segunda-feira, 5 de outubro de 2015

UM AUTOR DE CINEMA: OZU



“Fim de Verão” (1961) de Yasujirô Ozu

Yasujirô Ozu (1903-1963) cineasta japonês era filho de um comerciante de adubo, sendo educado num colégio interno na cidade de Matsusaka, mostrando ser um aluno regular. Iniciou carreira no período do cinema mudo. Como diretor, realizou cinquenta e três filmes e em seus primeiros cinco anos uma série de comédias curtas, antes de aplicar-se a temas mais reflexivos na década de 1930. Em sua biografia evidenciam-se os assuntos de sua preferencia: casamento e família, especialmente as relações entre as gerações.
O cine-clube Alexandrino Moreira (Casa das Artes, ex-IAP) exibirá nesta segunda feira, 05/10, um dos últimos filmes de Ozu, “Fim de Verão” (Kohayagawa-ke no aki, 1961). O enredo segue o curso dos últimos dias de outono da família Kohayagawa. O patriarca Banpei, mantém um modesto negócio familiar, uma fabrica de saquê, assediada pelas grandes corporações. Ele sempre visita sua família alternativa, mas no momento em que é focalizado está interessado em arranjar casamento para a filha e a nora viúva. Este assunto reflete uma das preocupações do cinema de Ozu: a organização familiar planejada pelos pais, mesmo que eles não possam ser vistos como modelos de marido.
Muito se fala em “estilo” de cineasta, apegando-se ao pleno domínio que eles possam ter de suas obras. Na verdade, a qualificação chegou com as primeiras criticas, reforçando a ideia de que o diretor de um filme é o autor desse filme. Mesmo no cinema francamente industrial, realizado para gerar lucro.
A verdade é que poucos cineastas podem ser chamados de autores. Há todo um processo de produção que limita a atividade de quem ordena a transformação do roteiro escrito em imagens a serem projetadas. O japonês Yoshiro Ozu é um raro exemplo de autor. Seu cinema ganhava características desde a posição da câmera, sempre baixa e estática, no dizer dele “de acordo com a visão do japonês médio” (uma pessoa de baixa estatura).
“Fim de Verão” é um feliz exemplo deste cinema autoral. No tratamento que dá ao patriarca (Ganjiro Nakamura) que tenta casar sua segunda filha, Noriko (Yoko Tsukasa), e sua nora, Akiko (Setsuko Hara), revive um antigo relacionamento. Em paralelo vê-se personagens tratando de negócios e tentando participar do enlevo romântico com as figuras femininas. Vê-se a circulação dos membros da família apegada a uma cultura de longa tradição e do próprio chefe diante de uma realidade em constante transformação, tendo como única certeza a chegada da morte.
Ozu, a partir da forma, constrói as relações familiares às vezes tensas não só com a posição da câmera, mas a predileção pelos espaços vazios. Quando, por exemplo, um grupo conversa numa dependência da casa, o que se vê é um corredor por onde alguém passa ou vai passar ou se perde de vista quando sai do foco. A câmera não se desloca para focalizar quem está definindo o assunto. Parada, capta quem entra ou quem sai. O deslocamento lento em meio às paredes das residências traduz-se em formatos de grades de bambu como se as pessoas se mantivessem presas entre si. Quando deixa a casa é para seguir o velho pai aonde este estiver, mesmo necessitando de um “olheiro” para perscrutar sua vida secreta.
Em relação às mulheres, estas usam seus quimonos e só se vê uma jovem, representando a nova geração, com saia rodada como se usava na década de 60, em cenário ocidental. Não por acaso, a moça que se veste como uma garota de outro país está namorando um jovem norte-americano.
O roteiro, do próprio Ozu junto a Kôgo Noda, demonstra que apesar de o país estar em reconstrução depois do conflito 1941-1945 a sociedade de algumas cidades japonesas permanece cultuando costumes antigos, entretanto, chega-a se um fato raro: uma das mulheres preferir mudar de cidade seguindo um professor que a sensibiliza afastando-se da imposição de um casamento intraclasses.
É o penúltimo filme desse diretor “bem japonês” e seu colega Kiju Yoshida, no livro O Anticinema de Yasujiro Ozu, chamou de "ironia da morte" a trama que Ozu desenvolveu com uma fantástica simplicidade. 


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