sexta-feira, 14 de outubro de 2011

AMIGOS ÍNTIMOS



Os “takes” atuais que versam sobre sexo casual e amor estão na ordem do dia, pelo menos no cinema. É o que se deduz das recentes produções da lavra de Hollywood. Mesclam o gênero comédia e o selfcore com as evidências de um discurso que trata sobre a liberdade sexual e o desempenho do par, por suposto, “ficante” e faturam, com isso, um lucro fácil. A base é essa e o acúmulo da discussão sobre o tema é zero.

Nessa vertente está “Amizade Colorida”(Friends with Benefits/EUA,2011), considerada uma comédia romântica. O enredo, vindo de um roteiro do diretor Will Gluck, de parceria com Keith Meryman e David A. Newman, lembra muito o recente “Sexo sem Compromisso” (No String Attached/EUA,2011) escrito por Elizabeth Menwether e Michael Samonek de uma história da primeira. O núcleo da trama é a mesma: um casal jovem que pensa manter-se unido apenas por relações sexuais regulares não consegue alijar desses encontros um liame de afeto mais denso. Lembrando a peça de Alfred DeMusset “não se brinca com o amor”, o jogo de bons amigos desejado, em principio, faz a recrutadora de talentos Jamie (Mila Kunis) se envolver com o rapaz de San Franisco que tenta emprego em Nova York, Dylan (Justin Timberlake), mas a amizade na cama não consegue manter uma exclusividade. Ela o ajuda na apresentação ao novo cargo e, recebendo-o em seu quarto acaba registrando uma afeição onde cabe o ciúme e, nesse ponto, envereda relacionamento familiar (com a mãe dela e os pais dele) afirmando um compromisso.

Não se pode negar que o diretor Will Gluck consegue explorar uma certa química entre os principais intérpretes. Mas exagera nas cenas de sexo. Assim como Natalie Portman e Ashton Kutcher iam aos limites do “selfcore”(a imitação da relação sexual no citado filme de Ivan Reitman), Mila Kunis e Justin Timberlake tiram e vestem roupas nesta comédia com uma continuidade que chega a ser entediante, desprezando o teor cômico proposto na produção (pelo menos o filme é vendido como comédia). De minha parte não achei nenhum humor nas peripécias dos “ficantes” diante das inúmeras gags sob os lençóes. Mesmo o enredo não dá chance para o espectador exibir gargalhadas, mas, pelo que se observa dos blogs que tratam do filme os comentários são favoráveis ao estilo da comédia. O que salta na história é o drama de um jovem inexperiente, “filhinho de papai”, que tenta se firmar na metrópole usando a nova amizade com uma expert em caça-talentos, como um meio de conseguir o seu objetivo.

No filme há um único plano interessante: quando o casal está em Los Angeles debruçado sobre o letreiro Hollywood, marco da cidade do cinema. Ali é proibido o tipo de aproximação e um helicóptero aparece para chamar a atenção dos dois (ela ameaçando se atirar por trás das letras, morro abaixo). Seria uma síntese da ficção que deseja assumir um patamar de realidade (no caso, o romance que nasceu entre os que seriam apenas amigos). Fora isso, tudo é lugar comum no gênero. Não há nada a destacar, nem mesmo outras características dos lugares em relação aos tipos. E o espectador desse tipo de filme sabe de antemão como as coisas vão se encaminhar e concluir. É disso que vivem os produtores copiando as versões de enredos que “deram certo” na comercialização mundial e, portanto, dão lucro para as empresas.

A comédia romântica tem sido um veio de bilheteria igual ou melhor do que os filmes épicos adaptados ou não de histórias em quadrinho. E a guerra do box-office ganha mais um parceiro que é o filme dito infantil. Geralmente editado em 3D custa ingresso mais caro e os pais instigados pelos filhos compram esses ingressos para ver o que nem sempre vale a pena. E agora há ainda o replay de franquias. Refilmou-se “A Hora do Espanto” (já em cartaz) e se observa que muitos outros filmes de sucesso no passado ganham edições que tentam “explicá-los” abordando suas origens. Escassez de imaginação. Ou a mania de apostar no já visto que foi bem sucedido nas bilheterias. Creio que as duas coisas. O problema é que o espectador que deixa a sala de vídeo pela do cinema agora de shoping é mais o de faixa etária jovem e adolescente. E isso é sério. A arte que o cinema firmou como a Sétima deixa-se esvair pela pobreza intelectual e, mesmo de uma diversão inventiva, cumprindo um papel tão devastador nessa platéia que poderia estar melhor aprendendo com ela.


Nenhum comentário:

Postar um comentário