sábado, 1 de novembro de 2014

DEPOIS DAS FLORES


Hana no ato, Depois das Flores, o filme de Kenji Nakanishi 
Dizia-se que os filmes de Akira Kurosawa (1910-1998), os que revelaram o cinema japonês no ocidente depois do premio em Veneza para “Rashomon” (1950) não eram considerados, pelos japoneses, como característicos de sua cultura. Mais tarde, conhecendo as obras de Yasujiro Ozu (1903-1963), de Kenji Mizoguchi ( 1898-1956), de Kaneto Shindo (1912-2012) e outros diretores, fomos aprendendo que, de fato, há um outro lado do cinema nipônico.  Mesmo assim, os filmes desses cineastas renomados, com prêmios em festivais, carregavam um apego universal, ganhando fácil exportação e consequente mercado. Se é possível considerar “um filme bem japonês” seria como este “Depois da Flor” que está entrando em cartaz no cinema Olympia, através da Embaixada do Japão.
“Hana no ato” (Depois das Flores, Japão, 2009) faz parte de uma trilogia do escritor Fujisawa Shuhei (1927-1997) que privilegiava a ficção histórica, já tendo sido abordada pelo cinema. O filme dirigido por Kenji Nakanishi trata de Ito (Keike Kitagawa), a personagem principal, contando a sua historia para a neta. Desde criança ela fora estimulada a usar espada pelo pai e, na idade adulta, conhece um samurai que acredita em sua eficiência como espadachim, uma raridade à época em que a mulher era relegada a trabalhos domésticos a serviço de seu “amo” (marido ou genitor). Esse reconhecimento leva a jovem a se apaixonar pelo estranho. Mas ela está prometida em casamento para outro samurai e no decorrer do tempo sabe que seu amigo de antes havia se suicidado em consequência de uma intriga com familiares. Decide vingar esta morte e enfrenta hábeis espadachins. Mesmo demonstrando o papel não estratificado da mulher, o final revela Ito compreensiva aos mandos paternos e observando as flores de cerejeira que teimam não cair (uma metáfora de que as mudanças da hábil lutadora não implicam numa mulher-samurai). Nesse caso, há coerência em abordar essa questão, pois, sabe-se que a cultura japonesa mantém uma representação patriarcal difícil de fugir àqueles ditames já ultrapassados. Contudo, se há reconhecimento entre os costumes da cultura dos antepassados, muitas das regras nas relações entre os gêneros que o ocidente tem demonstrado avanço, não seria possível encontrar nessa cultura. Seguir as normas dos antepassados é manter o fortalecimento da tradição e sabe-se que esta é uma regra fortemente cultivada.
Imagens belas e lutas esmeradas fazem do filme um espetáculo para os olhos. A beleza plástica está acima do conteúdo que poderia ser mostrado como incitante ou renovador se fosse essa a proposta. Não conhecendo a trilogia que afirmam ser a base da historia, “Depois da Flor” é, primeiramente, um filme japonês fora dos limites estéticos endereçados a países distantes. Seria este o exemplo de cinema típico que reclamavam os que viam comercialismo em Kurosawa.
Impressiona, sobremodo, as sequencias de luta. Com uma edição que deixa planos sucessivos de ângulos diferentes há ritmo e consegue a analogia com o balé, afinal, a magia formal de um gênero dramático. Crédito para Yishiyuki Okuhara (editor), Katsumi Kaeda (diretor de arte) e Tokusho Kikumura(fotografia). A leveza no desempenho da personagem conduz o filme aquele momento de sublimação entre a magia dos lances da luta marcial e a dança clássica japonesa.
O filme esteveem cartaz no Olympia em distribuição da filmoteca do Consulado do Japão. Diariamente (exceto 2ª) às 18h30 com entrada franca.
Em tempo: o lançamento se prende a um trio de produções japonesas programado para o cinema centenário de Belém. Depois do muito bom “O Chef do Polo Sul”, e deste “Depois das Flores”, vai chegar a animação “Hoshi O Kodomo” ou, em inglês, “Childern Who Chase Lost Voices”(Crianças que buscam Vozes Perdidas). Uma amostra de que o gênero no Japão não se limita à genialidade de Hasao Myiasaki (de “Chihiro”). Este um filme candidato a 3 prêmios internacionais e aplaudido pela critica de muitos países. A coluna tratará dele por ocasião de seu lançamento local.


Um comentário: