Joseph Gordon-Levitt interpreta Philippe Petit em "A Travessia".
Com roteiro do diretor
Robert Zemeckis e de Christopher Browne com base no livro de Philippe Petit “To
Reach the Clouds”, “A Travessia”(The Walk, EUA, 2015) procura dar um olhar mais
detalhado sobre a personalidade do equilibrista francês Philippe Petit (interpretado
por Joseph Gordon-Levitt) que se celebrizou atravessando as duas torres do
World Trade Center(NY) em 1974, ganhando noticia internacional. Para isso o
filme começa com cenas do personagem expondo, inicialmente, o que faria para
concretizar sua ideia. Capta-o do alto e tratando da situação para o seu
ouvinte, o publico do cinema. Seguem-se as tomadas mais próximas quando
criança, brincando na sua cidade, Paris, sendo censurado pelo pai que deseja a
ele um futuro acadêmico, e desde essa tenra idade se dedicando ao perigoso
esporte do equilíbrio em corda bamba, tarefa potencialmente de circo e que ele,
na juventude, já vai ser visto atuando, pedindo a proteção de um veterano do
ramo, Papa Rudy (Ben Kingsley). Essa sequencia é em preto e branco. Com a
maturidade do personagem o filme ganha cor, mas começa a acelerar as
informações. Vê-se o seu relacionamento com uma cantora de rua, Annie
(Charlotte Le Bon), seu conhecimento com o fotografo Jean-Louis (Clément
Sibony), sua tarefa inicial para atravessar as torres da igreja de Notre Dame,
e a realização de seu maior desejo que é passar por um cabo entre as duas
torres do centro de Nova York, aquelas que seriam explodidas em 2001 num ato
terrorista. Tudo isso é comentado pelo próprio Petit/Levitt do alto da Estatua
da Liberdade em um tempo que se tem por atual (embora o ator não represente o
tipo que hoje tem 66 anos).
O fato que deu fama ao
equilibrista francês foi alvo de um documentário vencedor do BAFTA/ 2008 “O
Equilibrista ”(Man on Wire), de James Marsh. O assunto parecia estar esgotado
quando Zemeckis planejou não propriamente um replay, mas uma versão mais
detalhada do ato praticado pelo audacioso Petit, dando ênfase a uma biografia.
E é por aí que “A Travessia” não satisfaz. O filme é reticente quanto ao
aspecto da vida do personagem, embora se reconheça, por exemplo, como se dá a
proximidade com Annie, vista com poucas imagens e sem apelo a um relacionamento
mais forte. Mas não creio que seja um fator de impacto, embora este contato
sirva a Petit como incentivo às suas ideias. A presença do fotografo parisiense
a quem o equilibrista elege rapidamente como “melhor amigo” tem não só a
dimensão da confiança em mais uma pessoa como o interesse de ambos em
documentar o evento. A trama mais audaciosa na colocação da corda entre as
torres gêmeas em desafio com a polícia local (só depois se vê os policiais
ameaçando Petit) embora seja um ponto a merecer de Zemeckis as evidências
secretas da ação dos personagens não origina uma preparação mais impactante. Não
há uma sequencia para evidenciar o pós-ato sobre as Torres Gêmeas, supondo-se
que o interesse do diretor foi centrar a expectativa naqueles momentos de Petit
na corda como uma aventura inaudita em se tratando de um mergulho no suspense.
De qualquer forma, alguns espectadores gostariam de saber como se estabeleceu o
equilibrista depois de sua maior aventura e o que está fazendo agora que
aparece na Estatua da Liberdade ocasião que se perde no dizer de que se trata
de um presente francês aos EUA, uma boa rima ao ato do equilibrista.
Há muita fala sem
importância no contexto e o que parece é que Zemeckis e a equipe só queriam
mesmo focalizar a travessia das torres gêmeas em 3D. Nesse ponto, o filme é
eficiente. A profundidade de campo, o “plongée” em certa hora para dimensionar
a altura dos prédios, isto impressiona. E a caminhada em oito momentos de Petit
sob as cordas. Essa sequencia é a de maior empenho para garantir a tensão entre
o que representou o feito do equilibrista francês e sua odisseia em preparar-se
para a sua consecução.
Outro fator que me
pareceu interessante foi o desempenho de Joseph Gordon-Levitt, procurou até
mesmo o aspecto físico do biografado. O rapaz convence. E não faz mais porque
não tem o que fazer no roteiro. Não sei até que ponto o verdadeiro Philippe
Petit abençoou o filme. Consta que ele fez ressalvas ao primeiro. E agora?
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