Imagens do documentário de Eric Laurence
Focalizando dois amigos – Eric Laurence, o
cineasta, e Mário Duques - estes personagens se juntam e imaginam um argumento
com base no ideal do segundo em viajar pela America do Sul em especial pelo
deserto de Atacama. Compraram as passagens, discutiram o roteiro e se muniram
do equipamento necessário para fazer um documentário de viagem. O problema é
que em meio à realização do filme se instala a doença de Mario, um câncer no
fígado. Este lutaria contra a doença por quatro anos e por isso o projeto “Uma Passagem Para Mário” (Brasil, 2013) passou do esquema de um aspecto turístico, ou mesmo de um “road movie” para uma
reflexão sobre vida e morte, levando em conta o sonho do protagonista em viajar
por novas terras como o símbolo de uma obra inacabada.
Por se tratar de uma obra incompleta,
a impressão que fica é mesmo de que o filme não termina. Bem verdade nem se
encontra uma narrativa linear que especifique o projeto e os percalços
encontrados para que fosse realizado. Veem-se nos planos iniciais os ensaios
com a câmera (pequena), ouvindo-se vozes de quem está sendo filmado, e momentos
da família de Mario como o abraço que ele dá no pequeno sobrinho. O tremor da
imagem ratifica a ideia de Eric em seguir o modelo do que se chama “cinema
verdade” e que foi explorado na França por intelectuais como o antropólogo
Edgar Morin e o engenheiro e sociólogo Jean Rouch.
Algumas imagens pedem licença ao
estilo de Eric e se vê Mario numa cama de hospital recebendo infrmes sobre a
fase de sua saúde. Em off ouve-se a sua indagação ao médico se pode efetuar a tão
sonhada viagem e este se mostra reticente (não se ouve a permissão). Sabe-se,
na sequencia, que o doente está em estado compatível com o tratamento que fez (quimioterapia),
mas não há detalhe da radiografia que o medico tem em mãos e avalia.
Mario certamente pensa em viver o que
lhe resta olhando o que sempre pensou em olhar. Para isso deve o cuidado do
amigo cineasta que segue em diversos meios de transporte com a câmera na mão,
deixando gravados momentos de viagem, seja de caminhonete ou de ônibus, abrindo
espaço para os moradores das regiões, muitos de etnia indígena, e as
construções rudes que se vão espaçando até que se chegue ao deserto.
Pode-se ler “Uma Passagem Para Mário”
como a metáfora de um processo de libertação do ser humano que se acha fraco,
mas tende a superar esta fraqueza comparando a força interior com a natureza
agreste. Tanto que nas sequências finais do filme não se vê mais o
personagem-título. As últimas cenas são das montanhas desertas banhadas pelo
vento. Por ali deve ter desejado passar o autor da ideia que gerou o filme. Mas
em se tratando de “cinema verdade” não se explicita o campo introspectivo. É o
cinema que se vê, o que a câmera capta, deixando com o espectador a substancia
desses enfoques.
As
informações que apresento sobre Eric Laurence vêm do material de divulgação
distribuido pela assessora, Mariana Jacob, da Laurence Filmes: “Ele
é diretor de cinema desde 2000. Ganhou mais de 60 prêmios, incluindo seis no
Festival de Cinema de Gramado de 2005, com o curta de ficção”Entre Paredes”- que fez parte da
seleção oficial de festivais em Roterdã/Holanda (35º Festival Internacional),
Tóquio/ Japão (11ª Short Shorts) e Toulouse/França (18º Festival
Internacional). Também dirigiu outros dois curtas –“O prisioneiro”(exibido no 33° Festival Internacional do Cinema
de Havana, em Cuba) e “Azul” -e
o documentário “No Rastro do Camaleão”,
realizado por meio do prêmio do Ministério da Cultura do Brasil”.
O novo filme de Eric Laurence entra em
cartaz no Cine Olympia em sessões regulares durante esta semana, exceto 2ª e 3ª
feiras.
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