terça-feira, 28 de outubro de 2014

FÚRIA CONTAGIOSA


Nicolas Cage em cena de "Fúria", do espanhol Paco Cabezas

Em exibição nos nossos cinemas, “Furia” (Tokarev, EUA, 2014) que mantém no original o nome russo visto que a ação se dá entre um grupo russo nos EUA. No enredo, Paul (Nicolas Cage) é um ex-criminoso e ex-integrante de um grupo mafioso. No momento em que protagoniza a situação na qual se mete de cabeça, está assessorando o prefeito de sua cidade. Certo dia, vê sua filha ser sequestrada e achada morta. Considera ser obra de alguma gangue de seus contemporâneos no mundo do crime. Sem que a polícia resolva o caso, ele assume a liderança de um processo de vingança, saindo pelos becos onde sabe se reunirem os marginais, matando quem lhe apareça pela frente. Sua presunção justamente é que os assassinos da garota pertençam à máfia de Moscou.
O filme marca a estreia, no cinema de Hollywood, do diretor espanhol Paco Cabezas, autor de 9 roteiros e 8 filmes (incluindo TV) de onde se salienta o terror “Aparecidos” (2007) produção hispano-argentina. E não se pode dizer que ele teve a felicidade de alguns poucos estrangeiros que entram no mercado estadunidense. O argumento de seu filme dá para ser contado em poucas linhas e como esse diretor é também o autor do roteiro dá para pensar que aproveitou a ideia para um trabalho bem simples, uma historia de ação intensa que afinal ganhe a faixa de mercado mais cobiçada na atual produção cinematográfica comercial.
Procurei avidamente algum detalhe que justificasse o trabalho de Cabezas. Há uma sequência em que Paul é focalizado olhando para a câmera e no contracampo vê-se a sua filha sendo atacada por algumas pessoas que não se sabe a identidade (dá a impressão de que ele está vendo o que acontece com ela). Também o primeiro plano – um close dos olhos do personagem – é unido pelo final como se isso tivesse alguma coisa a dizer da índole do tipo. Seria possivel pensar também que a continuidade dos enfoques na hora em que a adolescente é atacada representasse uma continuidade, pelo menos para ele, pai da garota, uma ligação com o mundo do crime de onde emergiu. Mas a “rima” não ganha substancia mesmo porque o enfoque real do sequestro surge de outra forma antes da narrativa chegar ao fim.
O que salta na pouco mais de hora e meia de projeção é a fúria do titulo. Justifica-se na dor de um pai que é visto por mais de uma vez olhando fotos e brinquedos da filha deixando com isso a imagem de uma saudade. E a procura dos pretensos raptores leva ao covil de mafiosos de onde saem personagens sádicas, um deles em cadeira de rodas. Nada escapa dessa gente. Mas o filme não se furta em mostrar torturas. Há uma em que um amigo de Paul é preso, dependurado num esconderijo e torturado de diversas maneiras. Leva socos com luva de ferro. O espectador se pergunta como ele pode aguentar vivo tanto sofrimento. Mas essa demonstração de atrocidades leva a uma denúncia de outro mafioso e o que se pode ver como uma sub-vingança, ou sub-furia (mafioso matando outro).
Cabeza certamente pensou em nova forma de terror com seu filme norte-americano. E esmerando na descrição da violência esqueceu os atores. Nicolas Cage só acertou um trabalho em anos: aquele que atuou sob as ordens de Werner Herzog, em “Vicio Frenético” (The Bad Liutenant: Port of Call-New Orleans, 2009). Premiado com o Oscar por “Despedida em Las Vegas” (Living Las Vegas, 1995), o sobrinho de Francis Ford Coppola vem trabalhando em excesso, aceitando papéis degradantes como neste “Furia” de onde, na verdade, escapa é a fúria do espectador que se sente enganado. Seu desempenho é muito fraco.
Mas quem deve ganhar a Framboeza (Oscar do pior trabalho) suponho ser Rachel Nichols, atriz que já chegou a ganhar prêmio em TV-movie (Underwater, 2012). Ela interpreta a companheira de Cage. Sua “cara de choro” é a recorrência da falta de máscaras para atuar.
Graças a Deus que o lançamento de “Furia” em Belém foi péssimo (poucas sessões no Cinepolis Parque e num Moviecom, assim mesmo só em cópias dubladas). O senso crítico dos exibidores se mostrou à altura do produto lançado no mercado. 

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