terça-feira, 20 de outubro de 2015

A TRAVESSIA




Joseph Gordon-Levitt interpreta Philippe Petit em "A Travessia".

Com roteiro do diretor Robert Zemeckis e de Christopher Browne com base no livro de Philippe Petit “To Reach the Clouds”, “A Travessia”(The Walk, EUA, 2015) procura dar um olhar mais detalhado sobre a personalidade do equilibrista francês Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt) que se celebrizou atravessando as duas torres do World Trade Center(NY) em 1974, ganhando noticia internacional. Para isso o filme começa com cenas do personagem expondo, inicialmente, o que faria para concretizar sua ideia. Capta-o do alto e tratando da situação para o seu ouvinte, o publico do cinema. Seguem-se as tomadas mais próximas quando criança, brincando na sua cidade, Paris, sendo censurado pelo pai que deseja a ele um futuro acadêmico, e desde essa tenra idade se dedicando ao perigoso esporte do equilíbrio em corda bamba, tarefa potencialmente de circo e que ele, na juventude, já vai ser visto atuando, pedindo a proteção de um veterano do ramo, Papa Rudy (Ben Kingsley). Essa sequencia é em preto e branco. Com a maturidade do personagem o filme ganha cor, mas começa a acelerar as informações. Vê-se o seu relacionamento com uma cantora de rua, Annie (Charlotte Le Bon), seu conhecimento com o fotografo Jean-Louis (Clément Sibony), sua tarefa inicial para atravessar as torres da igreja de Notre Dame, e a realização de seu maior desejo que é passar por um cabo entre as duas torres do centro de Nova York, aquelas que seriam explodidas em 2001 num ato terrorista. Tudo isso é comentado pelo próprio Petit/Levitt do alto da Estatua da Liberdade em um tempo que se tem por atual (embora o ator não represente o tipo que hoje tem 66 anos).
O fato que deu fama ao equilibrista francês foi alvo de um documentário vencedor do BAFTA/ 2008 “O Equilibrista ”(Man on Wire), de James Marsh. O assunto parecia estar esgotado quando Zemeckis planejou não propriamente um replay, mas uma versão mais detalhada do ato praticado pelo audacioso Petit, dando ênfase a uma biografia. E é por aí que “A Travessia” não satisfaz. O filme é reticente quanto ao aspecto da vida do personagem, embora se reconheça, por exemplo, como se dá a proximidade com Annie, vista com poucas imagens e sem apelo a um relacionamento mais forte. Mas não creio que seja um fator de impacto, embora este contato sirva a Petit como incentivo às suas ideias. A presença do fotografo parisiense a quem o equilibrista elege rapidamente como “melhor amigo” tem não só a dimensão da confiança em mais uma pessoa como o interesse de ambos em documentar o evento. A trama mais audaciosa na colocação da corda entre as torres gêmeas em desafio com a polícia local (só depois se vê os policiais ameaçando Petit) embora seja um ponto a merecer de Zemeckis as evidências secretas da ação dos personagens não origina uma preparação mais impactante. Não há uma sequencia para evidenciar o pós-ato sobre as Torres Gêmeas, supondo-se que o interesse do diretor foi centrar a expectativa naqueles momentos de Petit na corda como uma aventura inaudita em se tratando de um mergulho no suspense. De qualquer forma, alguns espectadores gostariam de saber como se estabeleceu o equilibrista depois de sua maior aventura e o que está fazendo agora que aparece na Estatua da Liberdade ocasião que se perde no dizer de que se trata de um presente francês aos EUA, uma boa rima ao ato do equilibrista.
Há muita fala sem importância no contexto e o que parece é que Zemeckis e a equipe só queriam mesmo focalizar a travessia das torres gêmeas em 3D. Nesse ponto, o filme é eficiente. A profundidade de campo, o “plongée” em certa hora para dimensionar a altura dos prédios, isto impressiona. E a caminhada em oito momentos de Petit sob as cordas. Essa sequencia é a de maior empenho para garantir a tensão entre o que representou o feito do equilibrista francês e sua odisseia em preparar-se para a sua consecução.
Outro fator que me pareceu interessante foi o desempenho de Joseph Gordon-Levitt, procurou até mesmo o aspecto físico do biografado. O rapaz convence. E não faz mais porque não tem o que fazer no roteiro. Não sei até que ponto o verdadeiro Philippe Petit abençoou o filme. Consta que ele fez ressalvas ao primeiro. E agora?


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