domingo, 9 de novembro de 2014

UMA PASSAGEM PARA MÁRIO


Imagens do documentário de Eric Laurence 


Focalizando dois amigos – Eric Laurence, o cineasta, e Mário Duques - estes personagens se juntam e imaginam um argumento com base no ideal do segundo em viajar pela America do Sul em especial pelo deserto de Atacama. Compraram as passagens, discutiram o roteiro e se muniram do equipamento necessário para fazer um documentário de viagem. O problema é que em meio à realização do filme se instala a doença de Mario, um câncer no fígado. Este lutaria contra a doença por quatro anos e por isso o projeto  “Uma Passagem Para Mário” (Brasil, 2013) passou do esquema de um aspecto turístico, ou mesmo de um “road movie” para uma reflexão sobre vida e morte, levando em conta o sonho do protagonista em viajar por novas terras como o símbolo de uma obra  inacabada.
Por se tratar de uma obra incompleta, a impressão que fica é mesmo de que o filme não termina. Bem verdade nem se encontra uma narrativa linear que especifique o projeto e os percalços encontrados para que fosse realizado. Veem-se nos planos iniciais os ensaios com a câmera (pequena), ouvindo-se vozes de quem está sendo filmado, e momentos da família de Mario como o abraço que ele dá no pequeno sobrinho. O tremor da imagem ratifica a ideia de Eric em seguir o modelo do que se chama “cinema verdade” e que foi explorado na França por intelectuais como o antropólogo Edgar Morin e o engenheiro e sociólogo Jean Rouch.
Algumas imagens pedem licença ao estilo de Eric e se vê Mario numa cama de hospital recebendo infrmes sobre a fase de sua saúde. Em off ouve-se a sua indagação ao médico se pode efetuar a tão sonhada viagem e este se mostra reticente (não se ouve a permissão). Sabe-se, na sequencia, que o doente está em estado compatível com o tratamento que fez (quimioterapia), mas não há detalhe da radiografia que o medico tem em mãos e avalia.
Mario certamente pensa em viver o que lhe resta olhando o que sempre pensou em olhar. Para isso deve o cuidado do amigo cineasta que segue em diversos meios de transporte com a câmera na mão, deixando gravados momentos de viagem, seja de caminhonete ou de ônibus, abrindo espaço para os moradores das regiões, muitos de etnia indígena, e as construções rudes que se vão espaçando até que se chegue ao deserto.
Pode-se ler “Uma Passagem Para Mário” como a metáfora de um processo de libertação do ser humano que se acha fraco, mas tende a superar esta fraqueza comparando a força interior com a natureza agreste. Tanto que nas sequências finais do filme não se vê mais o personagem-título. As últimas cenas são das montanhas desertas banhadas pelo vento. Por ali deve ter desejado passar o autor da ideia que gerou o filme. Mas em se tratando de “cinema verdade” não se explicita o campo introspectivo. É o cinema que se vê, o que a câmera capta, deixando com o espectador a substancia desses enfoques.
    As informações que apresento sobre Eric Laurence vêm do material de divulgação distribuido pela assessora, Mariana Jacob, da Laurence Filmes: “Ele é diretor de cinema desde 2000. Ganhou mais de 60 prêmios, incluindo seis no Festival de Cinema de Gramado de 2005, com o curta de ficção”Entre Paredes”- que fez parte da seleção oficial de festivais em Roterdã/Holanda (35º Festival Internacional), Tóquio/ Japão (11ª Short Shorts) e Toulouse/França (18º Festival Internacional). Também dirigiu outros dois curtas –“O prisioneiro”(exibido no 33° Festival Internacional do Cinema de Havana, em Cuba) e “Azul” -e o documentário “No Rastro do Camaleão”, realizado por meio do prêmio do Ministério da Cultura do Brasil”.
O novo filme de Eric Laurence entra em cartaz no Cine Olympia em sessões regulares durante esta semana, exceto 2ª e 3ª feiras.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário