Adélio Lima e Julio Andrade, como Gonzaga e Gonzaguinha no filme de Breno Silveira
Luiz
Gonzaga faria 100 anos neste dezembro,13. O filme “Gonzaga, De Pai Pra
Filho”(Brasil/2012) é, de certa forma, uma homenagem a ele, conhecido como “Rei
do Baião”. O roteiro segue uma entrevista que Gonzaguinha fez com o pai, Luiz, em
1981. O artista conta a sua infância pobre em Exu, no agreste pernambucano,
aprendendo a tocar sanfona com o pai, Janurário, e fugindo de casa devido ao
seu interesse pela filha de um Coronel do lugar, Nena. A surra que tomou da mãe
e a certeza de que a amada não era para o “seu bico” (conforme palavras da mãe
Santana), fizeram-no fugir, ingressar no exército e depois de quase dez anos se
aventurar pela periferia do Rio de Janeiro, onde tocou nas ruas e bares ganhando
gratificações até participar do programa “Calouros em Desfile”, de Ary Barroso.
Perdeu, primeiro, depois, ganhou aplausos pela execução do ritmo nordestino. O
filme segue a fala gravada e vai mostrando a ascensão do músico e sua vida
privada, de um relacionamento com uma jovem dançarina em cabaré (Odaleia Guedes dos Santos, do Dancing
Brasil) o
nascimento do filho, a morte da jovem, um novo relacionamento e o tratamento
doloroso dado a esse filho especialmente pela madrasta.
Seguindo a odisseia do Gonzagão vai-se acompanhando
uma parte da história do Brasil, vendo-se recortes das revoluções dos anos 30
(ele chega a dizer, quando soldado,”era tanta revolução...”, ao tempo em que
procurava fugir disso) ao golpe militar de 1964. Esse tempo todo abriga o drama
do nordestino que insere em músicas como “Asa Branca”(1947) ao lado do ritmo
alegre de “Baião”(1946), “Qui Nem Jiló”(1952) passando por “Paraiba”(1954) e
outros clássicos do ritmo. A interlocução com Gonzaguinha mostra o garoto sofrendo a falta prematura da mãe, a criação que teve com amigos do pai, o tratamento que recebeu da nova mulher do pai, o período de internato, a introdução da música de protesto (que Gonzagão reclama: “-Tás fazendo musica comunista ?”) que lhe deu fama.
O atrito pai e filho é apontado, no filme, com a vantagem de não se tornar parcial a um dos retratados. E a reconciliação no palco é apoteótica. Breno Silveira usa recursos que podem ser criticados por terem envelhecido, mas o abraço dos Gonzaga em contraluz é comovente. E há planos bem colocados como a água no parabrisa da caminhonete na hora em que busca novos ajudantes, Custo de Vida e Salário Mínimo.
Não é fácil realizar um filme biográfico ainda mais quando se prende à homenagem ao biografado. A escolha de atores que geralmente não correspondem fisicamente aos personagens também pode ser um problema. Exemplos que saem desse esquema de estereótipos são raros e o recurso mais viável é agir como no “De Lovely”(2003), filme sobre Cole Porter onde o compositor norte-americano é visto de forma a ser um critico do que se está fazendo, ou seja, metacinema. Mas tanto Chambinho do Acordeon o Nivaldo Expedito de Carvalho (Luiz Gonzaga de 27 a 50 anos) e Júlio Andrade (e 35 a 40 anos), Adélio Lima (Luiz Gonzaga, 70) e Julio Andrade (Gonzaguinha) dão conta dos tipos e do protagonismo no filme.
O cinema de Breno Silveira está sendo desconsiderado por uma certa ala da crítica de cinema por levar à busca da emoção. Foi isso o que norteou “Os 2 Filhos de Francisco”, “Era Uma Vez” e “À Beira do Caminho”. Em “De Pai pra Filho” este objetivo chega ao seu ponto mais alto, mas dentro de uma visão determinada pela odisséia de um e a apoteose de outro. Quem acompanhou a trajetória de Gozagão através de suas gravações emociona-se com a linha expositiva, mas forte, do roteiro. O cineasta desenvolve um aspecto dramático que pode ser acusado de melodrama. E daí? Hoje o norte-americano Douglas Sirk é cultuado. A viagem ao interior do Brasil mostrando que também somos brasileiros como o fez Gonzagão com sua música é uma fórmula interessante, sem ser só isso, pois traduz um aspecto narrativo que projeta o percurso do personagem desses brasis.
O filme emociona pelo ímpeto contraditório da relação afetiva que Breno mostra sem meias palavras entre pai e filho. E o fecho é magistral com a canção “O Que É o Que É”, de Gonzaguinha, apontando o significado do conceito de viver (“viver ... a vida podia ser bem melhor e será... não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita”). Imperdível!
Oi, Luzia!
ResponderExcluirGostei demais desse filme sobre o mestre Gonzagão. É um filme pop, porque o velho Lua era pop, brasileiro pacas, com roteiro enxuto, dinâmico, sustentado por um elenco bem afiado/afinado.Emociona, é bom de ver, e reflete um Brasil que nos dá saudade. Longe dessa mania de neo/tecno/chanchada (?) e de fazer filme em inglês (arre!!!). Também li a crítica, muito bem feita, de Pedro Veriano. Parabéns a vocês dois.
Abraços,
Ricardo secco