Tim Maia e Roberto Carlos ainda no "The Sputnick"
As cinebiografias não representam novidade. Nos últimos anos o cinema
brasileiro biografou, na área musical, Luis Gonzaga (“Gonzaga de Pai pra
Filho”) e a dupla Zezé de Camargo e Luciano (“Os 2 filhos de Francisco”) filmes
dirigidos por Breno Silveira. Antes do final do ano veremos mais 3: “Trinta” (sobre
Joãozinho Trinta, o carnavalesco), e também “Irmã Dulce”. “Tim Maia” (2014)
chega na frente, em exibição em varias salas do país. O gênero já fez sucesso
nas livrarias a ponto de despertar uma polêmica com personalidades ainda vivas
que defendem a não permissão de biografias escritas por outrem. Querem a
permissão prévia dos relatos sobre si.
“Tim Maia” talvez seja a mais ambiciosa dessas cinebiografias. Com 140
minutos de projeção retrata o cantor que viveu 55 anos do século passado,
ganhando espaço na musica popular a ponto de suas composições serem cantadas
pelos mais expressivos interpretes do gênero e por ele próprio, um tipo que
exibia a face rebelde tão querida da juventude do rock’roll.
O filme escrito e dirigido por Mauro Lima (no roteiro também assina
Antonia Pellegrino) é baseado no livro de Nelson Motta - Vale Tudo- O Som e a Fúria de Tim Maia. Repassa
a vida do menino pobre residente no bairro da Tijuca (RJ), começando cedo a
trabalhar levando marmitas com o que fazia a sua mãe na cozinha caseira,
conseguindo depois trabalhar em um bar e demonstrar seu talento musical (ele escrevia
e cantava suas canções). Nessa hora conheceu Roberto e Erasmo Carlos e chegou a
fazer parte de um quarteto – “The Sputniks” – que se apresentava nas casas de
show menos conhecidas em 1957, onde estavam Arlênio Lívio, Edson Trindade e
Wellington Oliveira. Ambicioso, Tim, que na verdade se chamava Sebastião
Rodrigues Maia, teve seu apelido Tião mudado por Carlos Imperial, na época
empresário de cantores no
programa Clube do Rock, da TV Tupi, e o
primeiro a apresentar o grupo Jovem Guarda, no caso lançando-os nessa tevê pioneira.
Tim embarcou para os EUA com pouco dinheiro e ganhando passagem dos padres
posto que foi educado num colégio religioso. De nada serviu o tempo que passou por
lá (1959-1963) onde montou uma minibanda e gravou um disco compacto. Aprendeu a
falar inglês e de seu envolvimento com drogas e roubo de carros foi preso,
sendo deportado para o Brasil. De volta, procura Roberto Carlos, já um ídolo
popular, e com muito scrifício consegue espaço no meio artístico. Mas se Tim
Maia se torna um nome nas marquises também se transforma num obeso drogado e agressivo.
Não acreditando em si mesmo tenta até seguir uma religião, o Racionalismo
Cristão, a partir do contato com os livros da Cultura Racional e em 1975 lançou
os albuns Tim Maia Racional (vl. 1 e 2). Pouco depois descobre ser minitrada
por um “vigarista” e acaba seus dias entre sessões de drogas entre as
apresentações musicais.
O flme é narrado em off por um suposto amigo do cantor & compositor.
Não conheço o livro de Nelson Motta e por isso não posso dizer se a narrativa é
dessa forma. Mas em linguagem de cinema é linear quase sempre (o que é
caracterizado por alguns, como didático), com poucas incursões temporais em
meio ao que está sendo contando. Com um inicio em preto e branco e um cuidado
cenográfico na amostragem do Rio antigo, ganha credibilidade no talento dos
dois interpretes de Tim: Robson Nunes, na fase jovem, e Babu Santana, na
adulta. Ambos estão excelentes, em especial Babu que se parece muito com o
verdadeiro Tim e compõe com maestria o artista que tenta dissipar a depressão
com exibições de violência (verbal e física).
O filme se inscreve bem entre as melhores cinebiografias nacionais. A
liberdade de expressão o torna possível nos dias de hoje quando, felizmente,
saímos de censuras diversas. O que se espera é que o público prestigie o
trabalho de Mauro Lima (de "Meu Nome não é Johnny").
“Tim Maia” mostra que o cinema nacional de agora não deve só ao que exigem de
Leandro Hassum.
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