama a polícia, mas os invasores já estão em sua casa onde agridem e esfaqueiam a mulher. Os assaltantes morrem pelas balas da polícia, os agredidos são levados ao hospital.
Obviamente a boneca participa desse encontro violento posto que na montagem ela é focalizada em planos próximos entre as cenas. O marido chega a jogar a boneca na lata do lixo haja vista as marcas de sangue na roupa da mesma. E é natural que eles se mudem para um apartamento, as situações aterrorizantes segue nesta mudança, inclusive pela volta da boneca (a Anabellle do titulo, por sinal protagonista de “Invocação do Mal”) com uma nova fonte de temor: a presença da criança que nasce e muitas vezes é deixada no berço pela mãe que vai a outros afazeres.
O que o filme difere do comum do gênero é a menor participação dos artifícios de linguagem, como os acordes em momentos de tensão e os relâmpagos em meio a tempestades que reforçam o quadro de isolamento das personagens (mesmo dentro de casa). O diretor mostra competência no arranjo do material disponível e ainda utiliza muito bem o uso da arquitetura dos planos como o corredor do apartamento onde a profundidade de campo funciona ao mostrar a mãe ao longe procurando a filha que de repente sumiu do berço. E outras sequências nessa linha.

“Anabelle” é um exemplo de filme comercial em que os produtores estimam lucro. Tanto que sugere uma sequência  quando se vê a boneca sendo comprada por outra pessoa. Estranho é que a tal boneca “renasce” sistematicamente, na narrativa, supostamente envolvida em situações que demonstram ser ela receptora de uma entidade do mal. Mas em se tratando de objeto de terror uma “ressurreição” é sempre possível. 

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