sexta-feira, 10 de outubro de 2014

CANDIDATO HONESTO

Leandro Hassum é o candidato honesto

A dupla Roberto Santuci e Leandro Hassum vem marcando sucessos comerciais para o cinema brasileiro. Realizam o que vem sendo chamando de néo-chanchada (e não pornochanchada como alguns apressados viram). Depois de “Até que a Sorte nos Separe 1 e 2”, eles lançam “O Candidato Honesto”, aproveitando as eleições deste ano e lançando o filme em tempo oportuno, ou seja, nos dias que antecederam ao primeiro turno do pleito.
A ideia que o filme explora não é nova. A rigor tem aspectos evidenciados em “O Mentiroso” (Liar, Liar, EUA, 1997), filme de Tom Shadyack, com Jim Carrey protagonizando um advogado que prometera ao filho não mentir e que por um passe de mágica começa a falar apenas a verdade, doa a quem doer. O roteiro, escrito por Paul Guay e Stephen Mazur foi aproveitado ao máximo por Paulo Cursino em “O Candidato Honesto” (Brasil/2014). No enredo, João Ernesto Praxedes (Hassum) também passa por um trauma e começa a dizer só a verdade. Ele é deputado federal e candidato à presidência da república. Vale dizer que os seus pronunciamentos tendem a chocar os amigos e correligionários, ganhando espaço numa CPI onde ele zomba de tudo e todos.
O filme espera ganhar espaço (e bilheteria) no Brasil de hoje, especialmente no Brasil moldado pela mídia que se lança a explorar a corrupção encontrada em diversos espaços públicos, enveredando pela exposição dos candidatos a cargos eletivos, alicerçando o estereotipo do político desonesto (o nome do personagem já é uma anedota imaginada pelos autores).
O roteiro começa bem, com imagens em preto e branco de João Ernesto desde a infância, apresentando um menino pobre que perde o pai, trata da mãe doente, aprende a dirigir veículos (torna-se motorista de ônibus), revela-se líder em seu sindicato, envereda pela política partidária, e já se vê em cores, com a cara do comediante que sabe expressar alguns momentos vexatórios.
Os exageros são muitos, a caricatura é sempre grosseira, há excesso de palavrões como um meio de explorar o riso, e nunca se vê uma tentativa de maior profundidade no tema. Mas a situação política brasileira passa em termos de comédia para o consumo popular. É como se os realizadores apostassem nos aplausos de quem reclama de que tanta coisa, tenha ou não razão, apegando-se ao que de ridículo isso possa ter.
A narrativa é razoavelmente administrada, com boa edição, mas há um engano do release oferecido pelos distribuidores: João Ernesto não começa a dizer a verdade depois de queda de palanque. Não é preciso isso. Há um toque de magia que serve até melhor ao propósito do argumento. E nesse ponto há uma sequência em um terreiro de macumba que, sendo exposta como engraçada, expõe o eterno preconceito à religião afro. Percebi que foram poucas as risadas dos espectadores mesmo nesse momento.
Como se previa numa história de crítica que não poupa governantes & candidatos a isso, o final é uma reviravolta moral. Não falta um discurso defendendo a ética. E sobra para os últimos créditos o que pode ser um adendo à anedota.
Entretanto, o espectador mais inteligente e conhecedor da veia aversiva disseminada por uma certa imprensa sobre a política e os políticos brasileiros, vai considerar a quem se destina a caricatura devido aos flagrantes elementos de recorrência ao perfil. Por outro lado, ao corroborar o fato de que “todos os políticos são corruptos” cria desserviço à formação da cidadania ao vituperar sobre a corrupção como se estes personagens fossem somente eles os responsáveis por essa dissidência moral, enquanto os meios de comunicação se isentam do lado sujo do jogo. Dessa forma, se o riso é o protótipo da censura ao “ficha suja”, o filme deixa de fora muitos outros protagonistas do desvio moral na política. Precisa-se estar atento aos insights lançados pelo “João Honesto”. O filme não é tão honesto assim.

CARVANA
A morte de Hugo Carvana sensibilizou os cinéfilos deste país. Lembro de um episódio que diz respeito aos paraenses. Hugo viria à Belém apresentar sua comédia “Se Segura Malandro” no Cinema 1. Por telefone avisou a Pedro Veriano e Alexandrino Moreira que não poderia vir. O cineasta Clinton Vilella, que estava na cidade, resolveu apresentar as desculpas do cineasta ao público que lotava a sala. Foi uma comédia que não estava no programa.
Carvana criou cinema de muitos gêneros e dirigiu comédias. Três delas estão no rol dos clássicos: “Vai Trabalhar Vagabundo”, ”Se Segura Malandro” e “Bar Esperança - O último que Fecha”. Nenhum destes filmes foi editado, ainda, em DVD.


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