“Fim de Verão” (1961) de Yasujirô Ozu
Yasujirô
Ozu (1903-1963) cineasta japonês era filho de um comerciante de adubo, sendo
educado num colégio interno na cidade de Matsusaka, mostrando ser um aluno
regular. Iniciou carreira no período do cinema mudo. Como diretor, realizou
cinquenta e três filmes e em seus primeiros cinco anos uma série de comédias
curtas, antes de aplicar-se a temas mais reflexivos na década de 1930. Em sua
biografia evidenciam-se os assuntos de sua preferencia: casamento e família,
especialmente as relações entre as gerações.
O
cine-clube Alexandrino Moreira (Casa das Artes, ex-IAP) exibirá nesta segunda
feira, 05/10, um dos últimos filmes de Ozu, “Fim de Verão” (Kohayagawa-ke no aki, 1961). O enredo segue o curso dos últimos dias de outono da
família Kohayagawa. O patriarca Banpei, mantém um modesto negócio familiar, uma
fabrica de saquê, assediada pelas grandes corporações. Ele sempre visita sua
família alternativa, mas no momento em que é focalizado está interessado em
arranjar casamento para a filha e a nora viúva. Este assunto reflete uma das
preocupações do cinema de Ozu: a organização familiar planejada pelos pais,
mesmo que eles não possam ser vistos como modelos de marido.
Muito
se fala em “estilo” de cineasta, apegando-se ao pleno domínio que eles possam
ter de suas obras. Na verdade, a qualificação chegou com as primeiras criticas,
reforçando a ideia de que o diretor de um filme é o autor desse filme. Mesmo no
cinema francamente industrial, realizado para gerar lucro.
A verdade é que poucos cineastas podem ser chamados de autores.
Há todo um processo de produção que limita a atividade de quem ordena a
transformação do roteiro escrito em imagens a serem projetadas. O japonês
Yoshiro Ozu é um raro exemplo de autor. Seu cinema ganhava características
desde a posição da câmera, sempre baixa e estática, no dizer dele “de acordo
com a visão do japonês médio” (uma pessoa de baixa estatura).
“Fim
de Verão” é um feliz exemplo deste cinema autoral. No tratamento que dá ao patriarca
(Ganjiro Nakamura) que tenta casar sua segunda filha, Noriko (Yoko Tsukasa), e
sua nora, Akiko (Setsuko Hara), revive um antigo relacionamento. Em paralelo
vê-se personagens tratando de negócios e tentando participar do enlevo
romântico com as figuras femininas. Vê-se a circulação dos membros da família
apegada a uma cultura de longa tradição e do próprio chefe diante de uma
realidade em constante transformação, tendo como única certeza a chegada da
morte.
Ozu,
a partir da forma, constrói as relações familiares às vezes tensas não só com a
posição da câmera, mas a predileção pelos espaços vazios. Quando, por exemplo,
um grupo conversa numa dependência da casa, o que se vê é um corredor por onde
alguém passa ou vai passar ou se perde de vista quando sai do foco. A câmera
não se desloca para focalizar quem está definindo o assunto. Parada, capta quem
entra ou quem sai. O deslocamento lento em meio às paredes das residências
traduz-se em formatos de grades de bambu como se as pessoas se mantivessem
presas entre si. Quando deixa a casa é para seguir o velho pai aonde este
estiver, mesmo necessitando de um “olheiro” para perscrutar sua vida secreta.
Em
relação às mulheres, estas usam seus quimonos e só se vê uma jovem, representando
a nova geração, com saia rodada como se usava na década de 60, em cenário
ocidental. Não por acaso, a moça que se veste como uma garota de outro país
está namorando um jovem norte-americano.
O
roteiro, do próprio Ozu junto a Kôgo Noda, demonstra que apesar de o país estar
em reconstrução depois do conflito 1941-1945 a sociedade de algumas cidades
japonesas permanece cultuando costumes antigos, entretanto, chega-a se um fato
raro: uma das mulheres preferir mudar de cidade seguindo um professor que a
sensibiliza afastando-se da imposição de um casamento intraclasses.
É
o penúltimo filme desse diretor “bem japonês” e seu colega Kiju Yoshida, no
livro O Anticinema de Yasujiro
Ozu, chamou de "ironia da morte" a trama que Ozu desenvolveu com
uma fantástica simplicidade.
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