terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ENTRANDO (TODOS) NUMA FRIA



















No final da semana passada reuni alguns netos para assistir a copia legendada de “As Viagens de Guliver”, anunciada para uma sala de cinema comercial. Na bilheteria informaram que o filme não estava sendo exibido. Segundo um informamte seria devido a problema na projeção em 3D no espaço onde deveria estar em cartaz. Para não voltar para casa, eu e meus acompanhantes fomos ver “Entrando Numa Fria com a Família”(Little Fockers/EUA.2010) comédia que não me atraía até porque denuncia o oportumismo de uma série improvável depois de dois exemplares gradativamente fracos.

Talvez por esperar o pior consegui me divertir com o que vi. O roteiro de John Hamburg, Victoria Stroine e Larry Stuckey segue a família Focker (Greg, Pam e seu casal de gêmeos) sempre às voltas com o excesso de rigor do sogro/pai Jack (Robert De Niro), agora com o patriarca, ex-agente da CIA, interferindo na educação das crianças e modulando a vida profissional e o nivel de salário do genro.

As gags visuais são escassas e se reduzem aos equívocos amorosos. Greg é convidado a fazer publicidade de um produto farmacêutico afrodisíaco e a jovem que o convida está decidida a conquistá-lo, insinuando-se para ele. Em meio a várias atitudes dúbias de Greg/Stiller e a jovem, Jack desconfia que o genro está sendo infiel com a sua filha e passa a segui-lo. Situações diversas levam a mal-entendidos. E as coisas convergem para a festa de aniversário dos gêmeos quando se incorporam, ainda, os avós paternos, como se sabe, a mãe de Greg (Barbra Streissand ) é conselheira e hoje apresentadora de programa sobre sexo, e o pai (Dustin Hoffman) naquele momento protagoniza um aventureiro que está na Espanha aprendendo a dançar flamenco para se tornar mais sexy à esposa.

Para os entendidos na lingua inglesa há um repertorio chulo, com trocadilhos a partir do nome da família. Isto só endossa a vulgaridade do produto. E a recepção nas bilheterias dos EUA prova que o público de lá aplaude pornochanchadas (como o daqui nos anos 70).

Bem Stiller tem uma expressa cômica quando se faz de sério. Quanto mais sério, mais engraçado. E De N iro, que é um dos produtores do filme, sabe onde está entrando. Dá o tom necessário à caricatura do velho intolerante. No grupo feminino, o destaque é para Jessica Alba que protagoniza a jovem propagandista “vamp” cujo nome, Andi Garcia (a semelhança de um conhecido ator) dá margem a outras farsas no relacionamento com o enfermeiro Greg.

O diretor Paul Weitz, de “American Pie, A Primeira Vez é Inesquecível” e de uma versão muito fraca de “O Céu Pode Esperar”(2001), perde para o colega Jay Roch (da primeira “fria”, em 2000 e da segunda em 2004). Observa-se que esta terceira aventura dos Focker é puro oportunismo. Arranjam-se situações para os tipos voltarem a se encontrar, brigar, e no fim das contas festejar o “american way of life”. O espectador pode pensar que de agora em diante vai ser difícil colocar esse pessoal adiante das câmeras. Mas quem disse que Hollywood de agora cede à tentação de boas rendas, mesmo com as pedradas da critica? É possível esperar, portanto, que Mr. Jack dê palpite na adolescência dos netos e ensine a eles sexualidade.

O objetivo é fazer rir. E como se disse: há filmes que são divertidos de tão bobos. É o caso. Contudo, é precisa observar que os estereótipos são próprios para conseguir a empatia entre o “politicamente incorreto” e a aceitação do mesmo como “algo engraçado” e isso reforça o nivel de atitudes dos fundamentalismos apresentados no ambiente e convivio familiar, no filme. Por exemplo, a figura do super-pai mesclada a de um agente policial do FBI – leva a ver o autoritarismo paterno como sintoma positivo de “amor à filha”, sentimento que deixa dúvidas de incorreção. Assim também a atitude da consultora sexual com status de avó não é tão aceita socialmente porque a permissividade no tema não é próprio das mulheres na etapa geracional em que ela está.

Essas apreciações não devem escapar aos espectadores e precisam estar alertados sobre a força das imagens que sempre deixam no público “rastilhos de pólvora” para suas conexões com certas representações-clichê.

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