segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O SOL NASCE PARA TODOS

“O Sol Sempre se Põe na Rua 3” (Japão, 2012) direção de Takashi Yamazaki.


Com o apoio do Japan Fundation (SP), Consulado do Japão em Belém e comemorativo dos 120 anos de amizade Japão-Brasil, o Cine Olympia estará exibindo um filme dessa nacionalidade fazendo jus ao processo de relacionamento dos dois países nesses anos de aproximação e, através do cinema, contribuindo para a disseminação da cultura nipônica a partir dessa arte.
Esta semana, iniciando-se nesta quinta feira, será exibido “O Sol Sempre se Põe na Rua 3”(Always hôme no yûhi '64, Japão, 2012), com direção de Takashi Yamazaki. Nessa narrativa explora um painel em que se observam lugar, personagens e situações na Tóquio de 1964, por ocasião dos Jogos Olímpicos naquela cidade e país, alertando como o núcleo urbano se desenvolvia aceleradamente depois da 2ª Guerra Mundial. Várias personagens são focalizadas na construção do painel. Há o romancista Ryunosuke, casado com Hiromi e vivendo com o filho adotivo Junnosuke, que está agora no ensino médio e o pai exige que ele chegue à universidade. Há o mecânico Norifumi Suzuki com a sua oficina pretendendo desenvolver no âmbito nacional. Ele mora com a esposa Tomoe, o filho Ippei e funcionária Mutsuko. Esta é muito tímida e só nas manhãs bem cedo cuida de sua beleza, tirando o macacão que usa o dia todo consertando carros. Muito bonita,  Matsuko encontra o médico Tomokazu por quem se apaixona e é correspondida. Mas o rapaz tem fama de mulherengo e Suzuki quer afastar sua pupila de conquistas. Os moradores da Terceira Rua vivem em suas formas habituais otimistas, mas carregam dramas pessoais que vão ficando expostos no decorrer da narrativa, com a câmera sempre focalizando a rua onde moram (construída no estúdio) e alertando para a amizade que une os habitantes.
Os tipos e situações mais focalizados são os do escritor e seu filho adotivo, constrangido (ou invejoso) quando o garoto, que pensava estar sempre estudando para se submeter ao vestibular, escreve um conto que faz sucesso na revista onde trabalha o pai adotivo. Quando este homem sabe que o seu recente trabalho literário foi subtraído, ganhando um desconhecido, fica muito triste. Nessa época a esposa do escritor, grávida, pari uma menina. A situação de constrangimento do pai se acentua ao conhecer o interesse da editora pelos contos do filho e a posição deste em se manter no que gosta, preferindo esse modo de vida ao que já fora imposta pelo pai.
Quanto a outra situação é a do mecânico que não quer aceitar o romance de sua funcionária e exibe fúria quando sabe que ela foi passar uma noite com o médico. Alertado por outro médico sabe que o rapaz é um bom caráter, que trabalha de graça para os mais necessitados e, principalmente, quando revela sua pretensão de casar com a namorada. Com isso, há forçosamente uma mudança.
Os dois casos levam ao momento simbólico em que todos podem apreciar o mesmo por do sol. No caso, este espetáculo natural é mais interessante do que a transmissão dos jogos olímpicos pela TV. Aliás, logo nas primeiras sequencias o roteiro define as personagens quando na casa de uma chega um aparelho de TV em preto e branco e na de outro um colorido. Não é só o fator financeiro que vale a amostragem, mas, principalmente, o caráter dos donos das casas, os diferentes temperamentos que modulam os lares, todos orientados pelos homens “donos do espaço”.
A mudança do país ganha dimensão, também, nos comportamentos dos habitantes. Muito se comenta da mulher que trabalha na oficina mecânica e quando ela vai casar com anuência dos responsáveis por sua conduta (os pais biológicos moram no interior) o “modus vivendi” é relatado no fato de ela, mesmo casada, continuar trabalhando.

Uma narrativa muito simples, com bons desempenhos, torna o filme muito popular (e isso fez sucesso em sua origem). Não é obra-prima, mas um programa muito interessante e, sem duvida alguma, com embasamento histórico-sociocultural. O autoritarismo patriarcal, a presença feminina em profissões ditas masculinas e a rebeldia filial evidenciam as novas vivências dos orientais marcadas pelo tempo dos jogos. 

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