Denzel Washignton e a proteção patriótica
O diretor Antoine Fuqua foi o realizador de ”Dia de Treinamento”(Training Day, 2001), o filme que fez
com o ator Denzel Washignton e que deu a este o Oscar do ano. “O
Protetor”(The Equalizer/EUA,2014) sua mais nova realização em exibição entre
nós, segue de perto o filme anterior.
A trama, um roteiro de Richard Wenk, está no formato dos que enchia a cabeça do
público de ontem simplificando os enredos dos filmes como mocinho-versus-bandido,
com o primeiro sempre ganhando a luta (e ficando com a mocinha).
O
problema, numa produção atual, é não facilitar a vitória do “mocinho”.
Mesmo com o final da guerra fria, os russos podem ser os “bandidos” mas a
tecnologia atual arma esse tipo de marginal político de forma mais virulenta.
No caso de “O Protetor”, Denzel Washington incorpora a figura de um ex-oficial
de forças especiais e agora funcionário de uma fábrica. Frequentando um bar de
comida russa, afeiçoa-se de uma jovem prostituta (Chöele Grace Mortez) que os
mafiosos de Moscou atacam com tanta violência que a deixam na UTI de um
hospital. Denzel, ou McCall, vai visita-la e resolve identificar os algozes
vingando-se contra quem a maltratou. Inicia-se uma verdadeira guerra em que um
grupo de russos ataca o norte-americano quase sempre só, apenas no ato final
contando com um amigo, guarda de segurança.
A
velha fórmula não muda no resultado do embate. Quem está no cinema sabe
perfeitamente que o protagonista McCall não vai morrer. A permanência do
espectador na sala se dá devido o interesse de o espectador seguir a trama
construída pelo diretor e avaliar como a figura solitária vai enfrentar tanta
gente armada. E o interessante é que este não usa armas. O forte é o gestual
onde o soco, a rasteira, e a luta corpo a corpo se insinuam como mais velozes
do que as balas saídas de potentes metralhadoras.
Antoine
Fuqua é desses profissionais ligados aos grandes estúdios que sabe construir o
que se chama de “action movie” (filme de ação). O espectador pode pensar que se
está fazendo mais uma vez propaganda norte-americana como se fazia no tempo da
URSS. Na realidade, cansada de tanta patriotada em outros filmes, esperei ver
uma bandeira dos EUA tremulando numa casa quando dos planos finais. Não há, mas
fica a imagem do tipo heroico. E desta vez um herói negro, possivelmente um
eleitor de Barack Obama.
Sem
conteúdo que dê margem a conceitos mais profundos, “O Protetor” pode ser visto
como eram explorados os tipos & enredos no velhos filmes de faroeste. Nesse
tempo e gênero o “mocinho” se envolvia nas piores contendas e nem deixava que o
seu chapéu caísse no chão. O público não tinha dúvida de que ele podia
enfrentar qualquer quadrilha e se sair bem. As situações só foram tomando um
novo formato com o ciclo de gangster onde a principal figura era realmente
marginal enfrentando normas sociais e políticas. Nesse caso, não havia como
esperar pela sobrevivência do tipo. Em “Anjos da Cara Suja” (Angels with dirty
faces, 1938), de Michael Curtiz, até que eram apresentados garotos chorando a
morte de um bandido que eles imitavam. Mas o próprio vilão do filme (vivido por
James Cagney) representa uma cena de choro na hora de ir para a cadeira
elétrica com o filme intentando dar um outro olhar para o que poderia ser
idealizado pela garotada. Tudo a pedido de um padre. Mas, no caso de Denzel
Washington, não precisa que seja criticado o estereótipo. É um bom ator e dá
verossimilhança ao absurdo. Por isso, o filme, que afinal é bem narrado, é
divertido. Difícil deixar a sessão pelo meio. E como não quer ser outra coisa
passa como um dos programas acessíveis da temporada de blockbusters.
Mesmo que o tempero narrativo leve em
conta as artimanhas de um filme policial bem armado e procure desvendar outros
tons sociais imperantes na sociedade contemporânea, como a rede de tráfico
humano, no caso de jovens russas para a prostituição, de lavagem de dinheiro e
da criação de um polo mafioso num país que antes era o principal inimigo
ideológico, não há um clima de reflexão aprofundado para isso. Contudo, há as
evidências e esse é o mote para a sedução das plateias que então se tornam
favoráveis ao método do matador McCall/Washington. Se não há bandeiras
nacionais tremulando, há desvio de ideias do suposto mal (escalada das mortes)
para o bem (aniquilamento dos polos maléficos) e louvores aos exterminadores. E
por ai vai.
Oi, Luzia!
ResponderExcluirBom retorno ao blog! Há muito não lia suas crônicas.
Abraço,
R.Secco