Com “A Bruxa de Blair”(The Blair Witch Project) em 1999 surgiu a fórmula de fazer cinema amador com roupa profissional. Explico: com as facilidades dos novos equipamentos de filmagem a feição de filme amadorista é capaz de ganhar uma edição para salas comerciais e se ombrear com a produção dos grandes estúdios. Reduzem-se os custos e vende-se o projeto como se fosse um documentário do acontecimento em foco. Foi assim que Daniel Wyrick e Eduardo Sanchez fizeram “A Bruxa...”, um arremedo de telerportagem sobre estudantes que desapareceram nas matas de Maryland quando foram pesquisar um mito regional personificado numa feiticeira que moraria no lugar. Segundo o roteiro, dos próprios diretores, os pesquisadores não foram encontrados. Só a mochila de um deles com fitas de vídeo (VHS) gravadas. Ali estava o material do drama que gerou o filme de 81 minutos, sucesso absoluto de público não só nos EUA, mas em vários países do mundo.
A idéia dos jovens norte-americanos gerou um filme espanhol (REC, 2008), um uruguaio(La Casa Muda, 2011), recentemente um norte-americano (Apollo 18, 2011) e a série “Atividade Paranormal” ora em seu 3° exemplar. Isso entre outros títulos da mesma linha.
“Atividade... ” foi realizado em 2007, ganhou uma sequência em 2010 e agora prossegue com uma edição de 2011 (Paranormal Activity, EUA, 2011, 84 min.). De inicio se vê um casal que aluga uma casa e descobre que há fantasmas no lugar. Como o rapaz é um apaixonado por filmagens digitais, o que a sua câmera registra é o filme que passa na tela grande do cinema. No segundo exemplar, os mesmos personagens colocam câmeras em diversos pontos da residência já com a disposição de flagar o que esteja de fato acontecendo, entre ruidos e sons. Neste terceiro exemplar o salto temporal é para 1988, com a câmera acompanhando as irmãs ainda crianças Katie (Chloe Csengery) e Kristi (Jessica Tyler Brown) que se mudam com os pais para uma nova casa. Os filmes deixados não só pelo pai como pela avó são revisados por um amigo da família. Assim é que a história regride para 1988 e a menor, Katie, em meio ao turbilhão de eventos, diz que tem um amigo invisível a que chama de Toby. A partir daí passa-se a ver objetos se movendo, sons estranhos, e fatos mais assustadores em escala progressiva.
A narrativa é construída de forma a que se pense que tudo o que se vê é o que ficou na memória da pequena filmadora doméstica. Por isso, a fotografia é estourada, os cortes súbitos, a música incidental resume-se no que se ouve no ambiente não desprezando os acordes para momentos em que a imagem entra de súbito (seja por brincadeira de personagem seja por um tipo de ação não explicado). A idéia é deixar com a platéia a noção de uma cópia da realidade. Tanto que a projeção começa sem créditos. Tudo simula o improviso.
Bem, analisando este material depara-se logo com a falha presente em todos os exemplares do gênero: há movimentos inexplicáveis. Se a filmadora está em um tripé, fixa em um aposento, como é possivel ver detalhes (planos próximos ou mais distantes)? E, também, certos movimentos, como o que surge com uma manifestação “paranormal”?
Depois há a questão do tempo da ação, que não corresponde à narrativa, e a postura do elenco. Não parece que alguém se machuca seriamente como alguns planos deixam ver. E a exceção das meninas, especialmente de Jessica Tyler Brown, que protagoniza Kristi criança, não há sinais de traumas nas “fitas”gravadas.
O filme, como os outros da fórmula objetiva assustar enganando. E consegue. No fim de semana de estréia norte-americana apresentou um lucro de U$ 54 milhões. Um recorde para o mês. Isto quer dizer que as “atividades paranormais”não foram de todo explicadas. Ano que vem tem mais, com certeza.
Na sessão que estive muitas pessoas se retiraram da sala. Não sei se por temor das sequencias que ainda faltavam ou por qualquer outro motivo. O certo é que há também os desistentes, daí porque não se pode dizer que há unanimidade de gosto entre o público.
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