segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MONTANHA CEGA



Filmes em DVD e séries de TV por assinatura prendem-me nas noites de folga. E na primeira mídia tenho assistido a muitos títulos que devem estar sendo esquecidos de nossos exibidores. Um deles ganhou destaque esta semana: “Montanha Cega”(Mang Shan/China, 2007) de Yang Li. Foi premiado nos festivais de Bratislava e Istambul. Aborda o costume de uma aldeia no norte da China que compra mulheres para casar com os rapazes com poucas opções de encontrarem parceiras na população de camponeses. Uma professora que aceita viajar com um grupo que ela considera confiável e que lhe ofereceu um vantajoso emprego, certo dia acorda numa casa desconhecida e ao tentar sair é obstada por uma família que a informa de sua nova identidade: é a esposa de seu filho. A jovem só pode se livrar da relação se reembolsar a alta soma que eles pagaram aos conhecidos que a sequestraram. Esta forma de escravidão impede qualquer tipo de comunicação fora dos limites da aldeia e, com o passar do tempo, ela se vê grávida, nascendo um menino (as meninas que nasciam geralmente eram assassinadas) e só com a amizade de um aluno da única escola local ela consegue enviar uma carta ao pai e iniciar um processo para se livrar da verdadeira prisão. Inúmeras vezes ela tenta fugir, mas sempre há a solidariedade dos aldeões à familia e à cultura local sobre a situação da mulher casada.

O filme apresenta uma linguagem simples, mas com o reforço da locação e o rendimento excelente de todo o elenco, lembra o melhor da escola neo-realista italiana. Merece ser conhecido por quem exige bom cinema. Despojado de elementos que levem ao melodramático evidencia as relações patriarcais que obedecem a uma cultura oriental no final do século XX e que atinge a mais torpe violência, pois, incide em sequestro com tráfico de pessoa, extorsão, estupro, cárcere privado e violência física e mental. E não pensem que há um happy-end. Não há concessões no filme.

E o DVD continua trazendo obras raras. O caso de “Era Noite em Roma”(Era Notte a Roma/Itália,1961) de Roberto Rosselini e “O Espião Negro”(The Spy in Black/UK 1939) de Michael Powell dois veteranos diretores que fizeram a história do cinema. No primeiro caso é o retorno do diretor de “Roma Cidade Aberta” ao neo-realismo que ele ajudou a criar. Filmado em preto e branco com um elenco em que figuram atores ingleses como Leo Genn, adentra também pelo gênero “noir” e mostra um grupo de resistente italianos, durante a 2ª.Guerra Mundial, que tenta fugir do país dominado pelo regime fascista de Mussolini e pelos alemães.

“O Espião Negro” é o primeiro filme em que o veterano Michael Powell se torna parceiro do amigo roteirista Emeric Pressburger. Eles formaram uma dupla que marcou o cinema inglês com obras de vulto a exemplo: “Os Sapatinhos Vermelhos”(1948) e “Neste Mundo e no Outro”(1946). O enfoque de “O Espião...” centra sobre um submarino alemão tentando passar por uma frota inglesa para se reunir a outros que estão próximos a Berlim. O cenário é da Primeira Guerra Mundial. Conrad Viedt, uma dos atores mais aplaudidos do movimento expressionista, protagoniza um comandante alemão.

E a indicação para uma necessária revisão nos dias atuais é para “O Bandido Giuliano”(Salvatori Giuliano/Itália, 1962) de Francesco Rosi. Este filme revelou o cineasta, usando uma narrativa em tom de reportagem abordando a odisséia de um marginal da Sicilia no imediato pós-guerra, que é usado por políticos que desejam a separação da Itália. No DVD lançado no Brasil há um disco especial com um documentário sobre a obra de Francesco Rosi apresentado por ele mesmo. Uma aula de cinema. Aliás, esse programa já foi exibido em um dos canais de tv fechada.

Decepção em meio a tantos bons filmes é “Manon, o Anjo Perverso” (Manon/França,1949) de Henri-George Clouzôt. O diretor de “O Salário do Medo” e de “As Diabólicas” moderniza um romance do Abade Prévost mostrando as estratégias de uma jovem de familia que se prostitui e atua na vida de um militar da resistência ao nazi-fascismo, no fim da 2ª.Guerra. Estréia da atriz francesa Cecile Aubry (nets filme, inexpressiva). O filme recebeu o primeiro prêmio do Festival de Veneza, mas foi criticado com ênfase pelos jovens que formariam depois a chamada “nouvelle vague”, comandados por François Truffaut. Merecidamente.

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