quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O JUIZ


Robert Duval e Robert Downey Jr. em "O Juiz".

São muitos os chamados “filmes de tribunal”, alguns inseridos entre os clássicos da cinematografia como “12 Homens e Uma Sentença” (de Sidney Lumet, 1957) e “Testemunha de Acusação” (de Billy Wilder, 1957). As informações sobre “O Juiz” (The Judge, EUA, 2014) é que este seria mais um título desse gênero, ou subgênero. Na realidade não é bem isso. Focando um advogado de cidade grande que em meio a uma causa deixa tudo para ir ao enterro da mãe numa cidade do interior, o que se vê é o confronto dele com o pai, o juiz da localidade, de quem não possui boas lembranças por relações conflituosas, a culminar com o fato deste, portador de doença incurável, atropelar uma pessoa sem socorrê-la e ser incriminado, posto que o sangue da vítima ficou na lataria do carro (e hoje o exame de DNA não deixa dúvida). O filho advogado acaba sendo guinado a defender o velho pai.
O roteiro de Nick Shenk e Bill Dubuque serve à primeira produção da firma Team Downey cujos proprietários são o ator Robert Downey Jr. e sua esposa Susan. Foi, aliás, a forma de Downey fugir de papéis de super-herói em superproduções como “Homem de Ferro” (e mesmo Sherlock Holmes), alertando ao público que também pode estar presente em dramas densos como esteve em “Chaplin”(1992) indicado a candidato ao Oscar. Aliás, “O Juiz” tende a ser trampolim para o ator, no protagonismo do bem sucedido advogado, Hank Palmer, arriscando uma candidatura ao próximo premio da Academia de Hollywood. Mas o bom dessa ambição é que a seu lado está o veterano Robert Duvall (83 anos dizendo-se no filme como 72), já premiado por “A Força do Carinho” (Tender Mercies, 1983) de Bruce Beresford. Este apresenta um trabalho a ficar nas antologias. Há momentos, como numa sequencia em que o velho pai e também juiz, sofre uma crise de sua doença em um banheiro, sendo socorrido pelo filho, de forma dramática, inegavelmente marcantes.
A historia vem do diretor David Dobkin, conhecido por comédias como “Penetras Bom de Bico” (Wedding Crashers/2005) e um dos roteiristas, Nick Schenk . Pode-se comentar que há desníveis percebíveis na hesitação entre um drama introspectivo e um exemplo de “filme de tribunal”. Não resta dúvida de que uma preocupação com o potencial mercadológico do produto (filme comercial) diminua uma das pretensões. Em duas e horas e meia fica um hibrido entre a abordagem no comportamento de tipos, especialmente de pai e filho (ou de advogado e réu, que também é pai e juiz) e a estrutura psicológica dos personagens. Só não é mais profunda essa distonia pelo desempenho dos atores. Especialmente Duvall, compondo o enérgico e veterano juiz de uma pequena comunidade. Ele e sua prole, a esposa – capturada de imagens de filmes de família  - um filho mais velho, casado, com filhos (Vincente D’Onofrio) e um mais novo, em parte, deficiente (Jeremy Strong) – deixam no meio (até na concepção dramática) o distante Hank (Downey Jr). Um momento a premiar.
Talvez no roteiro não coubessem informações paralelas como o divorcio em andamento de Hank e o seu romance antigo com uma garçonete de bar na cidade natal (Vera Farmiga). Há inclusive uma hipótese de ele ser pai de uma filha dela, com quem andou se beijando ao voltar para casa. Por outro lado, um desses enfoques dá margem ao bom momento em que Joseph (Duvall) vê pela primeira vez a sua neta Lauren (Emma Tremblay). O pai da menina (Hank/Downey) previne-a de que o avô tem gênio “difícil”, mas o encontro surge carinhoso, com o velho juiz mostrando o outro lado do afeto que o filho não conhecia (mais um bom momento de Duvall).
Apesar de defender a postura de um trabalho sobre relações familiares, especialmente atendendo ao molde das personalidades de filho e pai, ambos profissionais de Direito, “O Juiz” arrisca ser mais, inclusive deixando o espectador em suspense para saber o veredito do caso do ancião atropelador, haja vista que o caso se torna mais grave com a insinuação do promotor (Billy Bob Thorton) de que houvera premeditação no acidente, haja vista ser a vítima um antigo inimigo do juiz. Com tantos elementos, a longa projeção não cansa. Certamente o objetivo da produção que se ariscaria no mercado com maior apoio na estrutura de personagens. 


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